Cemitério periférico de SP é pioneiro na arquitetura de acolhimento
O cemitério Parque das Cerejeiras é o primeiro pensado não somente para quem se vai, mas para quem fica também
A arquitetura tem o lindo trabalho de edificar e solidificar um conceito em algo concreto e magnífico, capaz de dar novos significados e experiências. Se pararmos para olhar, tudo é arquitetura. E é ela quem pauta diversos ramos da nossa vida, inclusive a morte.
As tendências surgem e, nos dias atuais, trazem conceitos mais humanos e nos fazem refletir e repensar sobre toda a nossa existência. O que pode ser um tabu, ou um grande medo, é algo que deve ser encarado com tranquilidade e de forma mais humanizada. E estou falando da morte.
Por isso, uma nova forma de enxergar os cemitérios do país tem tomado forma de alguns desses locais fúnebres, mas que não precisam ser mórbidos, transformando-os em espaços de contemplação, paz e serenidade.
Em São Paulo, por exemplo, há o Parque das Cerejeiras, um cemitério localizado no Jardim Ângela, periferia da zona sul da capital paulista, que tem como filosofia e premissa ressignificar o luto.
Toda a construção foi pensada para ser um espaço vivido pela comunidade, como um parque, e conta com diversos elementos que estimulam a comunidade a passear e a frequentar a área.
Obras de arte, esculturas, espaços de meditação, velário a céu aberto e mirante para apreciar a paisagem são alguns dos elementos. O projeto de revitalização do Parque das Cerejeiras é de autoria da arquiteta Crisa Santos, especializada em neuroarquitetura com foco em arquitetura do acolhimento.
E aí você me pergunta: “o que é isso?”. Entre tudo o que permeia o termo, um dos principais itens está em cuidar do enlutado, ou seja, de quem ficou aqui. Parte deste processo está completamente relacionado no sentindo de acolher quem fica, que vai desde ter um lugar menos fechado, enclausurado, para passar pelo processo (velório, enterro e jazigo), até o fato de se preocupar com as visitas dos parentes, que encontram um lugar mais agradável, onde existam pontos de descanso, contemplação e ar livre, ou então um espaço especial para fazer suas orações.
O cemitério, de 300 mil metros quadrados de área, tem a arquitetura abraçada pela natureza em uma simbiose perfeita, ressignificando o contato do ser humano com as suas sensações mais instintivas, a fim de restabelecer o luto de forma mais natural, através da prática da biofilia.
“A neuroarquitetura se utiliza de ciência para criar projetos que criam sensações e percepções, provocando emoções aos usuários, visa o aumento de consciência e compreensão dos impactos da arquitetura sobre o cérebro e os comportamentos humanos”, explica Crisa Santos.
O resultado desse trabalho é a contratação de Crisa para a revitalização de em sete cemitérios no Rio de Janeiro. Os trabalhos estão em fase inicial, começando pelos cemitérios do Caju e São Francisco Xavier. Em seguida, serão iniciadas as obras em Ricardo Albuquerque, Santa Cruz, Guaratiba, ilha do Governador (Cemitério Cacuia), ilha de Paquetá, Realengo (Cemitério do Murundu).
Veja mais fotos do projeto na galeria abaixo:
Fotos: Lucas Fonseca, Íris Oliveira e Marcelo Oseas