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Saiba usar madeira na estrutura

As peças nas medidas encomendadas chegam prontas à obra, propiciando uma construção sem desperdício, rápida e, apesar das polêmicas, econômica

Por Da redação
Atualizado em 19 jan 2017, 15h29 - Publicado em 18 nov 2006, 19h58
Pilares e vigas de cabreúva envernizada sustentam este chalé, en Campos do ...

O Brasil produz 500 mil m3 de madeira reflorestada por ano, mas somente 3% é aproveitado no setor da construção. Números tão tímidos talvez reflitam um traço cultural: “Os colonizadores não usavam essa matéria-prima para erguer moradias, pois tinham a crença infundada de que ela fosse frágil”, justifica o biólogo Geraldo José Zenid, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT). Esse quadro tende a se alterar, visto que o mundo vem despertando para a necessidade de minimizar desperdícios e a madeira começa a ser sinônimo de obra limpa e rápida.

Mas para isso a construção deve resultar de um projeto detalhado e executado por empresas especializadas no setor, que entregam a estrutura pronta. “Em duas semanas, três pessoas erguem o esqueleto de uma obra de 300 m2”, conta o engenheiro Fábio de Albuquerque, da Ecolog Produtos Florestais, de Barueri, SP, que comercializa principalmente madeira certificada pelo Forest Stewardship Council (FSC), entidade que zela pelas reservas mundiais. Além disso, segundo ele, trata-se de material renovável, que demanda menos energia de produção que o aço e o cimento. “Com beleza, praticidade e baixo impacto ambiental, a madeira é imbatível na estrutura”, finaliza Ualfrido Del Carlo, professor da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU/USP).

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Quem devo contratar se eu quiser uma casa com estrutura de madeira? “Somente entendendo a madeira poderemos utilizá-la com inteligência”, dizia Frank Loyd Wright (1867-1959), um dos mestres da arquitetura americana. Diante de um conselho como esse, procure profissionais especializados – eles saberão aproveitar todos os benefícios do material. Cabe ao arquiteto fazer um projeto minucioso em parceria com o engenheiro calculista, que dimensionará os perfis de madeira. Atenção: medidas erradas ou alterações durante a obra devem ser evitadas, pois duplicam os custos, como em qualquer tipo de construção.

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Pronta, a estrutura pode ser coberta e os trabalhos executados mesmo em dias ...

A estrutura de madeira comporta a parede de alvenaria? Sim. Porém os dois materiais se dilatam e se contraem de forma diferente, e a junção entre eles requer cuidados especiais. Para isso, existem várias técnicas. Uma delas sugere reforço de pregos ou barras metálicas entre tijolos e estrutura. “As fissuras são inevitáveis. Acostume-se com elas”, avisa o arquiteto baiano David Bastos.

Custa caro?

O gasto com mão-de-obra é um dos itens mais altos numa construção desse tipo, se comparado a outros métodos construtivos. “A precisão nos detalhes gera um trabalho quase artesanal e pede a contratação de profissionais especializados”, explica David Bastos. O custo do material varia conforme a espécie escolhida. Segundo o arquiteto paulista André Guidotti, madeiras reflorestadas, se cultivadas perto do local onde se constrói, são mais econômicas do que as espécies nativas.

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Itaúba, angico-preto, cumaru, garapeira, roxinho, tatajuba, bacuri e maçara...

Cupins e fogo são grandes inimigos?

Não. Espécies como o cumaru e a tatajuba são naturalmente imunes aos insetos. As demais podem ser tratadas com produtos químicos. Quanto ao fogo, qualquer construção deve ter projetos de elétrica que evitem curtos-circuitos (grande causa de incêndio). “A madeira demora mais tempo para ruir quando em contato com altas temperaturas do que o aço”, afirma Ualfrido Del Carlo.

É ecológico?

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Se comparada a concreto, aço e alumínio, que passam por processo industrial, a madeira demanda baixo consumo de energia de produção. Trata-se de um recurso renovável, porém, o desmatamento tem ameaçado inúmeras espécies. Como alternativa, é possível optar por madeiras certificadas, com selos de garantia como o do FSC. Outra opção são os eucaliptos e pínus de reflorestamento. “Esse processo otimiza áreas degradadas ou abandonadas pela agricultura e pecuária”, afirma Bernardo Pires, técnico do Programa Nacional de Florestas do Ministério do Meio Ambiente. O tratamento anticupim, sofrido pelas espécies reflorestadas, é o ponto fraco dessa história, pois os produtos utilizados são poluentes. Mas, como pondera Pires, dos males, esse ainda é o menor.

Ela estraga com a umidade?

“A madeira até pode ficar em contato direto com a água, mas o que a danifica é o constante processo de umedecer e secar, que propicia a proliferação de fungos”, ensina o professor Ualfrido. Um recurso para evitar isso consiste em afastar os pilares do solo, apoiando-os em sapatas de concreto. Manta de borracha ajuda na impermeabilização. “Providencie também beirais largos”, alerta o engenheiro Daniel Salvatore, da Ita Construtora, de Vargem Grande Paulista, SP.

Na ligação entre os pilares e a fundação de concreto, utilizam-se placas ... Vigas e pilares podem ser unidos por ferragens, parafusos ou encaixes sem pre...

A manutenção dá trabalho?

“Sim. A madeira exige cuidados principalmente quando exposta a sol e chuva”, afirma Guidotti. Em áreas descobertas, é recomendável reaplicar acabamentos de alta proteção, como stain e verniz com filtro solar, a cada três anos. Segundo o biólogo Zenid, do IPT, o stain é a opção mais segura. “O produto penetra na fibra sem formar película e permite que ela respire. Além disso, não é preciso removê-lo na nova aplicação”, diz Flavio Carlos Geraldo, presidente da Associação Brasileira de Preservadores de Madeira (ABPM).

A arquiteta mineira Ana Carolina Poli usou espécies de reflorestamento na es... As peças de jatobá chegaram à obra prontas para a montagem. “Isso gerou e...

Quando vale a pena

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Para ter uma obra limpa.

“A montagem do sistema dispensa fôrmas e tem baixo desperdício de matéria-prima”, diz o arquiteto Marcelo Aflalo.

Se você procura agilidade.“Se planejada, a obra é rápida. Numa casa de concreto é preciso esperar a cura (secagem) do cimento, para depois desenformá-lo. Com a madeira, basta levantar e encaixar os pilares”, ensina o arquiteto André Guidotti.

Quando não vale (tanto) a pena

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Se a casa tiver grandes vãos livres.“Isso exigiria fazer emendas em vigas, mas o Brasil ainda não dispõe de muita tecnologia especializada em madeira. Logo, colar as peças (sistema mais seguro do que usar pregos ou parafusos) ainda não é economicamente viável aqui”, explica o engenheiro Takashi Yojo, pesquisador do IPT.

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