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Casa de praia combina modernidade com o modo de vida local

Com projeto do arquiteto Marcelo Roberto e colaboração do artista Paulo Werneck, esta casa integra a memória do modernismo brasileiro.

Por Por Araci Queiroz e Ana Mourão | Fotos: Antonio Caetano
Atualizado em 20 dez 2016, 17h52 - Publicado em 18 fev 2010, 18h01

Um tesouro modernista repousa na ilha de Paquetá, Rio de Janeiro. A casa, desenhada pelo arquiteto Marcelo Roberto, um dos pioneiros do movimento no Brasil, e com mural do artista Paulo Werneck, revela em cada detalhe sinais do movimento notabilizado pelo racionalismo. Não por acaso, a construção é classificada como uma joia pela família Saldanha, única proprietária da residência finalizada em 1966. Para conhecer essa história, é preciso voltar ao tempo, mais especificamente ao final da década de 50. Com três filhos pequenos, a ilustradora e educadora Regina Yolanda Werneck e o advogado Aristides Saldanha resolveram se mudar para um lugar tranquilo. “Queríamos espaço para as crianças brincarem, mas que fosse perto do Rio, onde meu marido trabalhava”, conta Regina. O destino escolhido foi Paquetá, então refúgio predileto da alta sociedade carioca. Na hora de eleger o autor do projeto, Regina deparou com um árduo dilema. “Eu tinha duas opções: Oscar Niemeyer ou Marcelo Roberto, ambos amigos de papai”, conta a proprietária, única filha do artista Paulo Werneck (veja o boxe). “Optei por Marcelo, que na época estava com mais tempo disponível para a empreitada.”

Um título para uma foto sem titulo

Mais de quatro décadas se passaram desde então, mas até hoje Regina traz nítida a lembrança da construção. “Não foi fácil”, resume. “A planta era engenhosa e não havia mão de obra local capacitada.” Sorte que o casal encontrou Henrique de Freitas, o Russo, construtor autodidata que morava em Paquetá. Ele conseguiu driblar empecilhos como as características do solo – “um verdadeiro charco”, diz Regina. A solução, no caso, foi dispor sobre o chão uma cinta de concreto, mesmo material que compõe o esqueleto da casa. No final da obra, outro contratempo: Aristides, por causa de suas ligações com a esquerda, passou a ser perseguido pelo governo militar e se refugiou no Rio Grande do Sul. Regina tocou sozinha parte da construção da casa, onde mora até hoje sem nunca tê-la reformado. “Ela faz parte da nossa história”, afirma.

Liga fraterna

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Pioneiro do modernismo brasileiro, o arquiteto carioca Marcelo Roberto (1908-1964) fundou seu escritório em 1930 e quatro anos mais tarde se associou ao irmão e colega de profissão Milton. Juntos venceram dois concursos de peso no Rio de Janeiro dos anos 30: um para o prédio da Associação Brasileira de Imprensa, considerada a primeira grande obra da arquitetura moderna no país, e outro para o Aeroporto Santos-Dumont. Na década de 40, o caçula, Maurício, se juntou à dupla e o escritório passou a se chamar MMM Roberto.

 

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