Casa em Brasília mostra as delícias de morar na capital
Neste endereço, partidos e balanços não remetem à cena política, mas sim a aspectos arquitetônicos considerados pelo paulista Carlos Bratke ao traçar a morada geométrica e atual com que inscreveu seu nome na capital do país
Por Por Joana L. Baracuhy | Projeto Carlos Bratke
Atualizado em 9 set 2021, 14h09 - Publicado em 24 dez 2015, 07h00
“Brasília oferece belas vistas do céu, do horizonte. Quis garantir o mesmo nesta casa”
(Foto: Joana França/)
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Integrante de uma família de arquitetos e com longa trajetória na profissão, Carlos Bratke traz na bagagem uma centena de obras – entre elas, edifícios comerciais na Av. Eng. Luís Carlos Berrini, zona sudoeste de São Paulo, erguidos durante os anos 80 e 90 e muito associados à sua imagem. Provavelmente, foi esse legado bem-sucedido e um tanto singular que chamou a atenção de um empresário de Brasília, em 2009, e o levou a encomendar ao paulista o projeto de um prédio na capital federal. Como os trâmites para erguer a torre de escritórios se estenderam, ele e a mulher aproveitaram a sintonia para antecipar o desejo de construir uma nova morada para a família. Nessa hora, outras qualidades do tarimbado profissional, hoje na casa dos 70 anos de idade, entraram em cena. Ao conceber a residência para um terreno plano e estreito, próximo do lago Paranoá, Bratke se livrou de estigmas, amarras e desenhou livremente, como atestam seus belos croquis. “Quis fazer algo bem delicado, então imaginei um enorme pórtico que abrigasse os diferentes volumes, espaços”, sintetiza o arquiteto, que em outras fases da carreira lançou mão de materiais, cores e volumetrias pouco usuais a fim de contestar o estilo internacional e se contrapor à arquitetura moderna.
Sensível às demandas dos clientes e às especificidades do local, tratou com cuidado da distribuição e zelou pelo controle da insolação e da iluminação natural. Foi assim que a área comum surgiu no térreo como uma porção generosa e integrada, com pé-direito duplo, e os trechos envidraçados ganharam a proteção de amplos beirais. “Além de economizar com o ar condicionado, os recursos para sombrear evitam o ofuscamento. A luz enche, mas não varre os ambientes”, explica Bratke, preocupado em lidar com o clima radiante do lugar. A mesma lógica prevaleceu na escolha dos acabamentos: o repertório paulista cedeu a vez a pisos frios, mais adequados às altas temperaturas do Planalto Central. Tranquilo com a obra – o proprietário, dono de uma construtora, destacou uma equipe de sua confiança para os trabalhos –, o arquiteto acompanhou a jornada em raras visitas presenciais e por meio de e-mails e fotos. Capítulo encerrado, os planos para o tal prédio voltaram à pauta. Sobre a experiência no templo de Oscar Niemeyer (1907-2012), ele comenta, sereno: “Não quis concreto aparente, preferi usá-lo pintado de branco. A catedral metropolitana hoje tem essa cor, muitas casas também. A Brasília contemporânea é assim”.
1/11 O céu azul intenso é pano de fundo para a enorme moldura (32 m de comprimento) da construção. No jogo entre cheios e vazios, destaque para o chanfro nas empenas laterais e na laje de cobertura, moldadas com concreto armado. Para não roubar a cena, não se veem as telhas metálicas nem os coletores solares. Em vez de muro, divisória de vidro incolor. (Foto: Joana França)
2/11 Pontuais, as palmeiras emolduram a fachada sem obstruir a visão de fora. Caixilhos metálicos na cor branca (Master Alumínio) vencem os 7 m do pé-direito em duas faixas: embaixo, há portas de correr que liberam grande parte do vão; em cima, folhas fixas. Todo o piso externo emprega granito cinza flameado. (Foto: Joana França)
3/11 Comuns em edifícios públicos de Brasília, os azulejos de Athos Bulcão (1908-2008) usados neste trecho da fachada foram disponibilizados pela fundação que cuida de sua obra (Fundathos). (Foto: Joana França)
4/11 Para deleite do arquiteto, os clientes seguiram à risca o projeto e o croqui inicial praticamente se materializou. Isso garantiu uma obra fluida e um conjunto harmonioso. (Croqui: Carlos Bratke)
5/11 “Brasília oferece belas vistas do céu, do horizonte. Quis garantir o mesmo nesta casa” (Foto: Joana França)
6/11 Um único material forra todo o térreo e confere aparência monolítica ao piso: superfície de quartzo (Silestone, da Cosentino), numa tonalidade suave de cinza. (Foto: Joana França)
7/11 Graciosa, a porta de entrada (à esq., na foto) traz inserts de acrílico (7 x 7 cm) colorido nas chapas de ferro, parafusados ora por dentro, ora pelo lado de fora. Abre diretamente para a sala de jantar, integrada ao estar. Repare na discreta portinhola branca, ao lado da escada de concreto – trata-se de um elevador. (Foto: Joana França)
8/11 O pé-direito alto não nasceu de um pedido dos proprietários, mas das proporções generosas estabelecidas pelo arquiteto – e dá o tom grandioso da sala de estar. Com esquadrias nas duas faces, o espaço desfruta de ventilação cruzada e luz natural. Nada que danifique objetos e móveis, como a tela de Roberto Burle Marx (1909-1994). (Foto: Joana França)
9/11 A mesma solução adotada nos quartos aparece na copa, onde o piso cimentado foi lixado e ganhou cobertura de resina de poliuretano cinza-claro. (Foto: Joana França)
10/11 Importante na rotina da família, a cozinha – que em datas festivas se abre para o terraço – foi equipada com armários planejados (Kitchens) e uma enorme ilha central, feita de Corian (DuPont). Moldável, a superfície sólida deu forma ao tampo de 5,50 m de comprimento, com duas cubas e pequenos nichos, tudo sem emendas aparentes. (Foto: Joana França)
11/11 Na fachada dos fundos, sobressai o bloco das suítes, reunidas num trecho em balanço. A projeção de 4,30 m livre de pilares define uma agradável varanda no andar inferior. Usada com parcimônia, a cor aparece nas esquadrias com venezianas, do piso ao teto, que receberam pintura eletrostática laranja. (Foto: Joana França)