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Ocupação: novo reduto de arte contemporânea, no RJ

A fábrica de doces Bhering, desativada nos anos 1990, atrai artistas veteranos e novatos com sua arquitetura monumental marcada pelo tempo.

Por Reportagem e ensaio fotográfico Araci Queiroz e Eduardo Câmara
Atualizado em 19 jan 2017, 13h24 - Publicado em 23 ago 2011, 01h35

A antiga fábrica de doces Bhering, no bairro do Santo Cristo, no Rio de Janeiro, abriga hoje cerca de 40 ateliês de artistas plásticos. Alguns alugam espaços independentes, outros compartilham salas e há aqueles que usam áreas de passagens para desenvolver projetos temporários. Os trabalhos seguem também os mais diferentes conceitos: pintura, desenho, escultura, restauro, videoinstalação, performance sonora. Mas todos têm em comum uma escolha radical: abriram mão do conforto e das facilidades de um ambiente convencional para habitar galpões industriais abandonados na, ainda marginalizada, zona portuária carioca. De fato, a ocupação da construção dos anos 1930 não foi tarefa fácil. Os novos inquilinos tiveram que buscar soluções criativas para a reforma, erguer suas próprias divisórias, investir em instalações elétricas e hidráulicas. Tudo isso para conviver em um local que respira passagem do tempo e, agora também, arte. Desde que a fábrica foi desativada – e a produção de café, caramelos, balas e chocolates Bhering transferiu-se para Varginha, em Minas Gerais, nos anos 1990 -, o galpão no Santo Cristo não conquistava tanto movimento. Depósitos, oficinas e escritórios ocuparam de início, de forma desordenada, os andares inferiores. Eventualmente, os salões abandonados serviam de locação para fotos e filmes. Um ou outro artista se aventuravam nos andares vazios do edifício de 15 mil m2. A ocupação ganhou fôlego apenas no início de 2010. Vivian Caccuri, artista paulista, foi uma das incentivadoras. “Me encantei na primeira visita e chamei alguns amigos. No boca a boca, vieram mais artistas. Hoje vejo que o espaço tem potencial para abrigar exposições e projetos maiores”, diz ela. Em setembro, os artistas planejam seu primeiro movimento em conjunto: um evento paralelo à ArtRio, Feira Internacional de Arte Contemporânea do Rio de Janeiro, com exposições e visitas aos ateliês. Sem dúvida, a arquitetura monumental da fábrica favorece as mais ousadas apropriações. A dimensão e a claridade dos ambientes. Os revestimentos originais marcados pelo tempo. As escadas e os elevadores industriais com portas pantográficas. A estrutura do telhado e os belíssimos pilares e vigas de ferro trazidos da Alemanha nos anos 1930. Até mesmo o maquinário antigo dos doces, abandonado pelos salões. Inspiração de sobra para renovar e transformar – não apenas a construção como também todo o entorno.