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Como praticar meditação tibetana

Da relação entre o aluno e seu guia espiritual, o lama, surge a possibilidade de ultrapassar os obstáculos mentais, erradicar o sofrimento e espalhar a bem-aventurança.

Por Texto: Raphaela de Campos Mello | Foto: Kesipun/Shtterstock
Atualizado em 20 dez 2016, 18h29 - Publicado em 30 abr 2014, 18h31
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O budismo floresceu no Tibete, território incrustrado no nordeste da Cordilheira do Himalaia, sob o domínio da China desde a década de 1950, após a chegada do guru indiano Padmasambhava no século 8. A convite do rei vigente na época, ele fundou as bases da tradição disseminada no Brasil por S.E. Chagdud Tulku Rinpoche (1930-2002), mestre da escola Nyingma, que viveu em solo brasileiro de 1995 até sua morte. Seu legado é reverenciado por aqueles que vivenciam o dia a dia do belo Centro de Budismo Tibetano Vajraiana Odsal Ling, em Cotia, na Grande São Paulo. Aliás, o termo vajraiana, “caminho secreto, muito veloz”, revela uma peculiaridade dessa vertente.

Segundo Lama Tsering Everest, diretora do complexo, qualquer aluno que se dedicar seriamente às práticas tem condições de alcançar a iluminação em uma única existência, ao passo que por outros caminhos budistas essa meta pode demorar muitas vidas para ser atingida – sim, os tibetanos acreditam em reencarnação. “Essas ferramentas são poderosas, por isso dizemos que elas aceleram o processo de iluminação”, frisa a diretora.

Outra especificidade dessa corrente é o fato de que a evolução do praticante se ancora na relação com o lama. Em tibetano, “la” significa mãe e “ma” elevado. Assim como uma mãe cuida e ensina seu filho tudo o que sabe, o lama oferece o cuidado mais elevado a seus discípulos. É por isso também chamado de professor. Pleno de amor, conduz o aprendiz pela trilha espiritual, sistema chamado de iniciação. Recomenda meditação, visualizações, oferendas, bem como recitação de mantras e preces e leitura de textos sagrados de acordo com as demandas de cada aluno. Em comum, essas técnicas se prestam a liberar a mente dos cinco venenos: raiva, apego, ignorância, inveja e orgulho, causas de todos os sofrimentos. “Alguém com olhos tortos verá o mundo distorcido. Mas o mundo não está distorcido, os olhos é que estão. A prática meditativa leva à correta visão, que, implementada pela ação, influencia positivamente as pessoas e o entorno”, explica Tsering. Dessa maneira, garante a lama, é possível purificar o carma, ou seja, mudar hábitos, e também acumular qualidades e hábitos positivos. A meditação tibetana se compõe de três fases fundamentais – seguidores reservam uma hora diariamente e iniciantes de dez a 20 minutos. Primeiro, se estabelece a pura motivação: a percepção de que ao mudar o modo de funcionamento da mente erradica-se o sofrimento e espalha-se bem-aventurança. Em seguida, vem a prática em si, estágio que requer iniciação, pois o aluno terá de executar as ferramentas indicadas pelo lama. A terceira e última etapa é a dedicação do mérito. “Mentalizamos que qualquer poder ou sabedoria adquiridos por meio da prática, bem como insights acerca da verdade pessoal ou da natureza do mundo, possa beneficiar todos os seres”, esclarece Tsering. Segundo Priscila Veltri, voluntária no Templo Odsal Ling, a interiorização e os ensinamentos transformam a lente através da qual enxergamos a realidade. “A vida é um espelho. Tudo o que se percebe é reflexo da mente. Tal compreensão nos retira da posição de vítima e traz a responsabilidade por nossas escolhas”, afirma.

Entre as diversas condutas budistas tibetanas que requerem aprofundamento, há uma exceção, a Tara Vermelha, meditação indicada para leigos. Ela se volta para a deidade Tara, aspecto feminino de Buda, cultuada por libertar os seres de quaisquer medos geradores de sofrimento, evocando, assim, o estado desperto natural. S.E. Chagdud Tulku condensou a essência dessa prática num texto dividido em dois níveis: o primeiro, que dispensa iniciação, sugere a visualização da deusa no espaço à frente; o segundo se dirige aos iniciados nos estudo da tradição.

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Procedimentos básicos

– Sente-se com as pernas cruzadas e a coluna ereta, feche os olhos e firme a intenção de que a prática beneficie todos os seres.

– Recite três vezes a prece Djetsun, que diz: “Ó ilustre Tara, por favor, tenha consciência de mim. Remova meus obstáculos e rapidamente conceda minhas excelentes aspirações”.

– Visualize Tara como se ela estivesse no recinto, diante de você. A imagem deve ser radiante, de maneira que sua luz alcance todos os seres vivos por igual. o meditante pode focar a atenção tanto no plano geral como em algum detalhe da representação: ornamento, adereço, gesto da mão.

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– Permaneça dentro do fluxo da meditação por cerca de dez a 20 minutos, pela manhã ou ao entardecer, sem se perder na direção dos pensamentos, distrações sensoriais e emoções. Deixe que eles se dissolvam naturalmente e volte a fixar-se na imagem de Tara. A bênção infinita da deidade dissipa a força da desilusão (visão distorcida da realidade) e propicia o reconhecimento da natureza búdica intrínseca da mente.

– Por fim, dedique o mérito da prática ao bem-estar de todos os seres.

 

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