Casa de fazenda restaurada traz à tona memórias da infância
Aos 123 anos, a residência guarda as boas lembranças das gerações de uma mesma família. Atualizada, ela tem vigor para várias histórias mais
Por Deborah Apsan e Lucila Vigneron Villaça
Atualizado em 9 set 2021, 11h28 - Publicado em 15 mar 2018, 17h00
Tanto a estrutura da cobertura quanto as telhas cerâmicas
são novas. Mantido, o óculo – esta abertura redondinha
datada do século 19 – leva claridade ao interior. Agora, o
trecho iluminado do forro abriga as unidades condensadoras
do ar-condicionado. Repare: as bandeiras fixas com
venezianas no alto das janelas auxiliam na ventilação.
(Divulgação/Eduardo Pozella)
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Só lembranças boas de toda uma vida permeiam os ambientes da sede desta fazenda em Orlândia, interior de São Paulo. Levantada em 1894 para abrigar a bisavó das atuais donas, permanece com a família até hoje.
Ninguém sabe ao certo, mas há rumores na região de que a construção foi obra de arquiteto, realizada à época das estações de trem da Companhia Mogiana de Estradas de Ferro (fundada em 1872 para atender à expansão da cultura cafeeira no interior de São Paulo). Talvez isso explique sua forma longa e estreita, além do tijolinho usado nas paredes. (Divulgação/Eduardo Pozella)
Nas recordações das proprietárias, duas irmãs que frequentam o lugar desde pequenas, há muitas brincadeiras com os primos, dias de sol na piscina, liberdade para correr e um sem-fim de cavalgadas nas férias. “Sempre foi o ponto de encontro da família. Passamos – e continuamos passando – momentos maravilhosos aqui”, conta uma das herdeiras.
O terraço foi agregado nos anos 40 com o intuito de criar um espaço de estar com vista do entorno. O forro, em estilo saia e blusa – de tábuas sobrepostas –, é típico do período colonial e deve ter sido usado para seguir o padrão do interior da casa. Da época, o piso de ladrilho hidráulico foi polido e impermeabilizado. (Divulgação/Eduardo Pozella)
Essa grande ligação afetiva, unida ao uso constante das instalações para o lazer, fez com que as sucessivas gerações cuidassem da manutenção da fazenda – produtiva até hoje – ao longo do tempo.
A sala de almoço é também o espaço onde a família se reúne para o café da manhã. Repare no painel rústico na parede: trata-se do verso de um enorme armário que se abre para a sala de jantar. Da superfície, saíram várias camadas de tinta até chegar à madeira natural. (Divulgação/Eduardo Pozella)
Além de reformas, algumas benfeitorias foram acrescentadas à edificação principal, que nos anos 20 ganhou uma piscina na área do terreno bem ao lado da casa, e um terraço na fachada frontal na década de 40.
A cozinha também cresceu durante uma reforma encomendada pelos pais das atuais donas por volta de 1980, quando ainda alguns quartos se converteram em suítes.
Ventilado, o estar tem aberturas para a fachada frontal e para os fundos. (Divulgação/Eduardo Pozella)
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Já à frente da fazenda, em 2011, a dupla procurou os arquitetos Gabriel Figueiredo e Newton Campos para uma nova intervenção.
Desta vez, entretanto, além das necessárias atualizações das instalações elétricas, hidráulicas e da modernização de alguns itens, as proprietárias queriam que a casa voltasse ao seu aspecto original, para reproduzir ao máximo a imagem conhecida na infância.
Aqui, o forro conserva o revestimento original da época, com ripas de madeira mais finas em relevo e pintadas de branco, sobre o fundo em tom bege. O assoalho antigo passou por raspagem e recebeu aplicação de resina (Bona) para proteção. (Divulgação/Eduardo Pozella)
“A obra foi um grande trabalho de restauração: nos detivemos sobre cada detalhe; dos materiais usados como revestimento às esquadrias e móveis. Buscamos devolver à fachada sua configuração inicial, tanto visualmente quanto no uso”, lembra Gabriel.
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Eis o armário, tão antigo quanto a casa, com portas e gaveteiros do piso ao teto. (Divulgação/Eduardo Pozella)
Para essa empreitada, foram acionados marceneiros locais, capazes de recuperar as peças antigas de madeira e substituir por cópias fiéis as que estavam em mau estado.
Além disso, uma família experiente nesse tipo de trabalho, a do mestre de obras, passou dois anos morando no local, com dedicação exclusiva.
No quarto do casal, nota-se a parede externa espessa (40 cm) que abriga a esquadria, pensada provavelmente para isolar o calor. (Divulgação/Eduardo Pozella)
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Valeu o capricho: “Voltamos a enxergar o cenário da nossa infância, com a fachada cor-de-rosa e as janelas verdes. E, agora, adaptado para as novas gerações”, diz uma das donas, ansiosa para seus netos desfrutarem também de boas vivências nesse ambiente rural.
1/6 Moradora de São Paulo, uma das proprietárias visita o lugar sempre que pode. “Daqui, vêm algumas das minhas melhores lembranças.” Ao fundo, o terreiro e as instalações para processamento de café. (Divulgação/Eduardo Pozella)
2/6 O complexo foi implantado numa área mais baixa do terreno – um pouco acima existe uma mina d’água e é essa fonte que abastece a construção. Isso explica a estrutura elevada de madeira (espécie de ponte, na foto), apoiada em pilares de alvenaria e recoberta por trepadeiras, para conduzir a água até o tanque, o chuveirão e a piscina. (Divulgação/Eduardo Pozella)
3/6 As nuances suaves da fachada (Suvinil, ref. Rosa Antigo) e das molduras (Suvinil, ref. Areia do Deserto), em contraste com o verde-escuro das janelas (esmalte acetinado Suvinil, ref. R065), se baseiam nas reminiscências das proprietárias. Antes da reforma, predominava uma cor mais escura. Já houve vários outros tons. (Divulgação/Eduardo Pozella)
4/6 Já no hall de entrada, revela-se o assoalho que alterna tábuas de madeira escura e clara. O friso no pé das portas é exclusivo, sem igual nos arredores. (Divulgação/Eduardo Pozella)
5/6 Para conservar o ar singelo, os banheiros ganharam acabamentos novos, mas à moda antiga: azulejo branco nas paredes e ladrilho hidráulico (Siqueira & Aquino Materiais de Construção) no piso. (Divulgação/Eduardo Pozella)
6/6 Área: 352 m²; projeto de reforma: Gabriel Luiz de Figueiredo, Nilton Campos, Fabrício Frezza (design) e Karina Mariano (colaboradora); marcenaria: Bernardes Oliveira; construção: Empreiteira L&R; paisagismo: Valéria Wadhy Rebehy; Decoração: Cristina Prado. (Ilustração /Campoy Estúdio)