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Centro: encantos reeditados

A recuperação de praças e prédios e as melhorias de infra-estrutura urbana renovam o interesse pela região, que hoje concentra importantes espaços culturais, órgãos do governo, escolas e universidades

Por Da redação
Atualizado em 20 dez 2016, 18h14 - Publicado em 19 nov 2006, 22h16
Um título para uma foto sem titulo

Repleto de construções neoclássicas e modernas, o centro já foi a região mais bonita da cidade. O glamour resiste em alguns nichos em torno da praça da República, disputados por intelectuais e artistas. Espaços generosos – entre 400 e 500 m2 – e preços baixos tornam os imóveis atraentes. “Um apartamento grande aqui vale cerca de três a quatro vezes menos que nos Jardins”, compara Marco Antônio de Almeida, diretor da Associação Viva o Centro. “Mas não é fácil achar”, admite. Com a reestruturação urbanística da região, impulsionada pelo projeto Nova Luz, a expectativa é de que muitos imóveis restaurados fiquem disponíveis. Segundo Sérgio Ferrador, conselheiro do Sindicato das Empresas de Compra, Venda, Locação e Administração de Imóveis Comerciais e Residenciais de São Paulo (Secovi), o valor do m2 reformado hoje sai entre R$1, 7 mil e R$1,8 mil. “E há interesse do setor imobiliário em investir em produtos entre R$ 75 mil e R$ 150 mil”, revela. Sua aposta é de que nos próximos cinco anos a região volta a ser um importante mercado imobiliário.

Positivos

Vida cultural agitada

Farto transporte urbano

Negativos

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Poluição

Ausência de áreas verdes

Charme esquecido

“Encontramos no centro uma linguagem e uma preocupação com a arquitetura, algo que foi esquecido nos demais bairros da cidade, sobretudo nas edificações das duas últimas décadas”, avalia Charle Cosac, dono da editora Cosac & Naify, que mora em um apartamento na região.

Vizinhança conhecidaA dona-de-casa Elza Margutti não saberia morar em outro lugar. Desde 1950, ela vive na frente da praça da República. Hoje está instalada num apartamento de andar inteiro do São Luís, um dos edifícios mais concorridos da região. “Eu conheço todo mundo, da banquinha de revista e da farmácia até os taxistas do ponto”, diz Elza.

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Cuidado com o entornoMaria Antonia Pavan de Santa Cruz, dona da livraria Duas Cidades, instalada na Vila Buarque, já arregaçou as mangas para ajudar a mudar a cara do centro: junto com outros moradores e lojistas do bairro, limpou calçadas e plantou 74 árvores, algumas frutíferas, no lugar. “A caramboleira está na quarta safra”, diz festejando.

Exemplo estrangeiroA fotógrafa Avani Stein só comprou o dúplex de cobertura com 232 m2, na Vila Buarque, depois de ter morado dois anos em Manhattan. “Voltei totalmente influenciada pelo fato de o centro lá ser um lugar bastante valorizado”, diz Avani. “A temporada em Nova York acabou com o meu preconceito.” Um imóvel de 66 m2 no prédio onde vive vale R$ 45 mil.

O Centro da cidade atrai moradores de todas as tribos: de descolados – atraídos pela riqueza da Arquitetura e pelo charme histórico da região – a gente que deseja ou precisa de transporte público – em busca da proximidade com o trabalho e da praticidade da farta malha de transporte urbano. Além de conservar um público cativo, que se apegou ao bairro e hoje compõe a parcela idosa da população dessa região. Se São Paulo seguir a tendência de requalificação dos centros urbanos já vista em capitais européias, essa região deve voltar aos dias de glamour. As escadarias de mármore carrara do Edifício Sampaio Moreira, primeiro arranha-céu de São Paulo na rua Líbero Badaró, são marcas do início do século passado. Era um tempo em que a riqueza se exibia nos detalhes arquitetônicos das construções das regiões da Sé e da República. As moças desfilavam em vestidos de cintura fina, luvas de pelica e chapéus pelo requintado salão de chá Vienense, na Barão de Itapetininga – rua onde circulavam os milionários de então. Hábito considerado tão elegante como sentar-se junto das mesas do restaurante Fasano, na praça Antônio Prado, perto do largo São Bento.

Mais chique ainda era freqüentar o Cine Marrocos, a 100 m do Teatro Municipal, com cortinas de seda e lustres de cristal. “A concentração de comércio de alto padrão e a vida noturna garantiam a permanência da população mais rica na região”, diz a professora da Universidade de São Paulo Raquel Glezer, especialista em história urbana da cidade. A situação só começou a mudar de fato nos anos 1960, quando o processo de expansão urbana e a procura por bairros mais segregados motivaram o deslocamento desses moradores. Primeiro para os Campos Elíseos, depois para Higienópolis e Pacaembu.

Arquitetura AssinadaOs espaços amplos e a preocupação com as linhas arquitetônicas são características dos edifícios distribuídos ao longo da avenida São Luís e arredores. Em frente à praça da República, por exemplo, foi erguido o primeiro prédio modernista de São Paulo. O Edifício Esther, projeto de Vital Brazil, inaugurado em 1935 e, depois tombado em 1990, hoje exibe a fachada quase destruída, integrando a lista dos prédios que pedem por reformas. “A obra é uma verdadeira aula de arquitetura”, diz a arquiteta Anália Amorim, professora da Escola da Cidade. O mesmo pode-se dizer do Edifício Eiffel, de Niemeyer, ou do Edifício Renata Sampaio Ferreira, na praça Darcy Penteado, desenhado por Oswaldo Bratke nos anos 1960.

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Edifício CopanO Edifício Copan, desenhado pelo arquiteto Oscar Niemeyer no início dos anos 50, é um retrato da convivência democrática característica do bairro. Os 1 160 apartamentos distribuídos nos 115 mil m2 têm projetos e tamanhos diferenciados e abrigam moradores de vários níveis sociais. “É um exemplo maravilhoso de habitação para todos”, conta o arquiteto e urbanista Paulo Mendes da Rocha.

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