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Kengo Kuma: conheça o trabalho do arquiteto japonês

O arquiteto japonês Kengo Kuma usa madeira, cerâmica e alumínio de forma surpreendente

Por Reportagem Marianne Wenzel | Design Marize Sciessere
Atualizado em 16 fev 2024, 12h20 - Publicado em 18 mar 2013, 22h28
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Convidado para o Fórum Internacional de Arquitetura e Construção, da Expo Revestir, o japonês Kengo Kuma experimenta sem medo. Embora admita preferir a madeira, ele não se atém a essa matéria-prima – nem a soluções fáceis. Cerâmica, pedra e alumínio aparecem em seus projetos de forma sempre inovadora, aliando detalhamento preciso a tecnologia de ponta.

Ele vê a arquitetura como interface entre o homem e a natureza e atribui grande valor à sabedoria ancestral: pensamentos que não negam a origem do japonês Kengo Kuma. À moda oriental, o arquiteto cultiva uma profunda reverência ao meio natural e às tradições de seu país, ao mesmo tempo em que se dedica ao ensino, à crítica e à escrita. Já declarou que seus colegas de profssão devem buscar nada menos que a perfeição, mas não hesita em comparar seu próprio ofício ao de um sushiman.

Para ele, a arte de preparar um sushi pede os mesmos pré-requisitos da atividade de construir prédios: habilidade e bons materiais. Pois sua produção recente atesta não só o domínio de ambos como uma refexão intensa sobre cada escolha para seus projetos. “Que material usar é sempre uma questão importante para mim, assim como estudar a história e o entorno natural do terreno. Se aprendo algo com isso, ou com os antigos métodos construtivos típicos daquela região, tento reinterpretar esse conhecimento para os dias de hoje e tirar proveito da tecnologia com o objetivo de tornar o design mais eficiente”, afirma. Foi o que ele fez ao especificar telhas de barro para a fachada do Museu Xinjin Zhi, na China. A experimentação e a inovação permeiam a linguagem de suas criações. Mas Kengo Kuma não esconde uma preferência: “Madeira sempre foi meu material favorito”, confessa. Ainda assim, ele não se acomodou num único jeito de usá-la. “Sempre que posso e tenho a oportunidade, conduzo testes para novas estruturas”, diz. O centro de pesquisas do Museu Prostho, no Japão, nasceu de uma dessas ocasiões. Convidado a projetar um pavilhão temporário para uma feira em Milão, em 2007, ele desenvolveu um sistema construtivo de madeira inspirado num antigo brinquedo japonês. Como as peças eram apenas encaixadas, erguer e desmontar o prédio foi relativamente simples. “Deu certo, mas eu queria expandir a aplicação para uma construção permanente. Mexemos na bitola e trabalhamos melhor as ripas, e elas se ajustaram a essa nova exigência”, conta.

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Por uma arquitetura pequena

Em seu último livro, A Small Architecture (ainda não disponível no Brasil), Kengo Kuma refete sobre a vulnerabilidade dos prédios gigantes – postos à prova no tsunami que devastou a costa leste do Japão há dois anos – e propõe edifícios menores, flexíveis, autossustentáveis. Essa também é sua ideia para casas e torres residenciais urbanas. “Hoje, os condomínios se isolam. Temo que isso continue enfeando e empobrecendo nossas cidades”, fala. A solução, segundo ele, mais uma vez pode estar nas raízes culturais. “No período Edo [do século 17 ao 19 no Japão], a casa era algo que se dividia, e era desenhada para isso. Assim surgiram as moradias enfleiradas e com terraços, onde todos viviam juntos. Seria importante adaptar esse conceito aos dias de hoje”, pondera. De uso misto, o prédio em Tóquio feito com painéis de alumínio intercalados por cachepôs de polipropileno vai nessa direção. O projeto também se alinha com a atualíssima preocupação em povoar as metrópoles com mais vegetação – mas, bem ao estilo Kuma, faz isso de forma surpreendente, reinventando o já conhecido modelo das paredes verdes. Aqui, o painel de alumínio ainda traz para a arquitetura dois aspectos caros aos japoneses: leveza e transparência. Nas residências inseridas em paisagens mais generosas, como a casa acima, a premissa é sempre integrá-la ao exterior, seja por grandes ou pequenas aberturas, seja pelo material. “Suas construções interagem com o entorno usando como interface métodos construtivos de forma inusitada e bem elaborada”, analisa o arquiteto Eiji Hayakawa, de São Paulo, estudioso de seus colegas japoneses. Dessa forma, Kengo Kuma se aproxima de um de seus objetivos declarados – reinterpretar a tradição japonesa para o século 21 e torná-la acessível a outros povos e culturas. Sem medo de seguir o mesmo caminho feito pelo sushi em direção ao Ocidente.

 

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