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Entrevista com Jeffrey Bernett

O designer novaiorquino Jeffrey Bernett veio ao Brasil em junho de 2008 para a abertura da primeira loja da B&B Italia na América Latina. Você viu a galeria de fotos com as peças à venda na loja aqui e agora confere a conversa que essa fera do design teve com editoras de Casa Claudia, Lúcia Gurovitz e Regina Galvão.

Por Redação
Atualizado em 14 set 2018, 19h56 - Publicado em 18 jul 2008, 15h08

As peças que você cria para a B&B Italia têm um visual muito coerente, todos os móveis combinam entre si. Essa é uma preocupação em seu trabalho?

Uma das coisas mais importantes para a B&B é pensar os móveis dentro da arquitetura: como a mobília convive em harmonia com o espaço. Os móveis têm que coexistir com outros elementos. Por isso eu sempre penso em criar um convívio equilibrado. Meus móveis formam um família, uma coleção.

Você sempre trabalha com formas delgadas e elegantes. Qual a importância da leveza nas suas criações?

Depende do móvel. Um sofá pode ser um pouco mais volumoso. Mas quando se trata particularmente de criar cadeiras, sempre procuro passar a idéia de leveza. Ou por meio de um desenho mais poético, da forma como o traço executa diferentes movimentos, ou por meio de uma base de apoio muito leve. Para isso, uso as possibilidades tecnológicas que a B&B oferece, e que só ela tem, aliadas a soluções de design. Assim fica difícil para outras empresas copiar o móvel.

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O que é um móvel confortável para você?

É um móvel com uma boa performance, que se relacione com o corpo humano da melhor maneira possível. Quando você investe em um móvel caro, ele precisa superar as suas expectativas. Tem que ser melhor que qualquer outro.

Você tem preocupações ecológicas em seu trabalho?

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Claro. Nós vivemos em um mundo com um número limitado de recursos e estamos esgotando esses recursos rapidamente, então, todos temos que fazer a nossa parte. Os fabricantes com quem trabalho, como B&B e Knoll, têm um estatuto verde, que estabelece, entre outras coisas, os materiais recicláveis e reciclados que o designer tem disponíveis para usar em suas peças. A Knoll usa material reciclado há mais de dez anos, minhas cadeiras têm um grande percentual de plástico reciclado. Sempre pergunto: “não podemos usar um pouco mais?” Isso tende a melhorar com o tempo. Estamos fazendo o máximo possível com a tecnologia disponível hoje para a fabricação de móveis.

O que inspira você? Tudo. Um pequeno detalhe, alguma coisa que atraia o meu olhar. Pode ser uma minúscula peça de uma máquina. Um trabalho criativo como o meu se alimenta de tudo o que você vê, sente, fala e faz. A cadeira Tulip vem da flor (tulipa), então a natureza me inspira. Mas também gosto de observar as pessoas, o que elas apreciam, como reagem ao que faço. A coisa mais agradável que pode acontecer comigo é alguém dizer que gostou do meu trabalho.

Você costuma fazer anotações?

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Eu faço mais anotações do que desenho. Nunca chego a uma solução desenhando. Primeiro resolvo o traço na minha cabeça e aí faço o desenho final. Só preciso da idéia certa.

Como você vê o futuro do design?

É um bom futuro. De dez anos para cá o interesse das pessoas pelo assunto cresceu muito, nunca foi tão grande. E a tecnologia realmente está mudando o modo como vivemos. A tecnologia do futuro é a tecnologia que não se vê, e isso dá muita liberdade para recriar o ambiente onde vivemos e trabalhamos. Se você tem um Ipod, um Iphone, você leva a vida de uma forma diferente daquela de dez ou quinze anos atrás. O poder do design está em ajudar as pessoas a transformar suas vidas.

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Quando você contrata um designer para o seu escritório, que qualidades você procura?

É muito difícil para mim encontrar gente boa, recebo centenas de currículos todos os anos. Preciso de habilidades técnicas muito precisas. Mas uma coisa é desenhar no computador de um jeito muito preciso, outra bem diferente é entender que empurrar uma linha alguns milímetros para lá pode fazer a diferença entre o bom e o excelente. Isso é ter olho. Entender escala e proporção leva muito tempo, é preciso ensinar a pessoa durante um certo período. Então, procuro contratar designers industriais com qualidades técnicas elevadas, mas que também tenham esse olho e, se possível, que entendam de mercado, de desenvolvimento de marca e de relacionamento com os clientes.

Para pessoas que adoram design, que lugares você recomenda visitar em Nova York?

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O novo Moma (Museum of Modern Art, ou Museu de Arte Moderna) é fantástico. O prédio é muito bonito, tem lindas áreas de circulação, um lindo jardim de esculturas e um acervo de arte moderna e contemporânea maravilhoso. Em alguns sentidos, o prédio antigo era mais acolhedor, os espaços são muito maiores agora, mas sem dúvida é um ótimo passeio. O bairro de Chelsea e seu grande mercado de galerias de arte contemporânea também é muito interessante. Entre as lojas de design, sugiro a Moss (150 Greene Street) e, é claro, a B&B Italia (138 Greene Street e 150E 58th Street), que, em Nova York, além de mobiliário também vende objetos. Há ainda um grande número de restaurantes e lojas de moda muito bonitos, como em qualquer grande cidade.

O que você conhece do design brasileiro?

Conheço o trabalho dos irmãos Campana, do qual eu gosto muito. É colorido, alegre, tem a vibração que se vê não só no Brasil, mas em toda a América Latina.

E da arquitetura brasileira?

Oscar Niemeyer, é claro. Mas tenho visto também belas construções de arquitetos dos quais não sei o nome. O Brasil tem o clima perfeito para a arquitetura moderna. É como Los Angeles, sempre faz calor. Isso faz com que os móveis contemporâneos combinem muito bem com a arquitetura brasileira. Em lugares com outro clima, eles podem parecer um pouco frios.

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