Perfil: as várias cores e traços de Carol Wang
Em uma conversa com o Casa.com.br, a artista dividiu suas experiências, trajetórias e processos criativos.
“Acho que cada novo projeto que chega para mim eu encaro como sendo o mais desafiador”, conta a artista plástica Carol Wang. E não é para menos. Sua empreitada mais recente, que viralizou nas redes sociais, é o primeiro restaurante 2D da Hello Kitty preto e branco do mundo, que está sendo criado em São Paulo. O projeto envolve o contorno dos interiores e de tudo que está ali dentro – das cadeiras até o ar condicionado – para dar o efeito de desenho.
Em uma conversa com o Casa.com.br, a artista dividiu suas experiências, trajetórias e processos criativos.
Carol nasceu em Londrina, no interior do Paraná, já cercada pelas artes. Seu pai, o artista plástico David Wang, e o restante da família estavam envolvidos com música, pintura, tatuagem, design gráfico e fotografia. Aos 17 anos ela se muda para São Paulo para cursar Design Gráfico na Faculdade de Belas Artes.
Diante dos desafios que os artistas encontram hoje, Carol aconselha seguir aquilo que mais te empolga.
“Acho que é uma questão da pessoa descobrir o que ela gosta de fazer e ir fundo nisso. Quando você faz alguma coisa e vem aquela sensação de ‘o tempo passou muito rápido’ ou ‘eu aproveitei muito o tempo’, ‘me senti muito feliz’, esse é o caminho. Quando eu pinto eu esqueço a hora eu me sinto muito conectada comigo. Acho que esse é o maior segredo. A gente pode se inspirar sim nas outras pessoas, mas o caminho do artista não é todo igual (…) Temos que ir com confiança, fazer nossa arte e sempre buscar aprender e melhorar.”
No caso dela, são muitas paixões. Com simpatia e entusiasmo, ela conta que adora experimentar coisas novas, então seus trabalhos são dos mais variados: de pinturas e esculturas, passando por colaborações com lojas de roupas e calçados, murais em aeroportos e até mesmo tatuagens.
Essa curiosidade encontra respaldo na postura ativa de aprendizado técnico. Quando perguntei como ela lidava com o dilema entre as lições formais e seu próprio estilo, Carol explica que quanto mais técnicas se domina, maior são suas possibilidades de expressão.
“Independente do nosso estilo, é importante aprender a técnica porque, se você quiser expressar algo, vai conseguir executar. Sobre seguir um estilo, eu sigo muito mais a emoção que um estilo só. Por exemplo, quero fazer uma escultura homenageando alguém, eu sigo esse sentimento e tento traduzir isso em arte. Eu gosto de estudar e aprender todos os tipos de técnicas. Não quero me limitar, quero aprender e conhecer mais ”
Ao refletir sobre seus processos criativos, a artista comenta que quando começou a produzir conteúdo para redes sociais em vídeo, mostrando o “making of” de cada trabalho, ela se sentiu mais próxima das pessoas. No final, as histórias que cercam cada peça acabam se transformando em parte da arte.
“Eu acredito que o processo da arte é muito importante, não só o resultado final. Quando comecei a compartilhar nas redes sociais sobre mim, sobre o processo e não somente o trabalho pronto, me senti muito mais conectada com as pessoas e acho que as pessoas comigo. É uma troca de informações, o pincel que eu uso, as coisas que acontecem durante a pintura.”
Ela nos contou sua saga ao pintar um mural no aeroporto de Guarulhos. “Eu fui pintar no aeroporto de Guarulhos, e a tinta vazou por todos os lados! Isso acontece! Eu filmei, registrei e na hora vem o desespero, mas depois, quando passa, a gente percebe que faz parte do processo. Nem tudo vai ser perfeito, tem histórias para contar!”
Quando questionada sobre como é o percurso mental de cada obra, Carol conta que divide em dois momentos, um de “convergência” e outro de “divergência“. O primeiro é um brainstorming em que ela explora livremente todas as possibilidades que aquela peça pode ter; o segundo é o momento de separar as ideias e pensar em como realizá-las.
“Na ‘convergência’ eu abro a minha mente e jogo todas as ideias. Não importa o quê venha, não me limito em nada. Na segunda parte, que eu chamo de ‘divergência’ é o momento que eu vou começar a filtrar: o que serve, o que eu consigo fazer. É a hora de ser prático, pensar no que eu aprendi, ou então pensar no que eu posso aprender.”
As conversas com os clientes e o próprio assunto a ser retratado também podem fazer parte da concepção.
“Quando vou pintar um pet, por exemplo, sempre peço fotos, muitas fotos, uma descrição e, se der, um vídeo. Depois, a gente define uma cor que representa o bichinho. Tem os que são azuis, com personalidade mais calma. Outros têm um fundo super colorido! Cada um tem uma personalidade.”
Os animais, aliás, são uma grande constante no acervo de Carol. Desde pequena ela possuía uma relação especial com os bichinhos e pintá-los é algo que ela adora. Inclusive, na parede de seu ateliê, durante e entrevista, uma grande tela da Frida, sua companheira, nos acompanhava.
“O bairro que nasci tinha muitos cachorrinhos abandonados. Eu era aquela criança que pegava eles, ia para a escola, fazia rifa para juntar dinheiro para ração, levar no veterinário e depois tentava dar um lar (…) Quando vim para São Paulo, pensei ‘o que eu vou pintar?’ e escolhi pintar algo que gosto. Assim eu comecei a pintar os bichinhos. Até hoje, o que eu mais gosto de pintar são os animais”. Ela continua a apoiar as iniciativas de resgate e adoção, já que sabe das dificuldades.
No ano passado, Carol recebeu um convite mais do que especial: ser apresentadora do programa Art Attack que está retornando no Disney + com um novo formato.
“Quando me chamaram, foi um choque! Eu estava pintando uma parede, a 6m do chão, quando me ligaram. Eu chorei, para mim foi algo grandioso! Foi uma experiência incrível, nós ficamos quatro meses gravando na Argentina e os episódios vão ser lançados este ano. É uma felicidade e grande responsabilidade passar para as crianças algo que foi importante para mim quando eu era criança.”
Durante nossa conversa foi difícil pensar em algo que Carol ainda não tenha feito, mas para finalizar, perguntei sobre seus planos para o futuro, ou algo que ela deseja fazer e ainda não fez.
“Eu tenho um grande sonho de pintar uma empena!”. A empena é a parte externa das paredes de prédios, aquela face que não tem janelas e que pode ser ocupada por alguma publicidade ou intervenção artística. “São Paulo é uma das cidades que mais tem empenas, e esse é um dos meus grandes sonhos, poder pintar um prédio.”
Tenho certeza que veremos muito mais de Carol Wang por aí, seja na televisão, nas paredes das ruas, em restaurantes temáticos, em galerias de arte e, sem dúvida, nas empenas dos prédios de São Paulo.
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