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Móveis para se isolar e arte surgida a partir de histórias

Exposição Playground traz escrivaninhas com portas para fugir da supercomunicação. Os móveis são acompanhados de obras do artista plástico Xoxu

Por Por Nilbberth Silva
Atualizado em 20 dez 2016, 22h18 - Publicado em 14 ago 2013, 21h20

O designer Rodrigo Almeida mostrou para a imprensa a coleção de móveis Playground, na terça, 13, em parceria com a Galeria Nacional, em São Paulo. A coleção tem pufe, duas poltronas e duas escrivaninhas. Inspirados nas cidades grandes, os móveis têm itens que fazem menção ao mundo urbano: barreiras, rodas, linhas retas, às vezes, muitas cores.

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A escrivaninha, chamada Playground tem laterais de 1,3 m de altura Na frente, tem duas portas. Com tantas divisórias, o móvel permite isolar-se com um computador. “É uma mini-arquitetura”, descreve Rodrigo. “Você tem um espaço privado dentro de outro”.

Mas vale à pena trazer para casa um móvel que ajuda a isolar-se? Afinal, até os anos 70 os arquitetos modernistas procuravam criar casas integradas, com poucas divisórias. Dividir a casa em compartimentos era visto como um vício burguês. Ao diminuir o número de paredes, eles acreditavam, ficaria mais fácil o diálogo entre os membros da família. Expus tudo isso pra Rodrigo.

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 “Eu acho que a gente não quer dialogar o tempo inteiro”, ele respondeu. “Antes a gente assistia televisão junto com a família, hoje as pessoas passam tempo sozinhas, com seus celulares. A gente está em outro momento”. Rodrigo também acredita que o excesso de comunicação dos nossos tempos faz com que as pessoas desejem isolar-se. Ele acredita que sentar-se na cabine seria “um momento em que dá para limpar e pensar numa coisa só”.

Rodrigo também crê que os móveis precisam estar cada vez mais tácteis. Nessa época em que os aparelhos se tornam quase imateriais de tão pequenos, é bom estar cercado por um monte de matéria. “Você quer chegar em casa, colocar o pé no sofá e sentir-se em um ninho”, diz o arquiteto. 

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Sentei na escrivaninha e imaginei se ficaria mais fácil escrever esse caso me isolasse atrás daquelas portas. Deu para sentir que o forte do móvel não é a ergonomia – falta, por exemplo, suportes para apoiar os braços enquanto se escreve no laptop. Outra desvantagem é o fato das portas abrirem-se para fora. Isso dificulta que as cabines caibam em ambientes menores, a despeito do seu tamanho modesto (95 cm de profundidade x 97 cm de altura). Mas talvez a ideia dê certo: sentar-se olhando para as portas alcochoadas traz segurança.

Quadros com histórias

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Para estampar uma das escrivaninhas, Rodrigo escolheu o artista plástico Xoxu. O profissional autodidata expõe três quadros na galeria nacional. Mas quadro não é a palavra certa. É difícil nomear algumas dessas figuras. Cortadas à mão, elas são estampadas com colagem, serigrafia e pintura acrílica – entre outras técnicas.

As figuras surgem de um universo particular que Xoxu cria, inspirado em um atlas. As imagens surgem pouco a pouco, enquanto o artista vai criando textos descrevendo a evolução do mundo e seus personagens. Nesse mundo, os personagens evoluem em busca de plenitude ou decaem em consequência das circunstâncias da vida.

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 Mortimer Mouse, por exemplo, era um menino judeu superprotegido pela avó. Fã do Mickey Mouse, ele usava um quipá com orelhinhas de rato. Um dia, Mortmer foge de casa e acaba morando em uma tribulação de esgoto no centro de São Paulo. Lá, ele transforma-se, adquirindo a sujeira do local.

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Já Corujalis Caveralis é uma criatura meio coruja, meio caveira. Ele é a mistura de dois seres que surgiram na criação do mundo. A dupla busca o sublime, mas por acidente, acaba brigando. Para tornar a buscar a pelnitude, os dois aceitam o conselho de fundirem-se em um só. A figura exposta na galeria mostra os dois fundidos. Suas cores contrastam e as metades são revestidas com papeis de estampas diferentes. Com isso, uma mesma pincelada tem dois tons diferentes. 

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Xoxu ainda não sabe o que vai acontecer com a coruja-caveira. “Agora um depende do outro. Pode ser que eles encontrem o sublime ao se fundirem. Ou pode ser que um dos dois não esteja curtindo nada. Pode ser, ainda, que toda essa busca seja ilusória, uma coisa que eu criei e eles acreditaram”.

As peças ficam na Galeria Nacional (Rua Barão de Capanema, 208, Jardim Paulista) dias 15 e 17/08 das 10h às 19h; 18/08 das 12h às 18h. A exposição faz parte da Design Weekend

 

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