Casa de campo com vista deslumbrante é projeto de Paulo Mendes da Rocha
A Pedra do Baú impera no horizonte de São Bento do Sapucaí, cidade na Serra da Mantiqueira que acolhe esta casa de campo à moda brutalista
Por Texto Cristiane Teixeira | Produção Deborah Apsan
Atualizado em 9 set 2021, 14h10 - Publicado em 11 dez 2015, 09h00
Casa de campo com vista deslumbrante é projeto de Paulo Mendes da Rocha
(Pedro Napolitano Prata/)
Continua após publicidade
Era para ser uma torre. Ao menos foi essa a primeira ideia do arquiteto, apoiado por seu parceiro no projeto, Eduardo Colonelli. “Pensei numa torre com 18 m de diâmetro. Embaixo, ficariam os carros e o serviço; acima, as suítes de hóspedes; depois, estar e cozinha; em seguida, o apartamento da moradora; no teto, piscina e solário”, descreve Paulo Mendes da Rocha, laureado em 2006 com o Prêmio Pritzker, o mais importante da área. “A cliente achou horrível! Então, desenhei um casarão para a minha amiga querida, uma casa longilínea com telhado de duas águas. E, o que é muito inteligente, ela se encontra levantada do chão. Isso é comum na região, por causa da topografia e dos cursos de água.”
A obra durou quase dois anos, como lembra o engenheiro Fernando Sampaio: “O acesso era muito difícil. Transportamos tudo num caminhãozinho do depósito de materiais de São Bento. Preparamos o concreto no canteiro e produzimos lá mesmo as formas que dão aquele aspecto ripado de que o Paulo gosta”. Assim como a mão de obra, a maioria dos componentes veio de longe, caso das esquadrias de ferro e do telhado, montado com treliças metálicas e telhas onduladas de alumínio.
O coração da morada, diz seu autor, está na cozinha, equipada com fogão a lenha: “O pessoal não dispensa a comidinha preparada nele. Como tem gente que prefere comer ali mesmo, se servindo direto da panela, fiz aquela bancada com um vão para as pernas”. Quem cozinha desfruta da paisagem, pois a fachada de trás leva caixilhos basculantes que, quando abertos, dão a sensação de uma varanda. Já a sala se esparrama na porção frontal.
“O espaço surpreende. Era preciso preservar o vazio”, afirma a arquiteta Beth Forbes, que indicou o mestre para a cliente, sua amiga, e projetou os interiores com o sócio, Silvio do Nascimento. “Fomos alunos do Paulo, conhecemos a arquitetura dele”, avalia ela. “O mais importante era saber o que não fazer”, enfatiza Silvio. Assim, a dupla mirou na funcionalidade do mobiliário – mesma característica que o artífice da casa advoga para a arquitetura. Beth e Silvio escolheram poucas e boas peças, priorizando criações brasileiras contemporâneas, clássicos do design e alguns itens rústicos. Discreta, a moradora preferiu não dar entrevista, mas o que se ouve é: ela está muito feliz com a casa.
1/15 A fachada traz à memória um dos pressupostos da chamada escola paulista de arquitetura, encabeçada por Paulo Mendes da Rocha: a verdade estrutural, que defende a exposição dos elementos da estrutura, sem revesti-los. O amplo miolo da construção promove o convívio, enquanto as extremidades convidam ao recolhimento. (Foto: Pedro Napolitano Prata)
2/15 Matéria-prima principal desta obra, o concreto se revela na estrutura da morada e também nas paredes internas da piscina, implantada num ponto mais baixo do terreno. O fundo do tanque, revestido de Vidrotil branco, faz a água refletir o azul do céu. (Foto: Pedro Napolitano Prata)
3/15 Se você imagina sentar-se no sofá e contemplar a Pedra do Baú pela imensa abertura da sala, esqueça: “Lá fora, ela é vista de todos os pontos, então eu fiz um beiral para impedir que isso aconteça daqui de dentro”, diz o autor, em tom de vitória. (Foto: Pedro Napolitano Prata)
4/15 Nasceu no projeto arquitetônico o balcão que acompanha toda a fachada e serve a múltiplas funções: para usar o computador, ler ou comer. Além do fogão a lenha, a cozinha dispõe de um cooktop embutido na ilha de concreto, pintada com tinta epóxi. "“Quando os basculantes são abertos, isto aqui parece uma varanda”, diz Paulo Mendes da Rocha. (Foto: Pedro Napolitano Prata)
5/15 Próxima de uma estradinha, a residência vence a natureza que, nas palavras de Paulo Mendes, “não é habitável”. O telhado leva telhas onduladas de alumínio (Useaço), instaladas sobre lã de rocha, que dá conforto termoacústico. (Foto: Pedro Napolitano Prata)
6/15 Estofados acinzentados, como a chaise longue Carta (Oppa), harmonizam com os tons e as linhas da arquitetura. A lareira também opta pela elegância, com base de concreto e coifa preta (Coifamax). (Foto: Pedro Napolitano Prata)
7/15 Na fachada de trás há delgados basculantes que, quando abertos, ficam completamente na horizontal. A exemplo dos demais caixilhos, foram desenhados pelo arquiteto e produzidos em ferro (SSertec Serralheria Industrial) com pintura esmalte. (Foto: Pedro Napolitano Prata)
8/15 A passarela que conduz da casa à piscina é também um mirante incomparável, protegido por guarda-corpo de ferro (SSertec Serralheria Industrial). Recebeu cimentado com pedriscos, moldado na obra em placas de 50 x 50 cm (que, no solário, são elevadas para drenar a água). (Foto: Pedro Napolitano Prata)
9/15 No quarto da moradora, a cama projetada por Beth e Silvio apoia-se na bancada com função de mesa de cabeceira. (Foto: Pedro Napolitano Prata)
10/15 Os banheiros combinam Vidrotil branco e tinta epóxi no acabamento. (Foto: Pedro Napolitano Prata)
11/15 As treliças metálicas (Useaço) vencem o vão interno de 10 m a fim de sustentar a cobertura e fixam a iluminação. Note que os quartos (à esq., na foto) foram reservados a caixas de alvenaria soltas no meio do pavimento, com assoalho de perobinha (Zanchet Madeiras). (Foto: Pedro Napolitano Prata)
12/15 No térreo, estão a garagem, a churrasqueira e as dependências de serviço. (Foto: Pedro Napolitano Prata)
13/15 Em cima, cozinha e sala ocupam o centro, tendo de um lado a suíte principal e, do outro, as de hóspedes. A piscina fica num ponto mais baixo do terreno. (Foto: Pedro Napolitano Prata)
14/15 A dona da casa guarda até hoje o primeiro croqui feito pelos arquitetos, uma torre com cinco níveis. (Foto: Pedro Napolitano Prata)
15/15 Foi no escritório de Paulo Mendes da Rocha que nos reunimos para a entrevista, da qual também participaram Silvio do Nascimento (à esq.) e Beth Forbes (à dir.). O arquiteto, que completou 87 anos em outubro, não poupou ironias durante as duas horas do encontro. (Foto: Pedro Napolitano Prata)