Confira a entrevista com a ex-diretora executiva do Pritzker Martha Thorne
Thorne atualmente faz parte do júri internacional do prêmio ArcVision. Ela participa do FIER+ (Fórum Internacional Expo Revestir)
A Expo Revestir convida, todos os anos, profissionais das áreas de arquitetura, decoração e artes para oferecer palestras ao público. Uma das convidadas do FIER+ (Fórum Internacional Expo Revestir), promovido pela Anfacer, é Martha Thorne, que comandou a direção executiva do The Pritzker Architecture Prize (Prêmio Pritzker).
Formada em Artes pela State University of New York e com mestrado em Planejamento Urbano pela University of Pennsylvania, Thorne atualmente faz parte do júri internacional do prêmio ArcVision: Women and Architecture, que homenageia arquitetas que se destacam no segmento e é reitora da IE School of Architecture and Design de Madri e Segóvia, na Espanha.
Confira a entrevista cedida por ela ao Casa.com.br!
Como ex-diretora executiva do Prêmio Pritzker de Arquitetura, quais são as características mais importantes, na sua opinião, que arquitetos e designers devem ter hoje?
As exigências da arquitetura e o papel dos arquitetos estão em um momento de transição. O impacto das mudanças climáticas, rápida urbanização, tecnologia, migração, demandas por moradia e preocupações com saúde e bem-estar têm implicações diretas em nosso ambiente construído.
Portanto, a arquitetura não deve apenas projetar ambientes bonitos, funcionais e significativos, mas também deve responder a essas questões mais amplas de maneira real. Os arquitetos não podem mais se ver como profissionais apenas para criar objetos bonitos, devem também se tornar líderes na transformação da arquitetura para responder aos desafios sociais que todos enfrentamos.
Estamos emergindo novamente após dois longos anos enfrentando a pandemia de covid-19. O que você acha que mudou em termos de desafios e papel social da arquitetura e do design?
A pandemia fez com que passássemos cada vez mais tempo dentro de casa e muitas vezes tivéssemos que usar nossas casas para várias funções. Isso destacou a conexão do espaço interior com nossa saúde – física, mental e emocional – e nos mostrou a necessidade de espaços flexíveis que possam se adaptar a várias funções diferentes.
Portanto, isso significa que, ao projetar novos espaços (e adaptar os existentes), precisamos levar em consideração ainda mais parâmetros se quisermos criar espaços verdadeiramente centrados nas pessoas.
Considerando a sua formação académica em Artes e Urbanismo, que tipos de ligações podemos estabelecer hoje entre a Arte e as cidades?
Sabemos que as cidades são muito mais do que um conjunto de edifícios onde as pessoas residem e trabalham. As cidades são reflexos de nossas sociedades não rurais, onde esperamos que as pessoas possam se unir para crescer e se desenvolver ao máximo. As cidades são lugares de educação, inovação, desenvolvimento econômico, diversidade, cultura, esforços coletivos, governança e, acredito, nossas esperanças para o futuro.
A arte, em todas as suas manifestações, dá vida às cidades e nos ajuda a conectar uns com os outros, nosso passado e futuro. A arte, seja uma praça, um festival, um museu, a natureza na cidade ou expressões artísticas urbanas, tudo nos ajuda a formar uma memória coletiva e a sentir que pertencemos a um lugar. Todas as intervenções no ambiente urbano devem, portanto, ser avaliadas também em termos de sua contribuição para a cultura da cidade.
Que papel você acredita que a Arte, a Arquitetura e o Design devem desempenhar no mundo tão complicado de hoje (enfrentando guerras, pobreza e questões de sustentabilidade)?
A arte tem sido frequentemente pensada como apenas a expressão criativa de uma pessoa, enquanto a arquitetura e o design tenham sido tradicionalmente pensados como a criação de projetos – grandes e pequenos – para determinadas atividades e propósitos. Vejo que esses três campos podem e devem estar mais próximos hoje.
A arte sempre teve o poder de comunicar. Pode responder aos desafios da sociedade e nos lembrar de nossa humanidade. Assim como a arquitetura e o design precisam ir além de iniciativas funcionais e de propósito único para serem conscientes de seus impactos e respostas aos desafios da sociedade, a arquitetura e o design, como a arte, podem expressar nossas culturas e nossa humanidade.
O Brasil possui um grande território com uma grande diversidade de culturas, centros urbanos e realidades econômicas. Para a última pergunta, gostaria de saber se você pode compartilhar seus pensamentos sobre arquitetura, cidades e artes brasileiras.
O Brasil é um país com enorme potencial e grandes riquezas – seu território, recursos, diversidade, indústrias e pessoas. Objetivos amplos sobre meio ambiente, caminhos sustentáveis para o futuro e a necessidade de justiça e igualdade social podem e devem ser implementados usando diferentes estratégias dependendo do local específico.
Como um país grande e “jovem”, sempre testemunhei talentos e energia empolgantes na arquitetura, nas artes e nas cidades brasileiras. Esta energia e talento devem ser apoiados e abraçados como um dos recursos naturais mais interessantes do país. Estou de olho em arquitetos, designers e artistas do Brasil, pois eles estão nos mostrando novas e empolgantes abordagens.
Martha Thorne
Honrado FRIBA Honrado COAM
Distinto Professor IE School of Architecture and Design
Conselheiro Sênior do Prêmio OBEL