A charmosíssima Trancoso vive seduzindo forasteiros. Entre eles, cinco irmãos que fizeram esta casa para o lazer da família. Os proprietários são paulistanos e o arquiteto é carioca, mas a construção respira o melhor da tradição local
Por Texto: Cristiane Teixeira | Visual: Marjory Basano
Atualizado em 9 set 2021, 13h19 - Publicado em 23 fev 2017, 15h00
Cajueiro, oiti, biribazeiro e outras árvores originais do terreno produzem uma sombra generosa na faixa gramada que vai da casa à praia. Para que não atrapalhassem a vista do mar, tiveram os galhos mais baixos podados. Note como a varanda coberta evita que o sol incida diretamente sobre a fachada, aplacando o calor que pode chegar aos 37 ºC no auge do verão.
(Foto: Marco Antonio/)
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Avila tem um feitiço sem farofa / Sem vela e sem vintém / Que nos faz bem / Tendo nome de princesa / Transformou o samba / Num feitiço decente / Que prende a gente.” Trancoso não tem nome de princesa e foi-se o tempo em que vinténs circulavam por seu centrinho, o Quadrado. Mas, tal qual a Vila Isabel de Noel Rosa (1910-1937) – celebrada em Feitiço da Vila –, o vilarejo no litoral sul baiano produz um encanto que prende quem por lá coloca os pés. Os que não ficam para sempre dão um jeitinho de voltar com frequência, e assim a rústica Trancoso descoberta por hippies nos anos 70 foi somando múltiplos sotaques. E, com eles, casas assinadas por arquitetos para gente de todo o Brasil. Esta é uma dessas histórias. Nem a distância de 1 500 km roubou dos cinco irmãos de São Paulo a determinação de realizar uma velha ideia do pai: construir um endereço de veraneio aqui. Inútil querer saber quando tudo começou. “Faz mais de dez anos que meu pai morreu, e foi ele quem pediu o primeiro esboço”, lembra uma filha. Fato é que, há pouco mais de um ano, o refúgio de 557 m2 passou a hospedar, em diferentes momentos, os quase 20 membros do clã, do neto de 9 anos à avó de 85. O projeto criado pelo arquiteto Claudio Macedo levou 18 meses para ser erguido com estrutura de concreto e paredes de tijolos furados. É ideal para fazer frente ao calor intenso, às chuvas que têm período e hora certos para cair e ao vento constante. Carioca que adotou a região há mais de duas décadas, Claudio traçou uma planta espaçosa, por onde a brisa circula a convite das generosas venezianas de madeira, parte delas sem vidro. Na ampla área social, com pé-direito de 4,50 m, o ar aquecido sobe e vai saindo pelo telhado sem forro, coberto com taubilhas de madeira – um daqueles ingredientes típicos de Trancoso, que enfeitiçam.
1/10 A fachada inclui uma larga varanda sombreada à frente de uma sequência de caixilhos com venezianas, quase sempre mantidos abertos. Como os fundos da casa têm feição parecida, a ventilação natural é permanente. Nos pergolados dos quartos crescem ipomeias- -rubras e lágrimas-de-cristo (Foto: Marco Antonio)
2/10 Esta é a visão que se tem da varanda de uma das duas suítes laterais, que compartilham com o restante das áreas íntima e social a paisagem e o ar marítimo. Isso porque foram posicionadas nas extremidades da construção, sem obstáculos à frente. Piscina vestida de pedra hijau (Palimanan) (Foto: Marco Antonio)
3/10 Cajueiro, oiti, biribazeiro e outras árvores originais do terreno produzem uma sombra generosa na faixa gramada que vai da casa à praia. Para que não atrapalhassem a vista do mar, tiveram os galhos mais baixos podados. Note como a varanda coberta evita que o sol incida diretamente sobre a fachada, aplacando o calor que pode chegar aos 37 ºC no auge do verão. (Foto: Marco Antonio)
4/10 Estar, jantar, sala de TV e de jogos formam um ambiente único de 137 m2, com piso de porcelanato italiano 80 x 80 cm (Unique Plomb, da Florim). Os caixilhos de peroba-mica foram encomendados à Escala Nativa (Foto: Marco Antonio)
5/10 A decoração, replicando o jeitão rústico da casa, tem lustres de cipó confeccionados por índios pataxó do distrito de Itaporanga para a Divino’s (Foto: Marco Antonio)
6/10 O pé-direito chega a 4,50 m no vão central, ocupado pela cozinha (ao fundo, na foto) e pela área social. O telhado sem forro tira partido da beleza da estrutura de eucalipto autoclavado (Conservix) e das taubilhas (certificadas pelo Ibama e fornecidas pela Casa da Duna, no Ceará) (Foto: Marco Antonio)
7/10 O artesanato reforça o jeito despojado do lugar: um colorido tapete africano tramado de plástico (Tombuctu Arte Africana) se sobrepõe a uma esteira de dendê feita na Bahia (Foto: Marco Antonio)
8/10 O terreno de 2 430 m2, em um condomínio, fica de frente para a praia. Para que todas as suítes usufruíssem da paisagem, duas delas foram deslocadas para as laterais da planta (Foto: Marco Antonio)
9/10 Minisseixos telados (Palimanan) cobrem as paredes e o piso dos banheiros. Todos têm iluminação zenital e jardim exuberante, montado com espécies como maranta e helicônia-papagaio (Foto: Marco Antonio)
10/10 Um extenso deck de cumaru (Bruno Madeiras), tratado com impregnante Cetol Deck (Sparlack), define as varandas em frente aos quartos. Para proteger quem se senta para relaxar aqui, o pergolado recebeu chapa de policarbonato e forro de talisca de dendê (Valdinei Artesanato), que filtra a luz natural (Foto: Marco Antonio)