Como a arquitetura bioclimática responde às mudanças climáticas

Especialista explica algumas das principais estratégias utilizadas por arquitetos e urbanistas para minimizar os efeitos das altas temperaturas.

Por Redação Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Atualizado em 21 abr 2025, 13h51 - Publicado em 21 abr 2025, 13h00
Claraboias e brises deixam a natureza e a luz natural adentrarem nesta casa de praia moderna. Projeto de PITTA Arquitetura.
Projeto de PITTA Arquitetura. (João Paulo Soares de Oliveira/Divulgação)
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O ano de 2024 foi o mais quente já registrado globalmente, com uma temperatura média de 15,1°C, isso é 1,6 graus acima dos níveis pré-industriais, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM).

Casa de praia tem pub temático no subsolo, jardim interno e telhado verde. Projeto executado pela arquiteta Gabriela Venier e pelo engenheiro civil Germano Fenner/Fachada e interior assinados pelo arquiteto Eliseu Ferreira.
Projeto executado pela arquiteta Gabriela Venier e pelo engenheiro civil Germano Fenner/Fachada e interior assinados pelo arquiteto Eliseu Ferreira. (Fábio Jr. Severo/Divulgação)

No Brasil, a média anual atingiu 25,02 °C, o maior valor desde o início dos registros em 1961, conforme dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) em janeiro de 2025. Com ondas de calor e temperaturas cada vez mais extremas, soluções arquitetônicas desempenham importante papel para garantir conforto térmico e reduzir a demanda por refrigeração artificial. A arquitetura bioclimática e práticas sustentáveis deixam de ser tendência para se consolidarem como necessidade.

Fernanda Buga, arquiteta e coordenadora do curso de Arquitetura e Urbanismo do Centro Universitário de Jaguariúna (UniFAJ), reforça a importância de uma abordagem integrada. “Investir em projetos de qualidade e na atuação do arquiteto e urbanista é essencial. O conforto térmico e a eficiência energética não se resumem ao uso de materiais térmicos: exige um equilíbrio entre conhecimento técnico, repertório e criatividade para reduzir os impactos causados pelo aquecimento global”.

Confira algumas das principais estratégias utilizadas pela arquitetura para mitigar os efeitos do calor:

1. Isolamento térmico eficiente

Casa pátio de praia na Bahia foi erguida em torno das árvores. Projeto de Mari Grobério. Na foto, varanda rústica, parede de taipa.
Projeto de Mari Grobério. (Casa.com.br/Divulgação)
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O isolamento térmico reduz a transferência de calor entre o ambiente externo e interno, garantindo maior conforto e menor consumo energético. Materiais como lã de rocha, poliestireno expandido (EPS) e celulose são amplamente utilizados.

No entanto, Fernanda ressalta que nem todos esses materiais são sustentáveis: “A terra, por exemplo, é um excelente isolante térmico e pode ser usada em técnicas como taipa de pilão e adobe, mas ainda enfrenta resistência do mercado devido à baixa produtividade e à falta de mão de obra qualificada.

Os tijolos de barro (furados e maciços) também possuem bom desempenho térmico, retardando a transferência do calor, o que deixa as edificações mais frescas durante o dia”.

2. Ventilação natural e sombreamento

Claraboias e brises deixam a natureza e a luz natural adentrarem nesta casa de praia moderna. Projeto de PITTA Arquitetura.
Projeto de PITTA Arquitetura. (João Paulo Soares de Oliveira/Divulgação)
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A ventilação cruzada, combinada ao uso de brise-soleils (quebra-sóis), janelas estrategicamente posicionadas e marquises, promove a circulação do ar e reduz a dependência de sistemas artificiais de climatização. “Criar janelas ou portas amplas com anteparos que barrem a entrada do calor do sol mas permitam a ventilação são estratégias são fundamentais para garantir conforto térmico sem elevar o consumo de energia”, observa a arquiteta.

3. Telhados verdes e jardins verticais

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Projeto de Ao Cubo Arquitetura. (Produção visual: Simone Raitzik; Ao Cubo Arquitetura/Fotógrafo: André Nazareth/Casa.com.br)

Além de amenizar a absorção de calor pelos edifícios, essas soluções contribuem para a qualidade do ar e o conforto acústico. No entanto, a arquiteta alerta: “A manutenção é um ponto crítico. Um jardim vertical seco pode se tornar um risco de incêndio, e o sobrepeso na estrutura precisa ser cuidadosamente calculado”.

4. Materiais refletivos

foto aérea mostra casa com telhados verdes e placas fotovoltaicas, com rampas e escadas integrando três pavimentos.
(Jeremías Thomas/ArchDaily)
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Pinturas e revestimentos em cores claras ajudam a reduzir a absorção de calor em superfícies externas. Essa técnica simples, mas eficaz, pode reduzir significativamente a temperatura interna das edificações. Recomenda-se a pintura dos telhados com tintas claras apropriadas ao material.

5. Sombreamento natural

Claraboias e brises deixam a natureza e a luz natural adentrarem nesta casa de praia moderna. Projeto de PITTA Arquitetura.
Projeto de PITTA Arquitetura. (João Paulo Soares de Oliveira/Divulgação)

A integração de elementos como árvores, marquises e treliças no paisagismo urbano e arquitetônico cria áreas sombreadas que reduzem a incidência direta do sol sobre as edificações, proporcionando microclimas mais agradáveis e melhorando a qualidade de vida nas cidades.

6. Arquitetura bioclimática

Casa em estilo clássico europeu tem piso mármore e árvore na área gourmet. Projeto de Studio LAK. Na foto, poltrona, jardim.
Projeto de Studio LAK. (Fotos: Denilson Machado, MCA Estúdio/Produção visual: Pualani DiGiorgio/Divulgação)
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Projetos que consideram o clima local na orientação do edifício e na disposição de aberturas otimizam o uso de iluminação e ventilação naturais. “Essas práticas promovem eficiência energética, melhoram o conforto dos ocupantes e reduzem a pegada ambiental”, afirma a especialista.

Ao integrar técnicas adequadas e materiais eficientes, arquitetos e urbanistas não apenas minimizam os efeitos do calor, mas também promovem bem-estar. “A aplicação dessas soluções, aliando seriedade e criatividade, é fundamental para construirmos cidades mais resilientes e habitáveis”, conclui Fernanda.

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