Casa moderna tem vitrô na fachada
Neste projeto, claridade não falta. Grandes painéis com alma de vitrô – referência tão familiar da arquitetura brasileira – cerram as duas fachadas

Uma das coisas favoritas da antropóloga Nadja em sua nova casa é contar com claridade de sobra para começar cada manhã. “Adoro sair do quarto e ver a luz do Sol espalhada pelos ambientes na hora de preparar o café. Isso me ajuda a despertar”, fala.

A conquista da luminosidade em abundância resultou da coragem dela e do marido, o treinador de futebol Arthur, de mudar os planos e jogar ao chão a casa que haviam comprado, inicialmente, com o objetivo de reformar.
A decisão aconteceu quando perceberam que, a fim de conciliar o layout planejado com os reforços exigidos para colocar em dia a estrutura antiga, sobrariam de pé apenas duas ou três paredes.

“Vencido o susto da demolição, deparamos com a oportunidade de tornar o projeto mais adequado à rotina do casal. Além disso, poderíamos testar os limites de uma proposta permeável à paisagem e, ainda assim, voltada para a vida doméstica”, avalia o arquiteto Ivo Magaldi, um dos sócios do escritório paulistano 23 Sul.

O terreno dispõe de boas medidas – 7,50 x 21,50 m – e a integração entre os ambientes foi a primeira premissa a entrar nos planos da nova morada. Com isso em mente, a ideia de modular os espaços fluiu pelos desenhos dos arquitetos.
“Pensamos na distribuição de forma bem solta. A intenção de sugerir e criar condições para os diversos usos se fez presente, mas em nenhum momento pensamos em determinar a localização de um cômodo ou outro”, detalha Ivo. Daí até o surgimento de um volume quase independente para resguardar a área íntima não levou muito tempo.

Como a residência está elevada do patamar da rua (só a garagem ocupa o mesmo nível do asfalto), ressaltar a separação entre as alas social e de descanso com mais um degrau reforçou o conceito volumétrico.
Quem vê de fora não tem essa noção, mas o caixote branco em balanço sobre as chapas metálicas que fecham a garagem guarda as suítes, o mezanino e as minivarandas, enquanto a área de estar se inunda com a iluminação natural.

O limite entre os dois módulos fica marcado pelo vasto painel de pínus, também assinado pela equipe do escritório de arquitetura. Ele começa na estante da sala e invade a área dos quartos, levando cor e forma aos guarda-roupas e às raras portas da construção.

Diante de tanta área livre, o sol circula tranquilamente, delineando o contorno dos vitrôs nos pisos e nas paredes. O trabalho de serralheria, responsável por conferir tanta identidade à morada, vai além das fachadas e alcança os guarda-corpos com um desenho geométrico simples, coerente com o restante do projeto.

Simples, aliás, é palavra comum por aqui. Ela adjetiva desde a manutenção – por causa das profissões, o casal passa muito tempo viajando –, aos cuidados necessários com o jardim, passando também pelos acabamentos escolhidos (cimento queimado e tinta branca, basicamente).
“Depois do turbilhão, vejo que morar numa casa sob medida, como um cenário para a vida que escolhemos, foi uma das nossas melhores apostas. Só há uma ressalva: está cada vez mais difícil nos tirar daqui para fazer qualquer outro programa”, diz Nadja.


