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Eliana Bórmida e Mario Yanzón falam sobre arquitetura, arte e vinho

Neste ano, a maior feira de revestimentos do país realizará o 8º Fórum Internacional de Arquitetura e Construção

Por Da redação
Atualizado em 14 dez 2016, 11h33 - Publicado em 14 jan 2010, 18h00

De 9 a 12 de março, o Transamérica Expo Center, em São Paulo, receberá a presença de renomados profissionais, entre eles, os argentinos Eliana Bórmida e Mario Yanzón, que farão a palestra Arquitetura: Arte e Vinho e concederam a seguinte entrevista ao editor Danilo Costa, da revista ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO

1. Qual é a diferença entre projetar uma residência e uma adega?

O programa funcional de uma adega deve ser realizado por uma equipe multidisciplinar, dirigida por um enólogo e pelo proprietário da adega, já que eles conhecem bem o plano comercial do projeto, considerando níveis quantitativo, qualitativo e técnico. O arquiteto participa dessas reuniões para organizar todas as necessidades e compreender muito bem o tipo de adega que o cliente está buscando. Os aspectos enológicos são fundamentais e cabe ao arquiteto organizar espacialmente e formalmente o conjunto arquitetônico, atendendo às características de cada caso. As adegas vinícolas são edifícios industriais que devem ser muito eficientes operacionalmente. Por outro lado, elas são pontos de atração de um turismo especializado (enoturismo). Quem visita um lugar assim busca desfrutar do vinho fabricado ali, além de curtir a paisagem e a cultura da região. As adegas devem estar preparadas para receber e cumprir suas expectativas, oferecendo recursos que as tornem memoráveis. Finalmente, a produção de vinho se destina a mercados nacionais e internacionais fortemente competitivos, de modo que o produto deve ter qualidade e identidade. Para isso, o projeto arquitetônico e paisagístico deve trabalhar como parte da imagem de marca.

2. Na Argentina, onde as pessoas costumam construir a sua adega?

Por tradição, as adegas sempre têm estado junto da plantação de uvas e durante séculos também têm estado relacionadas com as casas principais da fazenda, formando conjuntos rurais. A indústria do vinho, em meados do século 20, trocou o cenário e com o crescimento das cidades alguns estabelecimentos lotearam seus vinhedos e seus edifícios relacionados a adegas e acabaram isolados nas cidades. Hoje, elas estão geralmente abandonadas ou ganharam outros fins.

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Quando se trata de um vinhedo novo e a empresa pensa em elaborar seu vinho, sempre se reserva um espaço necessário para levantar o conjunto relacionado à adega. Isso é quase indispensável. Hoje, com a importância da imagem de marca dos vinhos, as adegas estão relacionadas totalmente com os vinhedos. A Argentina vitivinícola está trabalhando duro em seu posicionamento no mercado globalizado e uma de suas estratégias de marketing tem sido a criação de adegas ícone, representativas de nossas regiões, com a missão de divulgar nossa qualidade e nossa identidade. Ainda que existam muitas outras que são somente adegas para elaboração, ou seja, edifícios climatizados e ecosustentáveis sem pretensões arquitetônicas especiais. Estas também estão inseridas adequadamente em meio aos vinhedos.

3. Como as paisagens do vinho, em lugares como Mendoza, podem inspirar o projeto arquitetônico de uma residência?

As paisagens do vinho são essencialmente culturais, portanto são próprias de cada região, únicas e irrepetíveis. Na hora de projetar, é preciso conhecer seus pontos-chave e usá-los para imprimir características únicas na obra. Em Mendoza, a paisagem do vinho se resume num ecossistema cultural de oásis, com direito a vinhas de baixa rega, que verdejam em vastas planícies áridas ao pé da cordilheira dos Andes. Os elementos-chave dessa paisagem são altíssimas montanhas com neve e gelo, que o sol intenso derrete no verão, formando leitos de água pura. Para cultivar, é necessário regar e a água aqui é um bem precioso e escasso. Predominam em nossa terra os materiais áridos (pedras, cascalhos e areia) e as cores neutras (tons terrosos, verdes e violetas). Em Mendoza o ar é muito seco. No verão, o sol queima, mas a sombra é sempre fresca. As pessoas de lá amam a sombra para desfrutar do seu abrigo a surpreendente vastidão da nossa natureza andina. De resto, há inspiração de sobra para projetar.

4. Cada vez mais o entorno é uma preocupação do projeto de uma residência. Vocês também levam isso em conta? O que é uma boa arquitetura para vocês?

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Uma boa arquitetura é aquela que sabe inserir-se bem em seu contexto natural e cultural, entendendo suas especificidades e estabelecendo relações de boa vizinhança com respeito aos valores do conjunto ao qual pertence. Não concebemos nossas obras como artefatos teóricos, isentos de seu lugar específico, mas sim como partes individualmente vinculadas ao entorno existente, dentro do qual causarão impacto de uma maneira ou outra. Na hora de projetar, nos interessa muito imaginar o que vai acontecer com o contexto quando nossa obra estiver inserida no local. Sempre temos consciência de estar intervindo nos contextos patrimoniais, nas paisagens naturais e urbanas, modestas ou relevantes. E nós nos sentimos parte dela.

5. Que grandes arquitetos servem de inspiração para vocês? E na Argentina e no Brasil?

Nosso marco de referências é amplo e bastante livre. Dentro da arquitetura contemporânea, os centros principais do mundo difundem suas obras de forma tão profunda, que é possível admirar do mesmo modo obras de autores tão distintos, como David Chipperfield, Renzo Piano, Herzog & De Meuron, Rafael Moneo e Peter Zumthor. É difícil centralizar as nossas preferências em poucos nomes. De todo modo, acompanhamos de perto a arquitetura espanhola, com a qual sentimos maior afinidade cultural. Na Argentina e nos países mais próximos, Hampton-Rivoira, Carlos Ott, Germán del Sol são alguns dos nomes que primeiro vêm a cabeça, mas há muitos outros. No Brasil, além do gigante Oscar Niemeyer, admiramos muito Lina Bo Bardi e Paulo Mendes da Rocha. Na hora de determinar melhor nossas sintonias, nos sentimos muito mais unidos conceitualmente em relação à sensibilidade dos arquitetos latino-americanos. Enquanto no Velho Mundo o conceito atual de natureza que os profissionais transmitem em suas obras e em suas buscas seja o de uma entidade quase desmaiada, esgotada, pela qual parecem interessar-se somente em tomar energia do sol e do vento, a América Latina ainda sente a natureza se expressando potente e protetora, em suas selvas e desertos, em suas montanhas virgens, em seus rios selvagens… Natureza é para nós fonte de vida e de energia renovada sempre. Nós a enxergamos como uma entidade de esperança, não de desânimo. Queremos acompanhar, nos sentimos filhos da Terra.

6. O que vocês apresentarão na palestra Arquitetura: Arte e Vinho?

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Falaremos da arquitetura do vinho em Mendoza. Hoje, ela é uma das principais regiões referentes à fabricação de vinhos no mundo. Na primeira parte, explicaremos alguns temas base para entendê-la. Em primeiro lugar, estão os aspectos geográficos e do meio ambiente, relacionados ao cultivo da videira na nossa região e à formação de suas características das paisagens vinhateiras. Depois, vamos nos referir à interessante cultura do vinho, desenvolvida ao longo de cinco séculos de tradição, durante os quais foi se criando uma paisagem e um modo de vida com identidade particular. Por fim, chegamos à situação atual, em que tratamos do destaque de Mendoza com seus produtos nos mercados globalizados e do florescente fenômeno do enoturismo. Apresentaremos alguns de nossos projetos mais importantes de arquitetura relacionada a adegas, realizados na ultima década, explicando seus processos de criação, desenvolvimento e construção, e de como essas obras têm influenciado a nossa região vinícola e sua projeção no exterior.

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