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Entulho pode ser reaproveitado

Em São Paulo, das 17 mil toneladas de resíduos recolhidas diariamente, 5400 são provenientes de construções. A boa notícia: esse material pode ser reaproveitado.

Por Reportagem Lilian Primi Design Juliana Sidsamer e Luiz Gustavo Silviano Ilustrações Jonas Meirelles Foto Marcos Lima
Atualizado em 14 dez 2016, 11h56 - Publicado em 13 out 2011, 15h56
Um título para uma foto sem titulo

Qualquer pessoa que já tenha acompanhado uma reforma sabe que entulho vai para o lixo. Mas, numa rápida conversa com as demolidoras, descobre-se que todo o material pode ser comercializado. Há 20 anos no ramo de demolição, João Humberto Camargo vende esquadrias, portas, janelas, ferragens, louça sanitária, madeiras e telhas, além de tijolos inteiros. Os restos de alvenaria vão para o lixo, mas também teriam serventia. Na escola de pedreiros do Senai do Tatuapé, os professores ensinam os alunos a usar entulho em construções novas. Os resíduos de alvenaria são triturados em um pequeno moinho e, depois, substituem dois terços da areia na mistura da argamassa aplicada em peças não estruturais. Nas obras experimentais da instituição, esse recurso reduziu a quantidade de sobras em 90%, “além de gerar economia”, diz o instrutor José Carlos Rocha. A contenção de gastos começa no descarte: acima de 1 m³, é preciso contratar uma caçamba, que sai em média por R$ 250 (4 toneladas). Se tiver madeira, plástico ou vidro, sobe para R$ 350. A prefeitura de São Paulo também não joga entulho fora. Está utilizando as 64 mil toneladas de resíduos da demolição dos edifícios São Vito e Mercúrio, no centro da cidade, para substituir brita e areia na pavimentação de ruas. Resultado: economia de R$ 3,2 milhões nos gastos com aterro, que cobra para receber os resíduos.

O exemplo de São Paulo

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Projetado pelo engenheiro paulista Aron Kogan (1924-1960) no final dos anos 50 como solução modernista para moradias de baixa renda, o edifício São Vito tornou-se o maior cortiço vertical da cidade nos anos 80. Desde então, a prefeitura vem tentando demoli-lo. A primeira iniciativa, do prefeito Jânio Quadros, não deu certo. A ideia foi retomada em 2003 por Marta Suplicy, mas a demolição só ocorreu de fato em setembro do ano passado, juntamente com o vizinho Mercúrio, com 25 andares na mesma situação. Antes disso, ainda em 2010, outros prédios do entorno já tinham sido derrubados. O objetivo é abrir espaço para a revitalização da área. Segundo a Secretaria Municipal de Infraestrutura, dos resíduos resultantes dos dois prédios, foram britados 39 091,31 m3, e das outras construções, mais 14 640,66 m³. O resultado dessa soma, um total de 53 731,97 m³ de agregado, está substituindo brita e areia na pavimentação de 30 mil metros de vias públicas nos bairros Butantã, Freguesia do Ó, São Miguel Paulista, Parelheiros e Ermelino Matarazzo. Ao evitar a extração de terra, areia e pedra, os benefícios ao meio ambiente são expressivos. Mas as vantagens vão além: os números mostram que a economia com o descarte do entulho foi de R$ 3,2 milhões, além de uma redução de 30% nos custos de pavimentação – enquanto o processo tradicional custa R$ 1,15 milhão por km, com a utilização de brita e areia recicladas, fica em R$ 780 mil.

Entulho em números

64 mil toneladas representam a quantidade de entulho da demolição dos edifícios São Vito e Mercúrio. 17 mil toneladas de lixo são recolhidas diariamente em São Paulo. 5 400 toneladas vêm só de resíduos de construções. R$ 3,2 milhões foram economizados pela prefeitura com a utilização de entulho britado na pavimentação de ruas.R$ 12 mil é o valor da multa por descarte ilegal de resíduos inertes.

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O que diz a Lei

Desde 2002, é proibido jogar entulho em aterros comuns. A resolução nº 307/2002, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que vigora desde junho de 2005, define como deve ser o descarte e quais são os riscos ambientais relacionados a cada material. Em São Paulo, a prefeitura criou as Áreas de Transbordo e Triagem (ATT) para dar um destino seguro aos resíduos. Conheça a lei.

Como descartar seu entulho

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Até 50 kg/dia: se embalado em sacos resistentes como os de ráfia, o lixeiro leva. Basta colocar na porta com o lixo doméstico duas horas antes de o caminhão passar. Até 1 m³ (= 1 tonelada): 43 ecopontos espalhados em todas as regiões da cidade recebem gratuitamente pequenas quantidades de entulho, podas de árvores e restos de móveis. Acima de 1 m³: caçambas cadastradas na prefeitura levam o material para uma das cinco ATT. O preço médio, para 4 e 5 toneladas, é de R$ 300. Peça uma via do documento que comprova o descarte em área licenciada.

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