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Casa pré-fabricada de madeira: dúvidas e dicas

Preços e prazos enxutos fazem a fama das construções de madeira. Mas será que vale a pena? Conversamos com especialistas e montamos um dossiê completo sobre o assunto

Por MINHA CASA
Atualizado em 19 jan 2017, 13h48 - Publicado em 26 jun 2013, 22h24
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Como peças de um quebra-cabeça, os componentes das moradas pré-fabricadas de madeira são produzidos industrialmente um a um e se encaixam com perfeição quando chegam ao canteiro de obras. Há cerca de 20 anos, esse tipo de estrutura teve seu auge de vendas. Era comum ver showrooms com faixas informando preços bem abaixo do que o mercado de construção em alvenaria praticava. Os tempos eram outros para o setor madeireiro. A classe média experimentava um período de ascensão e estava ávida por investir na casa própria ou até em um endereço de veraneio. E o segmento de pré-fabricadas se aqueceu. Por outro lado, a fiscalização florestal era praticamente inexistente, fazendo a madeira nativa, tão abundante, escassear pela degradação ambiental.

Atualmente, o quadro mudou. A produção da matéria-prima se tornou mais controlada e regrada pelo manejo florestal. Esse conceito prevê a exploração racional dos recursos de uma área, preservando a diversidade local de espécies – é o oposto do desmatamento. Consequentemente, o preço da madeira subiu e ajudou a elevar o custo de construção. Assim, o setor foi obrigado a se adaptar. “As leis para a extração ficaram mais rígidas, e os valores decorrentes do manejo aumentaram. Fora a burocracia, que é demorada e dispendiosa”, conta Waldemir Kürten, diretor do Grupo Kürten. De fato, alguns modelos de pré-fabricadas apresentam preço equivalente ou até superior aos de outros sistemas construtivos. “Passamos a adotar a madeira autoclavada porque sai mais em conta que as espécies nativas certificadas, que são extraídas de modo sustentável”, completa Mateus Fuzon Junior, gerente de vendas da Casas Paraná.

O prazo mais curto de entrega continua sendo uma qualidade, porém relativa. Em nossa pesquisa, a maior variação entre uma casa pré-fabricada e uma de alvenaria é de 40 dias. Isso porque, em geral, o método construtivo é mais complexo do que se imagina: pranchas são encaixadas em uma estrutura também de madeira, formando as paredes. Estas podem ser duplas, com um vão central por onde passam as instalações elétricas, ou simples – neste caso, os conduítes ficam aparentes. É bastante comum que as divisórias de banheiros, cozinha e área de serviço sejam de alvenaria, embutindo as tubulações hidráulicas. Abaixo de todo esse conjunto, vão os alicerces tradicionais, de concreto, definidos em função do terreno e do projeto. Por cima de tudo, o telhado, apoiado no madeiramento.

Construir com madeira no Brasil será mais tentador à medida que se tornarem populares métodos vindos de fora, mais modernos e ágeis na montagem, como o wood frame (sistema industrializado que emprega perfis de madeira reflorestada tratada e fechamento com chapas de OSB) e steel frame (cujo elemento estrutural fundamental é o aço).

Desmistificados os aspectos preponderantes, resta a pergunta: por que ter uma pré-fabricada? “Hoje, o consumidor que procura essa construção é aquele que gosta, acima de tudo, da madeira e de certo estilo de arquitetura”, diz Andrey Quintela, gerente comercial da Brasil Casas.

Confira o orçamento de diferentes casas encomendados a três fabricantes diferentes

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A matéria-prima

Mais que uma alternativa segura ou de melhor qualidade, as edificações de alvenaria, predominantes no Brasil, são uma herança colonial. “Assim como para os portugueses, a madeira nunca foi material construtivo para o brasileiro. Nos Estados Unidos, é completamente diferente”, comenta Flávio Carlos Geraldo, biólogo com mestrado em ciência e tecnologia de madeiras pela Universidade Federal do Mississippi, EUA, e presidente da Associação Brasileira de Preservadores de Madeira (ABPM). No entanto, é fundamental fazer uma ressalva: para os especialistas, as pré-fabricadas tradicionais empregam tecnologia defasada, em contraposição ao wood frame, utilizado em 95% das residências norte-americanas, por exemplo. “É o sistema construtivo do futuro”, afirma Carlito Calil Junior, engenheiro e professor do Laboratório de Madeiras da Universidade de São Paulo (USP) – São Carlos. Segundo ele, o wood frame apresenta mais vantagens em termos de conforto térmico e acústico, manutenção, fabricação e montagem.

 

Tratamento eficiente

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Grande parte das espécies nativas brasileiras (confira a listagem no site do Instituto de Pesquisas Tecnológicas – IPT) são naturalmente resistentes aos biodeterioradores, representados pelos insetos que se alimentam de madeira (cupins e brocas) e pelos fungos apodrecedores. “Já as variedades de reflorestamento, em geral pínus e eucalipto, devem necessariamente passar por tratamento para serem usadas na construção civil”, esclarece Flávio, da ABPM. Não pense que essa ação é superficial: as madeiras sofrem o processo industrial em uma usina de tratamento antes de chegarem ao consumidor. Aplicam-se nas peças os chamados preservativos, que, por meio de alta pressão, se incorporam na matéria-prima – método conhecido como autoclavagem. “A empresa com que trabalhamos garante a fixação do produto por até 30 anos”, exemplifica Waldemir Kürten. Então anote a dica: caso prefira apostar em uma espécie de cultivo, questione se ela é autoclavada. Há também outro ponto relevante nesse quesito: madeira pega fogo – mas concreto e alvenaria também! Por isso, uma casa de madeira, executada segundo padrões de qualidade e segurança, não é menos ou mais segura que outras. Para ter uma garantia extra, pode-se lançar mão de tintas antichamas, que fazem o fogo se alastrar mais lentamente e sem tomar grandes proporções. Esse produto é aplicado com compressor sobre a matéria-prima crua, sem alterar sua coloração natural – basta seguir as instruções do rótulo.

Questão ecológica

Uma das primeiras perguntas que vêm à mente assim que pensamos em casas de madeira é se essa opção não incentivaria ainda mais o desmatamento. A resposta pode surpreender. Se a matéria-prima for proveniente de áreas legais e fiscalizadas, acontece justamente o contrário: torna-se uma alternativa mais ecológica quando comparada a outros materiais. “Cimento e concreto geram mais resíduos, e o processo de produção desses insumos consome muito mais energia que o da madeira, que, simplificando, utiliza apenas energia solar”, explica o engenheiro florestal Marcio Augusto Rabelo Nahuz, pesquisador do IPT na área de sustentabilidade de recursos florestais. “Poucos se dão conta de que a madeira é o único material reciclável e renovável do mercado”, completa o arquiteto Enzo Grinover, do escritório paulistano Grinover Associados. Então, como saber se a procedência da matéria-prima é legal? No caso das espécies nativas, exija da construtora o Documento de Origem Florestal (DOF), licença obrigatória emitida pelo Ibama comprovando que o produto vem de uma área legal. Há também o selo Cerflor (Programa Brasileiro de Certificação Florestal, do Inmetro), concedido a empresas em conformidade com as regras de manejo (veja a lista completa em https://abr.io/listacerflor), e o FSC (Forest Stewardship Council), de mesma natureza, reconhecido em todo o mundo. Na dúvida, é possível solicitar às construtoras ou madeireiras a apresentação dessa última certificação e o código de licença para verificar no site info.fsc.org se o cadastro e a auditoria estão realmente válidos.

 

O caminho das pedras para o projeto perfeito

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O modelo

 

De modo geral, as empresas disponibilizam uma cartela de casas do tipo chalé. Pode-se adotar um modelo padrão, contudo a maioria das pessoas pede modificações – uma sugestão é incluir beirais largos, que preservam o madeiramento ao longo do tempo. Alguns fabricantes aceitam encomendas 100% personalizadas, desenvolvidas pela equipe da própria construtora ou por um arquiteto contratado pelo cliente. Lembre-se, porém, de que alterações implicam custos extras e, se a obra crescer, a data de entrega se estenderá.

O terreno

 

Os cuidados na escolha da área para receber uma moradia de madeira são os mesmos demandados por uma de alvenaria. É possível, portanto, construir perto de rios e córregos, bem como em lotes em aclive ou declive, desde que se respeitem as normas legais e do meio ambiente. Da mesma maneira, empregando madeira ou alvenaria, deve-se sempre exigir uma ótima impermeabilização da base, determinante para a qualidade da construção. Uma medida importante é verificar se a região tem tendência a infestações de cupins de solo. Em caso afirmativo, a responsabilidade pela eliminação da praga cabe ao comprador, que precisa realizá-la antes do início das obras. Periodicamente, é essencial monitorar e efetuar novos tratamentos, pois os venenos possuem prazo de validade. Esse cuidado vale a pena por ser relativamente simples e em conta, não importando se a madeira tem resistência natural a insetos ou se é autoclavada.

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Detalhes construtivos

 

As réguas, com encaixe macho e fêmea, podem formar paredes simples ou duplas. “As simples invariavelmente transmitem ruído e temperatura”, afirma Marcio, do IPT. E não importa se são de madeira nativa ou reflorestada. “Já a divisória dupla, com ou sem recheio de lã de vidro, proporciona melhor desempenho termoacústico”, explica Waldemir, do Grupo Kürten. Ambas as versões possibilitam reformas futuras: é possível derrubar paredes, ampliar cômodos e mudar pontos de luz – como em qualquer obra –, desde que se conte com um profissional que, munido da planta baixa, verifique a concentração dos pesos e as instalações.

Chave na mão X Kit

 

Os especialistas recomendam que se opte por construtoras que ofereçam o serviço todo, o chamado sistema chave na mão: a empresa cuida desde a fundação até a aplicação dos revestimentos, combina o prazo para a entrega da chave e a casa vem completa, com janelas, louças sanitárias, acabamentos… Quase sempre, as firmas que trabalham assim solicitam que o terreno esteja limpo e com pontos de água e energia elétrica. Já o kit inclui somente o material básico da estrutura (montantes, pranchas, madeiramento do telhado, portas e janelas) e o manual de construção. Todo o resto fica por conta do cliente: fundação, mão de obra, montagem, acabamentos etc. Atenção, pois é aqui que mora a cilada: pacotes do tipo kit são bem mais baratos. Ao cogitar uma pré-fabricada nesse esquema, monte uma planilha e anote tudo para ter certeza de que haverá mesmo economia. Lembrando ainda que, nesse segundo caso, é imprescindível contratar um engenheiro ou um arquiteto para acompanhar todas as etapas da obra. Independentemente do sistema, nunca são inclusos muro, portão, piscina, aquecedor solar, calefação, ar-condicionado, churrasqueira, lareira, armários e mobiliário.

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A escolha da marca

 

Grandes empresas de pré-fabricadas têm abrangência nacional e erguem casas nas mais variadas regiões do país. Portanto, não deixe de pesquisar construtoras de renome em outros estados. Junto a órgãos de defesa do consumidor, como Procon e Reclame Aqui, cheque a idoneidade da empresa e visite clientes que já construíram com ela. Se todos os requisitos forem aprovados, defina o modelo de chalé mais adequado a seu terreno, suas expectativas e condições. Então é a hora de estudar com afinco o projeto detalhado de fundações, hidráulica e elétrica e pedir a avaliação de um profissional (engenheiro ou arquiteto não vinculado à construtora). Saiba que a lei obriga as empresas a oferecer garantia de cinco anos para defeitos estruturais. Isso é importante porque, conforme as condições climáticas, a madeira pode dilatar, entortar… Há fabricantes que disponibilizam, ainda, assistência técnica ou revisão programada, que servem como garantia extra para outros eventuais defeitos, mesmo de acabamento. Ao receber o contrato, leia-o atentamente, pois ele deve conter todas as informações relativas à construção – matéria-prima, materiais e revestimentos inclusos, prazos, preço do frete, mão de obra, se as paredes são duplas ou simples, se há ou não manta térmica, vistorias técnicas, garantias etc. Quando fecha-se o negócio, um engenheiro da empresa costuma visitar o canteiro. Dica MINHA CASA: para compreender como todo o cuidado é pouco, leia o diálogo (https://abr.io/prefabric) que esta repórter teve com a atendente de um fabricante duvidoso, sem se identificar como imprensa. Caso passe por uma conversa semelhante durante sua pesquisa, fuja imediatamente!

Pagamento e financiamento

 

As construtoras consultadas oferecem diversas formas de pagamento. Além da negociação à vista, pode-se combinar o parcelamento de acordo com o cronograma da obra. Há aquelas que aceitam veículos como parte do valor, trabalham com sistema de crédito pré-aprovado, cartas de crédito, consórcio e cartão BNDES, entre outros. Outra possibilidade, que não diretamente com os fabricantes, é por meio da Caixa Econômica Federal, que financia imóveis de madeira já construídos ou por construir. Quando a área úmida é de alvenaria, pode-se financiar 100% do valor; quando não, o financiamento máximo cai para 80%. Em ambos os casos, o limite é de 15 anos. Já o Programa Minha Casa Minha Vida não contempla moradias pré-fabricadas.

Quem gosta cuida

 

Finalmente as chaves da casa nova estão em suas mãos? Seja ela de espécie nativa e certificada ou de madeira de reflorestamento autoclavada, agora cabe a você mantê-la em boas condições para que dure bastante. Flávio, da ABPM, indica que a construção receba stain, um impregnante químico que trata e protege a matéria-prima. “Ele penetra na superfície e não forma filme, permitindo que a umidade saia. Ainda atua como hidrorrepelente e possui filtro solar”, explica. Para o stain atingir total eficácia, precisa ser aplicado sobre a madeira limpa, sem pintura ou verniz. Já esse último é alternativa para quem quer um acabamento diferente, como um toque de cor ou brilho. O conselho de Waldemir Kürten para prolongar a durabilidade do verniz é misturá-lo com um pouco de tinta a óleo de uma cor que você deseje. Para saber quando reaplicar o stain ou o verniz, observe a aparência das tábuas – se estiverem pálidas e esmaecidas, esse é o momento.

 

 

 

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