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Hipnose: entenda o método e conheça os benefícios para seu bem-estar

Especialistas estão acostumados: levam no mínimo 15 minutos da consulta desfazendo conceitos distorcidos sobre a hipnose, e explicando os benefícios e a seriedade do método

Por Kátia Stringueto
Atualizado em 20 dez 2016, 20h54 - Publicado em 5 jun 2012, 19h35
hipnose

É provável que você diga não se lhe for sugerida uma sessão de hipnose. E por boas razões. Para nós, brasileiros, ainda há muita insegurança orbitando esse território. Menos por culpa do procedimento e mais pelo uso indevido que se faz dele – a chamada “hipnose de palco”, que se provou um desserviço à humanidade ao expor pessoas em situações constrangedoras. O descrédito com o método vem daí. Do medo de perder o controle e ficar completamente suscetível aos mandos e desmandos de um Mandrake. Esse é um lado da história.

 

O outro, e que um público menos numeroso conhece, é que há uma hipnose do bem sendo praticada por médicos, psicólogos e dentistas, com real ganho para nossa saúde. Essa não tem nada de obscuro. Ao contrário, seus efeitos estão sendo investigados à luz da ciência. Nos Estados Unidos, pesquisas na Universidade Harvard demonstraram que o transe hipnótico pode diminuir o estresse de mulheres que vão se submeter a uma biópsia. No Memorial Sloan-Kettering Cancer Center, um dos centros de tratamento de câncer mais respeitados do mundo, com sede em Nova York, os médicos ensinam a auto-hipnose ao paciente como meio de reduzir o enjoo típico da quimioterapia.

Aval da ciência

 

Aqui no Brasil, o estudo mais recente, publicado no ano passado pela revista Radiologia Brasileira, e orientado por especialistas do Hospital São Camilo, provou que ela é um recurso importante para o controle da claustrofobia durante os exames de ressonância magnética.

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A ideia foi do cardiologista Luiz Velloso, que aprendeu a técnica num curso no Hospital das Clínicas, de São Paulo. “Frequentemente sou procurado por pacientes que precisam ser sedados para fazer a ressonância magnética. Alguns desmaiam somente em ver o aparelho. A sedação, contudo, prejudica o bom resultado do exame porque, durante o procedimento, é preciso que o paciente siga algumas instruções, como prender a respiração por alguns segundos. Sedado, ele simplesmente dorme e não colabora. Por tudo isso, pensei em usar a hipnose”, diz Velloso.

 

O sucesso – 90% dos pacientes claustrofóbicos hipnotizados conseguiram fazer o exame – levou a equipe a ampliar a pesquisa. “Agora, estamos aplicando o método em doentes com infecções graves que precisam entrar na câmara hiperbárica (uma cabine fechada que libera alta concentração de oxigênio para o combate às bactérias)”, afirma.

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Reconhecida pelos conselhos federais de medicina, psicologia e odontologia – é bom deixar claro -, a hipnose médica é um coadjuvante no tratamento de diferentes males. Especialmente os de origem psicossomática, como ansiedade, fobia, dores crônicas ou agudas. “Em muitos países, a credibilidade da hipnose é alta. Por aqui, ainda prevalece certa rejeição por parte de médicos e pacientes. É uma pena porque o método realmente é interessante e efetivo”, diz Paulo de Tarso Lima, responsável pelo setor de medicina integrativa do Hospital Israelita Albert Einstein. “Mas também é verdade que faltam bons profissionais a quem acessar e os que existem estão na universidade.”

Sem preconceito

 

Por causa do interesse científico, aos poucos a resistência ao procedimento vai sendo substituída pela informação. “Antes de tudo, é preciso esclarecer que hipnose é um processo fisiológico natural que ocorre várias vezes no nosso dia a dia. Acontece, por exemplo, quando você está embarcando no sono e quando está acordando devagarinho. Ou ainda, quando você liga o carro e, sem perceber como, chega ao destino”, diz a psicoterapeuta Isabel Labate, que faz uso da indução hipnótica há 25 anos e coordena um curso de extensão sobre o assunto na PUC-SP.

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“Não bater o carro durante o percurso indica que você não caiu em sono profundo; sabe que está ao volante, mas com o foco em outro lugar”, afirma Isabel. Essa constatação derruba um dos maiores temores em relação à técnica: o paciente se mantém consciente e, portanto, não fará nada forçado. “O que propicia a indução e a manutenção do estado hipnótico é a empatia entre o paciente e o psicoterapeuta, e uma relação de confiança estabelecida muito antes da sessão. Se durante o transe o hipnotizador falar algo que agrida os valores, os princípios e a moral do paciente, como a atenção e a memória dele estão alertas, ele cortará imediatamente a ligação. Entrará em sono profundo ou acordará imediatamente.” Ou seja, prevalece a vontade do paciente. Só existe transe hipnótico quando ele está disposto a seguir a orientação do terapeuta.

 

No transe induzido, o paciente é convidado a tirar o foco de uma área – estímulos externos, por exemplo – e prestar mais atenção em outra – como as sensações que vêm do corpo. E quando a atenção não fica pulando de um lugar para o outro, o mergulho em memórias reprimidas e cristalizadas é mais provável e mais profundo. Daí a importância da experiência e da idoneidade do hipnotizador, que poderá mexer em registros preciosos e sugerir ao cérebro algumas mudanças – algo como trocar o chip ou desmantelar uma ideia fixa.

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Com exames modernos como o PET Scan e a tomografia funcional, hoje, finalmente, constata-se que durante o transe pode haver uma modificação da informação cerebral. Justamente por isso é possível, por exemplo, usar a hipnose no controle do peso, dizendo a alguém num momento de transe que a partir daí ela vai comer mais alimentos saudáveis e se sentir satisfeita com apenas algumas garfadas. Da mesma maneira, o estímulo pode valer contra o cigarro e o álcool. Mas não se trata de milagre. “Hipnose é a indução a uma convicção. Tem de ter alguma lógica para o paciente, ir de encontro a suas convicções ou nada feito”, afirma Luiz Velloso. Além disso, sozinha, a técnica não oferece garantia de sucesso. É necessário conciliá-la com outras providências. No caso do cigarro, o uso de adesivos ou medicamentos que também cuidem da abstinência química. Quando se trata de um problema psicológico, a parceria certa são as terapias.

 

Como toda ferramenta, é preciso habilidade e responsabilidade para manusear a indução hipnótica. Para começar, nunca se deve tratar por meio dela aquilo que não se trataria sem ela. Ou seja, quem não é médico, psicólogo ou dentista não pode tirar a dor, tratar uma fobia ou mudar um comportamento. “Isso caracteriza exercício ilegal da medicina”, diz Marlus.

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Contraindicações

 

O transe é proibido para pacientes psicóticos, por exemplo, porque pode desencadear uma crise. No caso de atletas que tentam abolir o cansaço e superar seus limites, a prática pode causar lesão por overtraining. E, finalmente, remover um sintoma sem saber a que ele serve é, no mínimo, uma má conduta. “A pessoa responde mais facilmente aos estímulos quando está em transe. Então, se relata uma dor crônica em forma de pontadas, posso mudar a sensação para a de peso, depois uma discreta dormência perfeitamente suportável, o que é interessante e útil”, afirma Colás. O que não se pode fazer é ir além e eliminar o desconforto, enquanto a causa não for identificada. “Seria o mesmo que retirar a dor de dente e não perceber que o canal está infeccionado”, diz o especialista.

 

Essa prudência deve ser a base de todo o tratamento. Por isso, é necessário buscar a indicação de um hipnoterapeuta com um médico de confiança e checar se o profissional é ligado a alguma universidade ou hospital de inequívoca credibilidade. É bom saber que apenas 10% da população é hipnotizável numa primeira tentativa – e estranhe se o terapeuta quiser aplicar o método logo na primeira consulta.

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