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Um bate-papo com o designer italiano Antonio Citterio

Em visita ao Brasil, o designer italiano conversou conosco sobre o seu processo criativo, sustentabilidade e jovens designers.

Por Por Vanessa D'Amaro
Atualizado em 19 jan 2017, 15h34 - Publicado em 8 mar 2012, 15h35

Antonio Citterio é um dos grandes nomes do design e da arquitetura italiana. Reconhecido desde os anos 70 por seu traço contemporâneo, ele herdou o ofício do pai, que colocava a mão na massa produzindo peças clássicas na região da Lombardia. Além de assinar coleções para as principais marcas italianas de design, Citterio também construiu uma carreira sólida em arquitetura. Ele explica que uma coisa puxa a outra: “Às vezes, enquanto eu faço um projeto de interiores me vem a ideia de desenhar produtos para aquele ambiente”. Hoje, algumas de suas criações estão expostas em endereços cobiçados, como o MoMA (Nova York) e o Centro George Pompidou (Paris). Em visita ao Brasil para comemorar os dez anos de parceria da B&B Itália com a Atrium e o primeiro ano da flagship store de São Paulo, ele conversou com Casa.com.br.

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Como é o seu processo de pesquisa e criação de móveis?

O meu trabalho de design é muito relacionado com o meu trabalho de arquitetura. Isso significa que, às vezes, fazendo um projeto de casa me vem a ideia de desenhar produtos que apresentem boas soluções para estes espaços. A criatividade vem de diversas formas, às vezes a criatividade vem de um processo produtivo. Ela é um mecanismo muito complexo, são muitas as situações que te colocam na posição de ser criativo.

Qual é a característica que não pode faltar num produto que você desenha?

Quando eu crio um produto, eu sempre me pergunto: “Eu compraria isso?”. Se eu acho que não, ele não é um bom produto. Essa é a minha visão de marketing.

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É verdade que o seu pai também desenhava móveis?

Isso é divertido! O meu pai desenhava móveis e também os fazia. Ele sempre pensou que eu morreria de fome.  “Quem é que vai pagar só pelo desenho?”, perguntava. “Faça como eu faço: desenhe e produza. Quem vai pagar só pela sua ideia?”, ele dizia. Acho que, no fim, eu é que estava certo.

Mas ele fazia móveis clássicos?

Sim, ele fazia móveis clássicos. Eu, quando comecei a estudar nos anos 60, já me posicionei no estilo contemporâneo. Por alguns anos, nós discutimos muito a respeito disso. Ele dizia que [desenhar móveis contemporâneos] “era uma bela loteria”. É interessante ter essa relação com o pai, do ponto de vista crítico. No final, o meu pai, nos anos 80, estava feliz com a minha escolha. Eu sempre fui muito apaixonado por aquilo que faço e eu acho que, para os pais, é importante ver que um filho é apaixonado por alguma coisa. Os pais sempre se fazem aquelas perguntas: “será que ele terá sucesso na vida ou não?” Isso não importa. Se você tem um filho que é apaixonado por algo, ele tem um motivo para viver. Essa paixão é a coisa mais bonita que uma pessoa pode ter.

Existem hoje bons jovens designers italianos? E quem são eles?

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Existem ótimos jovens designers no mundo todo. Mas hoje é muito difícil ser reconhecido, porque existem tantos. Quando eu abri o meu estúdio em 1970, nós éramos poucos! Hoje, são centenas de jovens que são designers. Eu dou aula em uma universidade na Suiça [Università della Svizzera Italiana] e, às vezes, encontro jovens que são muito melhores do que eu quando estava na universidade. Eu digo isso a eles com muita sinceridade. O mundo está sempre indo para frente, está sempre melhorando. Os estudantes melhoram e as escolas também melhoram.

Quem você admira como designer ou arquiteto?

Mas isso [admirar] só se faz quando é jovem! (risos) Quando você vira um profissional, você tem colegas que você acha que são bons. Eu sempre acho que os outros são melhores do que eu.

Como vocês tratam a questão da sustentabilidade no trabalho do designer?

Esse é um dos grandes temas do design e da arquitetura hoje e será tema pelos próximos 30 anos de maneira explosiva. Fazer um produtotimeless já uma ideia sustentável já que um produto que dura 30 ou 40 anos é diferente de um produto que dura dois. Outra questão é pensar em produtos que possam ser descartáveis ou reciclados no futuro. Esse é o desafio do designer. Na arquitetura, a questão é criar edifícios que utilizam menos energia e são fáceis de manter. Ainda existem arquitetos que não trabalham nessa direção, mas eu procuro sempre fazer produtos responsáveis. Mas não é coisa de hoje, eu sempre fiz isso. Sempre foi meu modo de fazer o meu trabalho.

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