Três perguntas para Sou Fujimoto
Tema de exposição em São Paulo, o arquiteto japonês fala sobre o futuro das cidades

Em cartaz até o dia 04 de fevereiro, na Japan House, a mostra Futuros do Futuro, do arquiteto Sou Fujimoto, surpreende. No primeiro piso do edifício, 70 objetos cotidianos foram colocados como peças de arte, como um montinho de batatas chips (daquelas prontas, de saquinho) empilhadas cuidadosamente sobre um totem de madeira que remetem à imagem de uma sucessão de colinas. Embaixo, a legenda: “Deveria ser possível fazer arquitetura como se fazem montanhas”. O andar superior é palco para 50 maquetes que resumem seu trabalho. Um dos mais inventivos de sua geração, Sou chamou a atenção em 2011, quando concebeu a Casa NA, um mix inquietante de espaços abertos e fechados. Também é sempre lembrado por seu desenho para o Serpentine Pavilion, em Londres, em 2013, uma estrutura vazada onde os visitantes pareciam flutuar. Em sua quarta passagem pelo Brasil, ele conversou com ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO e falou sobre suas ideias para o futuro. Confira!

Se olhamos para as cidades de hoje, que futuro estamos moldando? E suas obras?
Não posso afirmar: isto será o futuro. Espero que ele seja cheio de diversidade e, por isso, a imaginação é tão importante. Uma mesma ideia pode ter dez formas diferentes de desenvolvimento, centenas de possibilidades. Espero que essa diversidade dê às pessoas liberdade de escolha, criando lugares onde seja possível aproveitar a vida. A questão natureza x arquitetura é de especial interesse para mim: como oferecer construções que permitam a convivência com o ambiente natural, não apenas o artificial? Minhas obras expressam um futuro positivo, a mensagem de que podemos inventar coisas mais emocionantes e ser mais livres.

Como nascem seus projetos?
Há dois processos diferentes: um bem tradicional, com pesquisas de clima, leis, contexto, orçamento; e outro de ideias malucas, com o objetivo de expandir as possibilidades da arquitetura e do design. Depois, essas duas etapas são integradas. E integrar não é se comprometer, é mais como se jogar em outro nível para encontrar a solução. No final, buscamos reunir diversidade e simplicidade, artificial e natural. Investigar a relação entre o corpo humano e o espaço é um fundamento para mim, presente em projetos como o Serpentine Pavilion, cuja estrutura resultou em algo incomum, sem paredes, muros ou colunas. É como redefinir o lugar para as pessoas sem lançar mão das tipologias usuais da arquitetura.
Nesta sua visita ao Brasil, você postou fotos em seu Instagram de um jogo de futebol, fios emaranhados, a cobertura da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Como descreveria a experiência aqui?
É ainda tudo muito novo e fresco, mesmo já tendo estado aqui antes. E as novidades são o ponto de partida para a criatividade. Gosto de visitar os clássicos da arquitetura, mas também aprecio essas cenas não necessariamente da profissão, elementos nascidos no dia a dia, às vezes por acidentes de percurso. Adoro Oscar Niemeyer, Vilanova Artigas, Lina Bo Bardi, Paulo Mendes da Rocha. É impressionante observar a proporção dessas obras em relação ao modernismo europeu: são mais esticadas, parecem fluir devagar… Um exemplo é a marquise do Parque do Ibirapuera, de Niemeyer. Ela é enorme, mas ao mesmo tempo relativamente baixa, capaz de se relacionar com o corpo humano, obtendo um diálogo entre a grande escala e uma sensação intimista.