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Chapas de madeira: um raio X dos materiais mais usados na confecção de móveis

A madeira maciça vem perdendo lugar para os painéis de madeira industrializada de manejo sustentável. Ensinamos também você a escolher seu piso de madeira de demolição.

Por Texto Daniella Grinbergas Fotos Luis Gomes Reportagem Visual Tatiana Guardian
Atualizado em 20 dez 2016, 18h17 - Publicado em 30 mar 2011, 17h42
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Quem nunca se deparou com esta situação: você chega a uma loja de móveis planejados, pergunta qual é o tipo de madeira usado pela empresa e a resposta quase sempre é formada de letrinhas que não dizem muita coisa? MDF, MDP, OSB, HDF e os mais familiares aglomerado e compensado. “Os clientes não conhecem as matérias-primas dos móveis e, muitas vezes, são levados a acreditar que um produto é melhor ou pior somente pela avaliação do preço”, confirma Raphael Rizzatto, proprietário da Marcenaria Rizzatto’s, de Curitiba. Para começo de conversa, a principal vantagem das placas frente à madeira maciça é o custo reduzido, além da preservação do meio ambiente. “Esse setor possui 500 mil hectares de florestas de manejo sustentável no país”, enfatiza Rosane Dill Donati, superintendente da Associação Brasileira da Indústria de Painéis de Madeira (Abipa). As empresas associadas a essa entidade recebem certificações pela qualidade da produção e pelo uso de madeira de reflorestamento. A maioria também possui Selo Verde e Certificação Florestal concedidos por instituições ligadas ao Conselho Brasileiro

de Manejo Florestal, o FSC Brasil.

*Preços pesquisados entre 3 e 14 de março de 2011, sujeitos à alteração.

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MDF (Medium Density Fiberboard – painel de fibras de média densidade)

 

Composição: fibras de madeira aglutinadas e compactadas com resina sintética por meio de pressão e calor. As fibras são pedaços maiores do que as partículas que compõem o MDP e o aglomerado.

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Aparência: ao olhar para as laterais do material sem revestimento, percebe-se que ele é uniforme e liso, constituído de fibras que deixam a superfície com o mesmo aspecto das bordas.

Tipos de revestimento: comporta pintura simples e laqueada, laminados e impressões.

Dimensões: a medida mais encontrada é de chapas de 2,75 x 1,83 m. As espessuras vão de 3 a 30 mm.

Uso: “É bastante empregado em peças frontais e fundos de móveis, além de laterais e fundos de gavetas”, aponta Rosane Dill Donati, da Abipa.

Vantagens e desvantagens: “No Brasil, a produção do MDF começou em 1997, para competir com o aglomerado, muito usado na época”, conta o arquiteto Antonio Franco, de São Paulo. Dentre as qualidades, destacam-se a facilidade para executar trabalhos em baixo-relevo, entalhes e usinagens (processo que resulta em cortes bem acabados e dá diferentes formas ao móvel); a espessura a partir de 3 mm, contra os 9 mm mínimos do MDP, por exemplo; a boa resistência na aplicação das ferragens; e a alta resistência a empenamentos.

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Preço médio: R$ 130 a placa de 2,75 x 1,83 m e 15 mm de espessura, coberta de laminado de baixa pressão, e R$ 95 a mesma chapa com 6 mm de espessura. Sem revestimento, o painel de 15 mm na mesma medida sai por R$ 80, e o de 6 mm, R$ 45.Um título para uma foto sem titulo

HDF (High Density Fiberboard – painel de fibras de alta densidade)

 

Composição: são fibras de madeira que passam por processo semelhante ao do MDF – a diferença é a maior pressão aplicada durante a fabricação.Aparência: as chapas são homogêneas e possuem superfície lisa, uniforme, de alta densidade e pequena espessura.Tipos de revestimento: pode receber pinturas e vernizes, além de aceitar bem os laminados.Dimensões: os painéis costumam medir 2,75 x 1,85 m, com as menores espessuras – de 2,5 a 6 mm.Uso: funciona bem como lateral e fundo de móveis, gavetas e divisórias. O HDF também é utilizado em artesanato e na produção de brinquedos. Vantagens e desvantagens: como o MDF, serve para trabalhos de usinagem e entalhes. “Por ser um material de alta densidade, suporta mais peso e pode vencer vãos maiores sem a necessidade de reforço”, explica o arquiteto e designer paulista Paulo Alves, sócio da Marcenaria São Paulo. Logo, o HDF é mais caro. Ainda assim, quando não é necessária uma base tão segura, o MDF é uma alternativa melhor.Preço médio: R$ 110 o painel de 2,75 x 1,85 m e 6 mm de espessura, revestido de laminado de baixa pressão. A placa na mesma medida, mas com 3 mm de espessura e sem acabamento, sai por R$ 30.Um título para uma foto sem titulo

MDP (Medium Density Particleboard – painel de partículas de média densidade)

 

Composição: as placas são feitas de partículas de madeira. As partículas maiores ficam no meio do painel, e as mais finas são colocadas nas superfícies externas, formando três camadas. São aglutinadas e compactadas com resina sintética por meio de pressão e calor. As partículas são menores do que as fibras de madeira que compõem o MDF e as lâminas do compensado. “Considerado uma evolução do aglomerado, o material é resultado de grandes investimentos no desenvolvimento desse produto”, explica Graça Berneck Gnoatto, diretora comercial da Berneck, empresa que produz e comercializa painéis de madeira, de Araucária, PR.

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Aparência: é possível ver as camadas na lateral da chapa. “As partículas finas se acomodam nas faces, e as mais grossas, no miolo”, indica Graça.

Tipos de revestimento: aceita pintura simples e laqueada, laminados e impressões.

Dimensões: a medida mais encontrada é 2,75 x 1,84 m. As espessuras vão de 9 a 28 mm.

Uso: portas, prateleiras, divisórias, tampos retos e laterais de móveis e gavetas. Vantagens e desvantagens: por levar micropartículas na composição, não pode receber usinagens e entalhes profundos. Dentre as vantagens, ressaltam-se a boa fixação das ferragens específicas, pois o MDP possui partículas grossas no miolo que as sustentam; a menor absorção de umidade se comparado ao MDF (sua densidade é superior a 900 kg/m³, contra 730 kg/m³ do MDF); a boa aderência da tinta na hora de pintar; e o preço mais em conta. Mas é preciso ficar atento: muitos vendedores afirmam que o MDP é exatamente o mesmo material que o aglomerado, o que não é verdade.

Preço médio: R$ 100 a placa de 2,75 x 1,84 m e 15 mm de espessura, revestida de laminado de baixa pressão. A chapa crua tem preço médio de R$ 70.

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Aglomerado

 

Composição: os painéis de partículas de madeira são menos usados atualmente, pois perderam lugar para o MDP. “O aglomerado brasileiro produzido na década de 60 era diferente do fabricado no restante do mundo – tinha mais qualidade, pois era feito de cavacos de madeira, e não de resíduos industriais”, conta Rosane, da Abipa. “O problema é que as empresas fabricantes de módulos e armários utilizavam as mesmas ferragens da madeira maciça, mas, como o aglomerado tem espaços ocos internamente, não as fixava. Por isso, a má fama do produto”, explica Paulo Alves. Com a evolução dos processos tecnológicos, ele perdeu espaço para o MDP. É preciso também levar em conta que, na fabricação de aglomerados, ainda são usadas madeiras tropicais provenientes de florestas nativas – outro ponto a favor do MDP.

Aparência: não é possível distingui-lo visualmente de uma chapa de MDP.

Tipos de revestimento: “Aceita bem pinturas e vernizes, mas não os laminados, pois sua superfície não é tão lisa e uniforme quanto a do MDF ou MDP”, esclarece Paulo.

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Dimensões: a medida mais comum é 2,75 x 1,83 m. As espessuras variam de 8 a 40 mm.

Uso: pode compor portas, laterais de móveis, gavetas e prateleiras, porém somente com as ferragens específicas para o material.

Vantagens e desvantagens: “Se comparado ao MDF e ao MDP, ele tem menores chances de empenar, pois recebe menos pressão na fabricação”, afirma o designer. Porém, não suporta tanto peso quanto o MDP, segundo Atílio Formágio Neto, coordenador de produtos da Masisa Brasil, empresa de Curitiba que fabrica e comercializa painéis de madeira.

Preço médio: R$ 30 a placa de 1,20 x 1,20 m e 15 mm de espessura, com revestimento melamínico branco. O mesmo painel sem acabamento custa R$ 20.

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Compensado

 

Composição: os painéis são formados de lâminas de madeira sobrepostas e cruzadas, unidas por adesivos e resinas por meio de pressão e calor. Há dois tipos de compensado: o multilaminado, composto apenas de lâminas sobrepostas e cruzadas, e o sarrafeado, que possui essa estrutura nas superfícies, mas tem, no interior, um tapete formado de madeira serrada. O segundo é mais caro devido ao processo de fabricação e à menor procura. “Pouca gente sabe que o sarrafeado empena menos do que o multilaminado, que é mais difundido”, comenta Paulo Alves.

Aparência: o compensado multilaminado (foto) é uniforme, com laterais que acompanham a superfície. Já as laterais do sarrafeado mostram um miolo que se diferencia das lâminas.

Tipos de revestimento: recebe pinturas e vernizes, mas, se o revestimento for laminado, corre o risco de apresentar bolhas com o passar do tempo. Dimensões: a medida mais comum é de chapas de 2,20 x 1,60 m. Os multilaminados de 3 a 6 mm de espessura possuem três lâminas, e os de 8 a 18 mm (foto), cinco. Uso: móveis e painéis divisórios.

Vantagens e desvantagens: as chapas de compensado são as madeiras industrializadas mais antigas – chegaram ao Brasil na década de 40. “Como o nome diz, uma lâmina compensa as tensões no sentido contrário da outra. Assim, ao receber peso, as fibras o distribuem melhor, o que torna o conjunto bem estável”, esclarece Antonio Franco. Apesar de ser muito resistente e durável – diversos especialistas acreditam que seja a melhor das opções -, depois do advento do MDP e do MDF, o compensado perdeu espaço por ser mais caro e menos sustentável. “Segundo estimativas da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci), 40% do compensado brasileiro ainda é produzido com matéria-prima proveniente de floresta nativa”, enfatiza o arquiteto.

Preço médio: R$ 160 a placa do multilaminado de 2,20 x 1,60 m e 15 mm de espessura, com laminado de cerejeira, e R$ 190 a chapa do sarrafeado de 2,75 x 1,60 m e espessura de 18 mm, com o mesmo revestimento. Sem acabamento, a primeira vale R$ 85, e a segunda, R$ 105.

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OSB (Oriented Strand Board – painel de lascas de madeira orientadas)

 

Composição: lascas de madeira são prensadas em três camadas perpendiculares e unidas com resina aplicada sob alta pressão e temperatura.

Aparência: as grandes lascas ficam evidentes.

Tipos de revestimento: normalmente, não recebem acabamento. “Por ser rugoso, o OSB aceita somente aplicação de vernizes e tinta. Produtos laminados não aderem bem”, afirma Paulo Alves.

Dimensões: as placas costumam medir 2,20 x 1,10 m e 2,44 x 1,22 m. As espessuras vão de 6 a 30 mm.

Uso: vistas como tapumes em obras, as chapas também são empregadas em painéis, móveis e projetos alternativos de decoração. Por ser fabricado com cola resistente à umidade, o OSB pode ser ainda opção para móveis de ambientes externos. Vantagens e desvantagens: “A mais barata das chapas é a mais impermeável”, garante o designer. Quanto à força e à capacidade de suportar cargas, tem características semelhantes às dos painéis de MDF e de MDP.

Preço médio: R$ 50 a placa crua de 2,44 x 1,22 m e 15 mm de espessura.

Para não restarem dúvidas, clique nas perguntas para ler as respostas

As chapas de madeira industrializada vêm mesmo para substituir a madeira maciça?

 

“Com certeza. Os painéis são produzidos com madeiras de cultivo florestal sustentável, por isso são ecologicamente corretos”, diz Rosane, da Abipa. E o produto tem espaço garantido no mercado. “As placas de madeira reconstituída já são responsáveis pelo maior volume de móveis fabricados no mundo”, assegura Antonio Franco. A diferença do uso entre as maciças e os painéis industrializados está no aproveitamento da matériaprima. A indústria consegue aproveitar completamente a madeira nas chapas, pois utiliza o material quebrado em fibras e partículas, enquanto peças de madeira maciça acabam desperdiçando parte do material.

No Brasil, quais são os painéis mais usados para armários e módulos?

 

Segundo dados da Abipa, as placas de MDF e MDP disputam a preferência dos fabricantes de móveis e dos consumidores. “Nas pequenas e médias marcenarias, os compensados ainda têm grande espaço. Isso porque, na verdade, muitas delas não possuem equipamentos adequados para trabalhar com o MDF e o MDP”, justifica Antonio.

Qual é o melhor custo-benefício?

 

“Cada painel é adequado a um tipo de projeto”, explica Graça, da Berneck. Alexandro Torres de Oliveira, gestor operacional do carioca Grupo TKC, revendedor da Todeschini, orienta que, ao escolher o produto, é preciso analisar as necessidades. “Se desejar portas com rebaixos, laqueados ou acabamentos diferenciados, vale pagar mais e optar pelo MDF. Caso contrário, o MDP atenderá as expectativas com gasto inferior”, justifica.

As placas são resistentes à umidade?

 

Assim como a madeira maciça, os produtos fabricados com essa matéria-prima também são vulneráveis. “Mesmo os mais resistentes não podem ficar em contato com a água”, alerta Graça, da Berneck.

Há painéis mais recomendados para determinadas áreas da casa?

 

Não, qualquer chapa pode ser usada em móveis para a casa toda, mas os fabricantes lembram que as placas só podem ser instaladas em ambientes livres de umidade excessiva e longe do contato direto com a água. Ao optar pelo melhor móvel para áreas molhadas, como banheiro e lavanderia, o que pesa é a escolha certa do acabamento. “As chapas devem ser protegidas por revestimentos melamínicos, esmaltes ou vernizes poliuretanos, para que não apresentem problemas”, indica Rosane, da Abipa. O sol também é inimigo da madeira industrializada. “A constante exposição aos raios solares acarretará perda de tonalidade, além do risco de empenamento”, avisa Alexandro, do Grupo TKC.

Os cupins gostam das placas industrializadas?

 

Por serem derivados de madeira, os painéis são vulneráveis ao ataque dos insetos. “No entanto, como recebe resinas sintéticas e é produzido com muito calor e pressão, o material sai da fábrica sem focos de cupim”, explica Graça, da Berneck. Então, antes de adquirir um móvel novo, acabe com os focos da praga em casa. “As placas podem ser atacadas quando inseridas em ambientes infestados”, diz Atílio, da Masisa Brasil.

Qual das chapas é mais indicada para compor móveis que suportarão mais peso?

 

“Por serem mais densos, o MDF e o HDF são mais fortes que os demais”, afirma Antonio Franco. No entanto, existem espessuras adequadas a cada uso que devem ser respeitadas no projeto. “Além disso, as ferragens apropriadas contam muito no quesito resistência”, aponta Rosane, da Abipa. Por sinal, elas são essenciais para o bom resultado. “Hoje, o mercado oferece uma vasta gama de ferragens de boa qualidade, apropriadas para cada tipo de painel”, garante Paulo Alves.

Quais são os acabamentos mais comuns?

 

Os líderes de preferência são os laminados, a pintura simples, a pintura laqueada e as impressões. “Todas as placas podem receber pintura comum ou spray com sucesso, porém somente o MDP, MDF e o HDF suportam bem os demais acabamentos”, diz Alexandro, do Grupo TKC. Há, ainda, o gofrato. “Trata-se de uma fórmica líquida, mais durável que a pintura comum, mas que deve ser aplicada apenas por especialistas”, explica Paulo.

Se eu quiser colocar a mão na massa e criar um móvel, esse trabalho é simples?

 

“Atualmente, adquirir painéis já cortados em grandes home centers”, avisa Rosane, da Abipa. E o mercado oferece tanto as chapas cruas quanto as com acabamento. As placas de compensado, MDF e MDP são as mais fáceis de manusear – bastam ferramentas adequadas e habilidade.

Como limpar os móveis feitos dessas placas?

 

Os especialistas indicam um pano macio seco ou umedecido com água e sabão neutro. Para a remoção de manchas, é permitido aplicar uma solução de álcool e água em medidas iguais. E nem pense em usar produtos abrasivos ou clorados, que podem danificar as superfícies.

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