Quanto mais difícil for encontrar esta casa de fim de semana entre as montanhas de Gonçalves, MG, tanto melhor. Isso quer dizer que ela conseguiu cumprir a proposta de sua arquitetura: ocupar um lugar sem perturbar o entorno
Por Texto Silvia Gomez | Visual Deborah Apsan
Atualizado em 9 set 2021, 14h05 - Publicado em 15 mar 2016, 09h00
Esta foto desvenda o posicionamento dos dois pavilhões, escalonados no declive. No de cima, a suíte principal se situa na ponta da direita, com vista totalmente liberada para o vale. Os outros quartos enxergam a paisagem também através dos painéis de vidro da sala, na construção inferior.
(Foto: Cacá Bratke/)
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Ocupar aquele bosque de árvores miúdas num terreno de 9,6 hectares cercado de fabulosas montanhas soava um pouco invasivo. Era preciso encontrar o jeito mais discreto e respeitoso de fazê-lo, daí a ideia de setorizar o refúgio de férias em Gonçalves, MG, em dois blocos ligeiramente deslocados, um acima do outro – o social embaixo e o dos quartos no alto, ambos ligados por uma escada descoberta. “Um volume térreo único resultaria numa residência muito comprida. Com essa divisão, conseguimos uma implantação suave que segue as curvas de nível desse pedaço de morro”, justifica o arquiteto André Vainer, autor do projeto.
Da sintonia com o lote nasceu também o traçado arredondado da edificação. “Foi a maneira de acompanhar o terreno o mais constantemente possível, mantendo sempre a mesma altura em relação ao perfil original e evitando movimentação de terra. Para a planta, isso parece um desafio, mas foi bem simples de resolver, porque se trata de uma sequência de módulos retos compondo o arco, com vãos de mais de 4 m de comprimento entre os pilares”, explica André. Elevado, o esqueleto de garapeira apoiado em pilaretes de concreto mal incomodou o solo. “Eu queria que o processo se assemelhasse a um jogo de montar, sem sujeira nem vestígios: uma casa apenas pousada ali.”
Dentro, o melhor a fazer foi criar condições para contemplar a vista. Integrada e transparente, a área social se encerra numa caixa de vidro, fechada por largas portas de correr, estas também presentes nos quartos, onde os proprietários acordam com a luz da manhã. Como moldura para esses painéis, os caixilhos de muiracatiara ganharam o mesmo tom de verde dominante nas fachadas. A cor contrasta com o telhado branco, composto de chapas metálicas (que foram recortadas no canteiro por mão de obra indicada pelo fabricante a fim de evitar erros de adequação à estrutura). Racional, a cobertura mostrou-se um trunfo do projeto. Além de vencer grandes vãos, as telhas com recheio de poliuretano são leves e termicamente eficientes. Ou seja, a armação de madeira não precisa sustentar peso excessivo e o calor interno, precioso na região alta e de clima frio, se vê conservado (contando, claro, com a ajuda do fogão a lenha). “É na borda dele que eu e minha família mais ficamos no dias gelados, numerosos por aqui”, fala o dono.
1/16 A disposição do terreno ditou o traçado da casa. O desalinhamento entre os blocos tira o melhor partido do declive e dos limites laterais. Área: 204 m²; Coordenação: Fernanda Jozsef; Arquitetos colaboradores: Alessandro Muzi, Marina Ferreira e Tiago Wright; Estrutura de madeira: Arquimedes Costa Engenharia Estrutural e Gil Mello; Construção: Renato Barros; Paisagismo: Thea Standerski e oficina2mais; Marcenaria: Marcenaria Toque de Minas (Foto: Cacá Bratke)
2/16 Todos os quartos são atendidos por um acesso independente como este, que dá no jardim. (Foto: Cacá Bratke)
3/16 Como circulação para os quartos, o projeto criou este corredor periférico, que oferece saídas independentes para cada cômodo. (Foto: Cacá Bratke)
4/16 A extremidade da ala íntima olha para este solário coberto com as placas de cimento de 8 cm de espessura. Embutida no piso, tina da Ofurô de Madeira. O paisagismo ao redor mescla alecrim, sálvia bicolor e lavanda. (Foto: Cacá Bratke)
5/16 Só a suíte do casal conta com um terraço privativo. (Foto: Cacá Bratke)
6/16 A casa possui pé-direito entre 2,38 e 3,60 m, no ponto mais alto. Em cima, recortes de vidro inundam as manhãs de luz. (Foto: Cacá Bratke)
7/16 As salas de jantar e de estar dividem o mesmo piso, de tábuas de tauari. (Foto: Cacá Bratke)
8/16 Detalhe da textura colorida da frente da escada, resultante da mistura de 1 litro de cola branca para cada saco de 8 kg de cal, acrescido de pigmento vermelho. “A cola garante melhor fixação”, afirma o construtor Renato Barros, responsável pela obra. (Foto: Cacá Bratke)
9/16 Marcando os limites da cozinha, está o fogão a lenha revestido do tradicional vermelhão. As panelas penduram- se na armação de cobre presa às vigas. Bancadas e armários de eucalipto laminado. (Foto: Cacá Bratke)
10/16 O solo permanece intocado sob a construção. Cortadas na obra, as chapas de aço da cobertura térmica com núcleo isolante e inclinação de 5% (TermoRoof, da DânicaZipco) dispensam forro. (Foto: Cacá Bratke)
11/16 Largos painéis de vidro temperado correm em esquadrias de muiracatiara. (Foto: Cacá Bratke)
12/16 Ao centro da imagem, a escada rosada faz a passagem entre um nível e outro, ao ar livre. (Foto: Cacá Bratke)
13/16 A estrutura de garapeira se exibe sem maquiagens e sustenta a cobertura metálica, que parece uma lâmina solta do conjunto. Ao redor das salas, elevam-se pátios permeáveis. Feitos de alvenaria e preenchidos com terra, são cobertos com quadrados de concreto de 22 x 22 cm apenas encaixados sobre uma cama de areia de 15 cm de altura. Desenhadas pelo arquiteto, as placas foram fabricadas na obra com pigmento avermelhado acrescentado à massa. (Foto: Cacá Bratke)
14/16 Esta foto desvenda o posicionamento dos dois pavilhões, escalonados no declive. No de cima, a suíte principal se situa na ponta da direita, com vista totalmente liberada para o vale. Os outros quartos enxergam a paisagem também através dos painéis de vidro da sala, na construção inferior. (Foto: Cacá Bratke)
15/16 Com fechamentos pintados de verde, a residência se destaca apenas pelo telhado de chapas metálicas brancas. A divisão em duas alas foi um modo de aproveitar o declive acompanhando com suavidade as curvas de nível do terreno. (Foto: Cacá Bratke)
16/16 Toras de garapeira compõem a estrutura, protegida com uma medida simples: óleo cru de motor de caminhão. Situado na lateral do volume social (mais baixo), este ripado recebeu esmalte sintético da mesma cor do resto das fachadas de alvenaria e das esquadrias (Coral, ref. sálvia vitoriana). (Foto: Cacá Bratke)