Equilíbrio sutil: construção em Portugal se funde com a natureza
À primeira vista, a construção contemporânea, fortemente geométrica, parece se opor à natureza agreste do interior português. Um olhar mais apurado, porém, revela a intenção de integrar a morada à paisagem, sem competir com ela. Esta casa na praia também valoriza a integração com a paisagem.
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Por Rosele Martins Design: Manoel Vitorino Fotos: Sérgio Guerra/ FG + SG Fotografia de Arquitetura
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20 dez 2016, 19h49 - Publicado em 23 maio 2011, 10h27
Talvez não exista lugar melhor que Portugal para resumir o aparente contraponto entre tradição e modernidade. Essencialmente apegado às raízes, o mesmo país que conserva vilarejos de ares medievais vê surgirem expressivos ícones arquitetônicos contemporâneos. Como esta casa em Melides, aldeia alentejana a uma hora de viagem de Lisboa. “Com a redemocratização política , a arquitetura portuguesa ganhou vitalidade. Nesse cenário, é impossível negar a influência de Alvaro Siza, João Luís Carrilho da Graça e Eduardo Souto de Moura sobre as gerações de arquitetos formadas nas últimas duas décadas, como eu”, diz Pedro Reis, a respeito dos mestres que tanto apreço mostram pelas linhas puras. Além dos traços retos, é no respeito ao terreno que se baseia essa vertente – daí o esforço para acomodar os dois pavilhões retilíneos deste projeto sem alterar a topografia irregular. A ideia, no entanto, não era camuflar a construção. “Quis justamente o contrário: deixar clara a presença humana em contraste com a dramaticidade da paisagem natural”, afirma Pedro.
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A casa comporta dois pavilhões que, sobrepostos, compõem uma cruz. Parcialmente em balanço, o volume superior parece apoiado apenas no bloco de baixo - ilusão provocada pelo terreno irregular, que ajuda a sustentar o retângulo pintado de branco.
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O projeto reúne dois modos de habitar complementares: enquanto o térreo é reservado, o bloco do alto reforça a interação com o entorno graças a amplas superfícies envidraçadas, presentes de um lado e de outro.
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O clima ameno da região do Alentejo permite desfrutar a casa em qualquer época do ano. Ainda assim, o arquiteto preferiu fechar todos os vãos com vidros duplos. Neste pavimento, usou esquadrias de alumínio anodizado.
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A cozinha tem função primordial na distribuição: serve de ponto de chegada à casa e liga a sala ao jardim. Permeável à vista dos arredores, ela resgata o costume de reunir familiares e amigos ao redor da mesa.
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Nos pisos internos, empregaram-se tábuas de carvalho. A boa insolação do living se deve à implantação voltada para o sul - no Hemisfério Norte, garantia de claridade. Aberturas bem posicionadas favorecem a ventilação cruzada.
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Para curtir as férias de verão, construiu-se uma piscina. O inverno, no entanto, também sugere braçadas: a água é aquecida com energia geotérmica, sistema que utiliza o calor do centro da Terra.
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No pátio, revela-se a borda infinita, que parece fundir a superfície da água no entorno exuberante. O brise que sombreia a varanda é de lâminas de aço pintado. O piso exibe placas de concreto branco.
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A estrutura reúne pilares, vigas e lajes de concreto armado, fechados com tijolos cerâmicos para maior conforto térmico.
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No lugar da tinta branca que cobre o pavilhão superior, o volume rente ao solo emprega lâminas de concreto fabricadas artesanalmente na obra, tingidas com óxido de ferro. A lateral externa da piscina faz as vezes de muro de contenção.
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Somente a suíte do proprietário fica no andar superior. Os outros quatro dormitórios foram dispostos no piso de baixo, onde também se encontram a área de serviço e a garagem. A implantação dos quartos busca o Sol nascente, a fim de receber a luz da manhã.Área: 344 m²Ano do projeto: 2007Conclusão da obra: 2010Projeto e execução: Pedro ReisPaisagismo: Global Arquitectuta PaisagistaCálculo estrutural: ARA - Alves, Rodrigues & Associado
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Ao lado aparece o banheiro da suíte máster, com piso de travertino navona. O deck de madeira num canto revela um dos trunfos do projeto: o acesso à piscina. Dali, é possível mergulhar e sair do outro lado da casa.
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"Tive a ideia de criar uma espécie de pátio sem cobertura e com um fundo de água. Por isso a ligação do tanque com a suíte do morador", explica Pedro Reis. A passagem se dá por baixo da construção. A profundidade do reservatório (entre 1,50 e 2,15 m) garante espaço de sobra para a travessia.