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Conheça os segredos do taoísmo, a base da filosofia oriental

Encontro com o sábio chinês: com frases enigmáticas e cheias de significado, Lao Tzu, que viveu há 3,2 mil anos, revelou lições de simplicidade, humanidade e alegria

Por Liane Camargo de Almeida Alves
Atualizado em 20 dez 2016, 18h48 - Publicado em 15 abr 2013, 14h32
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Quando completou 80 anos, Lao Tzu (também conhecido como Lao Tsé) resolveu abandonar seu trabalho como funcionário dos arquivos imperiais e se retirar definitivamente para as montanhas. Ao passar pela fronteira que separava o antigo território chinês do Tibete, um guarda o interpelou sobre suas intenções. Ao contar um pouco de sua vida e do que pensava, o guarda percebeu que o viajante era homem de grande conhecimento. Como condição para deixá-lo atravessar, pediu que escrevesse um resumo de sua sabedoria antes de seguir para seu retiro. Relutante, Lao Tzu acabou concordando e escreveu, em poucas páginas, os 5 mil ideogramas de um livro que revolucionou a história da filosofia: o Tao Te King, ou o Tratado do Caminho da Virtude. Sintético, quase lacônico, o Tao Te King resume os princípios taoístas. Os 81 pequenos trechos dessa obra explicam como o homem deve agir diante dos fatos da vida para alcançar a felicidade e a realização plenas.

O que é o tao?

 

Para ser feliz, diz Lao Tzu, o ser humano deve aprender a seguir o tao, isto é, o fluxo da energia divina que envolve a todos nós e a tudo que há no Universo. Porém o sábio faz um lembrete enigmático, como é comum na filosofia oriental, já nas primeiras linhas de seu texto: o tao que pode ser definido ou explicado não é o tao. Portanto, só podemos ter uma idéia aproximada desse conceito, pois nossa mente é incapaz de alcançar seu significado completo. O holandês Henri Borel, autor do pequeno livro Wu Wei, A Sabedoria do Não-Agir (ed. Attar), descreveu um diálogo imaginário, entre um homem vindo do Ocidente e Lao Tzu, no qual o velho sábio explica o significado do tao. Diz ele que o conceito se aproxima muito de nossa compreensão do que seja Deus – o princípio invisível sem começo nem fim que se manifesta em todas as coisas. Estar em harmonia e ser feliz é saber fluir com o tao. Ser infeliz é estar em conflito com essa força, que tem seu próprio impulso. Como diz um ditado ocidental: “Deus escreve certo por linhas tortas”. Seguir o tao é saber aceitar esse movimento, mesmo que não coincida com nossos desejos imediatos. As palavras de Lao Tzu são um convite para agir com humildade e simplicidade diante dessa força organizadora maior. Já que, para os taoístas, nossas ações harmoniosas dependem da sintonia com essa música do Universo. A cada passo, é melhor seguir essa melodia, em vez de ficar brigando com ela. “Para isso, é importante estar atento ao que acontece a nosso redor, identificando a direção da energia, percebendo se é o momento de agir ou se retrair”, explica Hamilton Fonseca Filho, sacerdote e professor da Sociedade Taoísta do Brasil, com sede no Rio de Janeiro.

Simplicidade e respeito

 

“O tao se manifesta em quatro fases: nascimento, amadurecimento, declínio e recolhimento. Nossa existência e nossos relacionamentos obedecem a essa lei universal”, diz o sacerdote taoísta. Isto é, para saber como agir é necessário saber em que fase estamos. “Isso é possível com a prática da meditação. Ela abre o caminho da percepção mais refinada e passamos a agir com mais equilíbrio e harmonia”, afirma o religioso.

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Boa saúde, boa percepção

 

Para ajudar a identificar o fluxo do tao, o corpo também deve ser constantemente reequilibrado. “Medicina chinesa, acupuntura, artes marciais, alimentação baseada nos alimentos que equilibram as energias yin (feminina) e yang (masculina), todas essas práticas tiveram origem no tao, para que o homem tenha saúde e condições de identificar esse fluir do Universo”, ressalta Hamilton Fonseca Filho, que também é acupunturista.

Mensagens do mestre

 

Escolhemos alguns ensinamentos de Lao Tzu que podem nos dar a chave para harmonizar nossa vida e nossas relações. As frases originais, extraídas do Tao Te King (ed. Attar), foram comentadas por Hamilton Fonseca Filho, professor da Sociedade Taoísta do Brasil.

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Quem conhece os outros é inteligente.

Quem conhece a si mesmo é iluminado.

Quem vence os outros é forte.

Quem vence a si mesmo é invencível.

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Quem sabe estar satisfeito é rico.

Quem segue seu caminho é inabalável.

Quem permanece em seu lugar perdura.

Quem morre sem deixar de ser

conquistou a imortalidade.”

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Comentário: Essas palavras sinalizam a todo momento como e onde o homem deve empregar sua energia. Os esforços direcionados para o autoconhecimento e a percepção da necessidade de mudança de atitude sempre nos alimentam. Quem conhecer a si mesmo saberá quais são seus limites, capacidades e prioridades e se tornará invencível. A verdade, nos segreda o sábio chinês, é que podemos ser felizes.

 

Uma árvore que não pode ser abraçada nasceu de uma raiz fina como um fio de cabelo.

Uma torre de nove andares é edificada sobre um montículo de terra.

Uma viagem de mil léguas começa com um passo.”

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Comentário: As grandes mudanças começam com pequenos gestos. Isso vale para tudo que fazemos e principalmente para trilhar o caminho espiritual. Para ocorrer uma transformação profunda, é preciso perseverar na mesma direção, sem imediatismo. Se ficamos pulando de um caminho a outro, não saímos do mesmo nível, não aprofundamos a busca.

 

Um furacão não dura toda manhã.

Uma tempestade não dura o dia inteiro.

E quem os produz? O Céu e a Terra.

Se o Céu e a Terra não podem fazer o excessivo

perdurar, como pode o homem fazê-lo?”

Comentário: Tudo o que é excessivo acaba logo e vivemos em uma sociedade onde somos estimulados ao excesso e ao apego a objetos e pessoas. A falta de compreensão de que tudo é passageiro, impermanente pode ser a fonte de muita frustração. A sabedoria está em escolher o que é melhor para nossa saúde e dar prioridade ao que alimenta nossa essência, mesmo que seja necessário abrir mão dos excessos. Vale sempre questionar como elegemos nossas prioridades e aceitar que tudo passa.

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