Projeto de arquiteto renomado foi restaurado para receber nova família
Obra de Milton Ramos (1929-2008) em brasília, esta casa da década de 70 acolheu por mais de 40 anos seus donos originais
Por Silvia Gomez
Atualizado em 9 set 2021, 10h59 - Publicado em 15 Maio 2018, 12h15
Quando ficou pronta, em 1974, esta era mais uma residência entre tantas obras modernas de Brasília. Hoje, em 2018, ganha a importância de joia de uma determinada época. E há vários motivos para isso, a começar por seu autor, Milton Ramos (1929-2008), arquiteto presente na equipe da construção de inúmeros edifícios erguidos nas primeiras décadas da capital federal, entre eles o Palácio Itamaraty, de Oscar Niemeyer (1907-2012), concluído em 1970.
“Ele trabalha muito com o concreto aparente e possui uma abordagem racionalista, simples e bem-feita, tendo criado obras adequadas ao clima e à cidade, sempre em relação com a rua”, analisa o arquiteto responsável pela reforma, Daniel Mangabeira, do BLOCO Arquitetos Associados, cujos outros integrantes são Henrique Coutinho e Matheus Seco. Posta à venda pela primeira e única moradora até então – a esposa do engenheiro que foi parceiro de Milton Ramos em seus projetos –, a casa assistiu a toda a trajetória da família até que os cinco filhos cresceram, mudaram-se e o espaço de repente pareceu grande demais.
“Achei a arquitetura perfeita, clara e reta, quartos voltados para o nascente, ambientes iluminados. A dona já tinha recusado propostas que ameaçavam descaracterizar tudo. Mandei um e-mail dizendo que honraria o legado da casa e que desejava ser tão feliz ali quanto eles foram”, conta o atual proprietário, um advogado apaixonado por arquitetura. E assim foi feito. No processo, algumas descobertas excitantes, como o caso do espelho-d´água da fachada principal. “Ele havia sido enterrado e a área gramada. Pegamos fotos antigas para guiar sua recuperação”, diz Daniel. No interior, uma vez descascadas, as paredes estruturais brancas revelaram a marca das fôrmas do concreto.
“Isso foi uma surpresa que apareceu quando quebrávamos um trecho para passar instalações. Não era algo qualquer, mas uma ranhura especial, por isso resolvemos deixá-la totalmente aparente.” No piso, conseguiu-se ainda aproveitar as raras pranchas de ipê maciço, cada uma com quase 9 m de comprimento. “Trata-se de uma arquitetura muito bem pensada, nos restava apenas restaurá-la e atualizá-la às necessidades da nova família, com dois filhos pequenos”, afirma Daniel. Tudo pronto para mais uma história, outra vez.