Uma reforma minuciosa deu novos ares a este sobrado dos anos 60. Agora materiais orgânicos e elementos construtivos tradicionais emprestam à residência uma atmosfera acolhedora e certo ar campestre, em plena zona oeste paulistana
Por Por Izabel Duva Rapoport (texto) | Projeto LAB Arquitetos
Atualizado em 9 set 2021, 13h57 - Publicado em 16 set 2016, 20h42
Esquadrias de alumínio preto trazem atualidade à fachada, enquanto folhas maciças de cumaru (divididas ao meio, como na arquitetura rural) aludem à ideia de uma fazenda. O telhado, inteiramente restaurado, mantém os beirais à mostra. Não há calhas: a água da chuva cai lá de cima e é absorvida pelo gramado, auxiliar na drenagem.
(Foto: Marcelo Kahn/)
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Detalhes rústicos, ambientes hospitaleiros e a sugestão de um passado cheio de histórias despontam nessa residência dos anos 60 – deteriorada, a casa ganhou reforma do escritório LAB Arquitetos mais de 50 anos depois. O desejo do casal de proprietários e de seus dois filhos era uma mudança que trouxesse conforto à família e integração da vida doméstica ao jardim. “Antiga, a construção apresentava espaços muito setorizados, sem nenhuma conexão entre as áreas internas e externas. A típica configuração de sala de estar, sala de jantar, copa…”, diz o arquiteto Marino Barros, que cuidou da obra de 470 m² no bairro do Butantã, em São Paulo, ao lado do sócio Rodrigo Leopoldi e da arquiteta Valéria La Terza.
Outra diretriz seguida pelos profissionais foi converter a edificação existente em algo com jeito de casa de campo e um quê das pradarias do norte da Argentina, país onde a proprietária, Daniela Malzoni, viveu por 20 anos. O resultado é um conjunto repleto de madeiras de demolição, tijolos à vista e pontuado com inserções de aço corten (de aspecto enferrujado). Não se desperdiçou quase nada. “Os materiais originais ganharam outro uso: as portas foram reaproveitadas e as vigas e caibros da velha edícula, inteiramente demolida, mudaram de função”, conta Valéria.
Em busca de pontos fortes disponíveis para trabalhar, os arquitetos logo descobriram um trunfo: a possibilidade de deixar o telhado aparente – beirais e estrutura. “Fizemos reparos em alguns pontos, trocamos as telhas, colocamos manta de subcobertura, gesso e depois pintamos”, diz Valéria. Para privilegiar a união entre dentro e fora, paredes de alvenaria deram lugar a vidros, e assim o quintal passou a ser visto de inúmeros lugares do térreo. “A sala de estar foi ampliada e agora se desdobra em um pergolado”, descreve Marino. São justamente suas vigas e pilares que apoiam a varanda do pavimento superior, onde quatro quartos viraram três suítes com vista para as árvores do jardim: ipê, jabuticabeiras e camélias.
Daniela, aliás, se encarregou do paisagismo, em parceria com Renata Villar. “A intervenção foi muito sutil. As árvores são eternas protagonistas do espaço”, diz a proprietária. Muretas e gradis vieram abaixo, unindo enfim área de convivência, pátio aberto e churrasqueira, todos com acesso à piscina. Foi assim que a reforma trouxe a desejada “simplicidade elegante”, termo que, para a dona da casa, define a renovada personalidade da moradia.
1/10 Esquadrias de alumínio preto trazem atualidade à fachada, enquanto folhas maciças de cumaru (divididas ao meio, como na arquitetura rural) aludem à ideia de uma fazenda. O telhado, inteiramente restaurado, mantém os beirais à mostra. Não há calhas: a água da chuva cai lá de cima e é absorvida pelo gramado, auxiliar na drenagem. (Foto: Marcelo Kahn)
2/10 A sala de estar parece fazer parte do jardim, uma vez substituídas as paredes por amplas esquadrias (linhas Gold e Suprema, da Brigatto) com vidro laminado. Ao fundo, destaque para a porta principal: a peça de ferro da construção original foi reaproveitada e recebeu tinta preta para um visual mais moderno. (Foto: Marcelo Kahn)
3/10 Na área social, a viga metálica aparente no teto serviu à fixação de spots (na mesma cor) que propiciam iluminação indireta, rebatida no teto. Em nome do aconchego, boa parte da morada recebeu assoalho de peroba de demolição (Pau-Pau Pisos de Madeira), finalizado com resina Bona semibrilho. (Foto: Marcelo Kahn)
4/10 A vista desimpedida do quintal, com suas árvores cinquentenárias, ajuda a compor a ambientação da sala e contribui para o sombreamento e o conforto térmico. De efeito escultural, a lareira metálica suspensa em forma de gota (Construflama) funciona a gás. (Foto: Marcelo Kahn)
5/10 A cozinha ganhou ar de fazenda ao incorporar o charme e a facilidade do cimento polimérico (Tecnocimento, da NS Brazil) no piso e nas paredes. Nos armários, réguas pintadas de branco e puxadores de concha. Ao fundo, porta de madeira de demolição feita com sobras da casa antiga. (Foto: Marcelo Kahn)
6/10 Instalado no corredor do piso de cima, o home office recebe muita claridade e a iluminação de pendentes simples e econômicos. (Foto: Marcelo Kahn)
7/10 Com tons neutros, do branco das louças ao acinzentado do Tecnocimento, o banheiro de duas portas permite circulação também na varanda. (Foto: Marcelo Kahn)
8/10 As tesouras descobertas após a retirada do estuque foram renovadas com esmalte sintético (Souza Telhados). No forro, os arquitetos adotaram placas de gesso acompanhando os planos do telhado, solução mais barata e moderna que o lambri. (Foto: Marcelo Kahn)
9/10 Fã dos pergolados, solução que permite viabilizar um amplo terraço útil sem escurecer dentro de casa, a equipe do LAB Arquitetos não fugiu à regra. Aqui, porém, a usual madeira deu lugar aos perfis de aço corten, de visual contemporâneo. Neste trecho, a armação metálica ampara a laje do andar de cima; mais adiante, há vigas e vidro. O visual caloroso da morada se deve à presença dos seguintes elementos rústicos e naturais: 1. Tijolo à vista: as paredes originais foram raspadas em certos trechos da alvenaria (exceto onda havia uma mistura de blocos e muitos remendos) para deixar os tijolinhos dos anos 60 à vista e dar um tom rural ao local. Depois, aplicou-se seladora e látex acrílico fosco; 2. Madeira rústica: sustentável, a madeira de demolição presente em boa parte da casa reforça o visual despojado e a experiência tátil, afinal as réguas irregulares conservam sua textura marcante; 3. Metal enferrujado: utilizado na estrutura metálica do pergolado, o aço corten traz um toque orgânico e de atualidade ao local, além de apresentar, apesar do visual, alta durabilidade e resistência à corrosão; 4. Paisagismo variado: para fazer companhia às árvores antigas, o projeto incluiu trepadeiras (jasmim e primavera), plantas tropicais (guaimbés, helicônias), além de lavanda, temperos e frutíferas; 5. Telhado no topo: a opção por repor e uniformizar as telhas (cerâmicas e na cor original) trouxe ao projeto uma cobertura de ar colonial, rústica e delicada, num desejado contraste com os traços contemporâneos do restante. (Foto: Marcelo Kahn)
10/10 A união dos ambientes – que eram amplos mas segregados – ao entorno guiou a redistribuição. Sem paredes e muito envidraçada, a sala de estar faz o jardim parecer mais próximo. Área: 470 m²; Autores do projeto: Rodrigo Leopoldi e Marino Barros; Arquitetos colaboradores: Valéria La Terza, Beatriz Paixão e Mauricio Porto; Paisagismo: Daniela Malzoni e Renata Villar; Construtora: Marcondes Ferraz Engenharia; Execução: Carlos Guilherme Mar Condes Ferraz (Foto: Marcelo Kahn)