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A maior coleção de Lina Bo Bardi é exposta em museu da Bélgica

Com 41 peças à mostra, o museu belga Design Museum Gent busca ajudar a estabelecer a arquiteta como mestre de todos os ofícios

Por Yara Guerra
Atualizado em 17 fev 2020, 15h45 - Publicado em 30 out 2019, 16h45
1-museu-expoe-maior-colecao-de-lina-bo-bardi-ja-apresentada-em-um-so-lugar
(Divulgação/Casa.com.br)

Curada pela arquiteta Evelien Bracke, a nova exposição do Design Museum Gent (Bélgica) celebra o trabalho de Lina Bo Bardi com a maior coleção de seus móveis já apresentada em um só lugar.

A mostra teve início no dia 25 de outubro. Com o título de “Lina Bo Bardi e Giancarlo Palanti. Studio d’Arte Palma 1948-1951“, conta com 41 peças da modernista brasileira e espera estabelecer Bo Bardi como uma mestre de todos os ofícios, cuja filosofia holística abrange várias áreas.

“Seu trabalho vai além da arquitetura ou do design – ela criou um universo inteiro”, diz a curadora da exposição. “A mostra não apenas realiza uma reavaliação crítica das contribuições de Lina Bo Bardi para arquitetura, design, educação e prática social, mas também apresenta seu trabalho para o público fora do campo especializado da arquitetura”.

Abaixo, você pode conferir cinco escolhas feitas por Bracke de peças seminais do Studio de Arte Palma e a explicação de como elas estavam à frente de seu tempo:

Cadeiras MASP projetadas para o auditório do Museu de Arte de São Paulo, 1947

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(Divulgação/Casa.com.br)

“A necessidade de maximizar o escasso espaço disponível no auditório do primeiro local do museu MASP levou Lina Bo Bardi a planejar um auditório com móveis simples, confortáveis e que pudessem ser removidos com rapidez e facilidade”, explicou Bracke.

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Para atender a esses requisitos, Lina criou uma cadeira que poderia ser empilhada sempre que fosse necessário usar todo o espaço do auditório – a primeira a funcionar desta forma. Seu lançamento foi feito de madeira de jacarandá.

O material, local e altamente durável, foi usado como base e finalizado com estofamento de couro, enquanto as versões posteriores usavam madeira compensada e lona como materiais mais facilmente disponíveis e acessíveis.

Como muitas peças de móveis de Bo Bardi, as cadeiras foram criadas sob encomenda, o que significava que tinham distribuição limitada.

Poltronas Tripé do Estúdio Palma, 1949

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(Divulgação/Casa.com.br)

“O design de Bo Bardi e Palanti para esta poltrona foi influenciado pelo uso de redes indianas, que podem ser encontradas em barcos que viajam pelos rios do norte do Brasil”, disse Bracke. “Ela os descreveu como um cruzamento entre uma cama e um assento, observando que: ‘seu maravilhoso ajuste na forma do corpo e seu movimento ondulado a tornam um dos dispositivos mais perfeitos para descansar'”.

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Enquanto as iterações iniciais da peça usavam madeira para a armação ao lado de um assento pendurado em lona ou couro grosso, esta versão mais leve contava com uma base de metal.

Em uma nota escrita por Pietro Maria Bardi (marido de Lina) após a morte de sua esposa, ele descreveu sua abordagem aos edifícios e móveis como indissociavelmente ligada: “Para Lina, projetar uma cadeira significava a respeitar a arquitetura. Ela enfatizou o aspecto arquitetônico de uma peça de mobiliário e via arquitetura em todos os objetos”.

Mesa Girafa e três cadeiras projetadas para o restaurante Casa do Benin, 1987

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(Divulgação/Casa.com.br)

“Após o período do Studio Palma, Bo Bardi projetou móveis quase exclusivamente para prédios públicos que ela criou, seguindo sua idéia de ‘arquitetura pobre'”, disse Bracke. O termo se refere ao uso de materiais mínimos e humildes para criar o maior impacto possível, na esperança de eliminar o “esnobismo cultural” em favor de “soluções diretas e brutas”.

“Um exemplo disso são as cadeiras e mesas Girafa, que ela projetou para um restaurante no jardim do museu da Casa do Benin em Salvador”, continuou Bracke. “Eles também enfatizaram a importância que ela atribuiu aos móveis em sua agenda arquitetônica mais ampla, fora de seu trabalho no estúdio”.

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As peças, desenvolvidas em colaboração com seus assistentes Marcelo Ferraz e Marcelo Suzuki, ainda hoje são produzidas pela marca brasileira Dpot e podem ser experimentadas pelos visitantes da exposição no Museu de Design Gent.

Espreguiçadeira projetada para Casa Valéria Cirell, após 1958

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(Divulgação/Casa.com.br)

A única exceção ao foco singular de Bo Bardi em espaços públicos, e não privados, foi esta cadeira. “Ela produziu esta espreguiçadeira para sua amiga Valéria Cirell, cuja casa construiu em uma área residencial de São Paulo”, disse Bracke.

A peça é composta por estofamento de couro removível suspenso em uma estrutura de ferro. “O quadro distintivo lembra a icônica cadeira borboleta”, continuou Bracke. “E uma pesquisa recente da Galeria Nilufar de Milão prova que ela de fato criou o conceito vários anos antes, provavelmente durante o período do Estúdio Palma”.

Cadeiras projetadas para o SESC Pompéia, década de 1980

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(Divulgação/Casa.com.br)
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Para entender o conceito de “arquitetura pobre” de Bo Bardi, basta analisar a estrutura do centro esportivo e cultural SESC Pompéia �� uma antiga fábrica de tambores de aço cujo exterior de concreto bruto ela deixou praticamente intacto, mas pontuado por janelas e passagens aéreas angulares.

“Lina aplicou essas mesmas ideias em seus móveis”, disse Bracke. “Você pode ver isso nas mesas e cadeiras que ela projetou para o SESC Pompéia, que são feitas de grossos blocos de madeira e tábuas.”

“Ela usou pinho, uma espécie de reflorestamento que é muito durável. Seu amigo, o engenheiro químico Vinicio Callia, pesquisava o material e descobriu que ele poderia ser usado quando jovem, com cerca de oito anos, quando tratado e colado com uma fórmula química específica”, continuou Bracke.

Como o material atendia às demandas estéticas e práticas, Bo Bardi passou a usá-lo para tudo, desde sofás a mesas infantis, enquanto, como sempre em seu trabalho, era guiada pelas propriedades naturais do material.

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