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Igrejas, fábricas, estações de trem e até catacumbas viram casas

Sustentabilidade e fantasia orientam retrofits inusitados, que eliminam as diferenças entre morar, trabalhar e se divertir

Por Reportagem Liège Copstein | Design Renata Rise
Atualizado em 20 dez 2016, 21h01 - Publicado em 25 mar 2013, 21h10

À busca pelo novo somam-se o sentimento ecológico e a fantasia, ingredientes que estimulam os inusitados retrofts. “Essas revitalizações surgem da necessidade de integrar funções, eliminando diferenças entre morar, trabalhar e divertir-se. E refletem a flexibilidade do homem moderno”, avalia o arquiteto sueco Per-Johan Dahl, autor, junto de Caroline Dahl, do livro Loft, que analisa o conceito dos precursores dessa onda: os primeiros galpões industriais convertidos em casas, há 20 anos.

Trilhado na Europa e nos Estados Unidos desde os anos 60, esse caminho popularizou-se na década seguinte, sob infuência de intelectuais como Jane Jacobs – autora de Morte e Vida de Grandes Cidades, um clássico do urbanismo. Quase na virada do século passado, ganhou novo impulso. “O retroft de hoje é uma extensão do movimento dos anos 90 em converter espaços industriais em lofs”, confrma Cher Potter, editora de macrotendências do portal WGSN, especializado em captar esses sinais nas mais variadas áreas. Estimulado pelo inconformismo, sintetiza um novo jeito de viver, de sentir, de ver o mundo. “Meu prédio manteve sua herança cultural, e é muito bom saber que ele ainda estará aqui em 100 anos”, fala Ronald Olthof, dono da casa-igreja. Outros aspectos também atraem o interesse dos moradores: dimensões, valor dos imóveis e qualidade construtiva. Edifícios mais velhos apresentam uma paleta de materiais que muitas obras atuais já não podem se dar ao luxo de utilizar, como ferro fundido e madeira nobre. Juntos, os três pontos são o retrato de um movimento urbanístico bem mais amplo, em que entram desde a revitalização de áreas deterioradas por intermédio de projetos inovadores até o ímpeto coletivo de trocar o carro pela bicicleta. “Executado com sensibilidade, o retroft mantém intacta a alma do lugar”, lembra Francis D. K. Ching, professor do departamento de Arquitetura do College of Built Environments, da Universidade de Washington. “O mix entre o velho e o novo dá a sensação de viver entre dois mundos e ter o melhor de cada um”, resume o designer Jeroen van Zwetselaar, da casa-estação.