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Psicanalistas analisam as manifestações populares recentes

A questão da mobilidade urbana foi a faísca para um movimento de indignação histórico no Brasil – em várias regiões, milhares juntos gritavam: “Vem pra rua!”

Por Por Silvia Gomez
Atualizado em 19 jan 2017, 13h54 - Publicado em 4 jul 2013, 19h57
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“Foi arrebatador registrar a sombra dos manifestantes na concha da Câmara dos Deputados, um símbolo do poder”. Vitor Schietti, fotógrafo de Brasília

Há mais de 30 anos, o casal de psicanalistas Emilia e Jorge Broide, radicados em São Paulo, lida com situações sociais críticas, prestando consultoria a instituições, ONGs e programas sociais. Aqui, a dupla nos ajuda a refletir sobre o simbolismo de ver o espaço urbano tomado pelas manifestações.

Que leitura vocês fazem dos protestos ocupando as ruas, mobilizando as cidades?

Emilia: Eles expressam nossa intensa relação com o espaço público e urbano. As pessoas vivem a cidade de diferentes formas, e isso estava presente: movimentos políticos organizados, grupos, gangues, amigos, polícia e Estado foram atores ativos. Vimos como o ambiente urbano pode servir ao encontro, à possibilidade de expressão da diversidade e também aos embates e às tensões.

Como os problemas de uma metrópole como São Paulo, entre elas a mobilidade, eclodem num movimento como este?

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Jorge: É no espaço urbano que se dá a experiência de encontro ou desencontro com o outro. Nós vivemos a cidade, mas a cidade também nos vive. Essa é a razão pela qual o direito a ela é algo tão fundamental e deve ser pensado de maneira política e ética. A ausência de perspectiva e a impossibilidade de circular trazem o mais profundo sentimento de exclusão. Nesse sentido, o preço do transporte público e sua qualidade deficiente revelam a falta de políticas destinadas ao setor, marcando aqueles que precisam dele. A sensação de estar fora da cidade, mesmo que andando dentro dela, é avassaladora. Imagine o que é ver as ruas pela janela de um ônibus ou trem sem poder vivê-las. É o que chamamos de sentimento de invisibilidade, o qual lança o sujeito no desamparo. Certamente estamos falando aqui das raízes da violência vista nas manifestações atuais.

Que saídas poderiam tornar o espaço urbano mais humano?

Emilia: A consulta pública, a ampliação das áreas de convivência coletiva, a melhoria nas formas de circulação e o alinhamento do crescimento urbano com um projeto pensado para as pessoas.

Jorge: A arquitetura é fundamental, pois contribui para o desenho das linhas de fluxo da vida, abrindo fronteiras visíveis e invisíveis. Isso possibilita a saída do sujeito da condição de exclusão, de mero espectador do prazer do outro.

Impressões de quem estava lá

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“O ‘3,20 não!’ movia a massa, refetida nos edifícios corporativos. A Avenida Brigadeiro Faria Lima serviu, enfm, para os pedestres”. Marcus Vinicius Damon, arquiteto de São Paulo

 

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“Milhares no vão livre do Masp. Chorei. De emoção por termos acordado. E por Lina Bo Bardi, que fez sua arquitetura para que acordássemos”. Gerson de Oliveira, designer de São Paulo

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