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Sozinha sim, solitária não

Não ter ninguém por perto pode ser angustiante para alguns e tranquilo para outros. Aprenda então a encarar a solidão da melhor forma

Por Ivonete Lucirio
Atualizado em 21 dez 2016, 00h27 - Publicado em 1 jun 2012, 14h15
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O que é solitude? E solidão? O significado dessas duas palavras está tão associado que muitos dicionários nem sequer fazem diferença entre elas. Se nem os léxicos sabem distingui-las, imagine então os pobres de vocabulário sentimental, que mal conseguem entender o que vai dentro de sua cabeça ou de seu coração. A questão é que ser só e estar só por opção são coisas bem diferentes. Solitude expressa a glória e o prazer de estar sozinha, enquanto solidão demonstra a dor dessa condição.

Pobres de nós que vivemos numa contradição constante. “Há sempre o desejo de se fundir com o outro devido à angústia de se saber só e a necessidade de ser único e singular”, constata a psicóloga clínica Lana Harari, de São Paulo. Encontrar o equilíbrio entre essas duas necessidades pode ser a chave para conseguir ficar consigo mesma numa boa.

Dependendo da forma como o processo de amadurecimento acontece, aprendemos ou não a lidar com o fato de estar sem alguém ao lado por certos períodos ou situações. “Quem não suporta ficar só geralmente tem medo de suas emoções, de seus pensamentos”, diz a psicoterapeuta Ana Paula Cuocolo Machia, neuropsicóloga pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo.

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Esse estado, que assusta tanta gente, também é importante para escutar o que cada uma de nós tem a dizer para si mesma. “Se te é impossível viver só, nasceste escravo”, escreveu sabiamente o poeta português Fernando Pessoa. Talvez o poeta estivesse se referindo ao poder libertário da solidão.”Quando está só, a pessoa não tem a obrigação de interpretar continuamente um papel”, diz Lana Harari. “Em cada encontro ativamos facetas de nossa personalidade que se complementam às do outro. Com meu filho sou de um jeito, com meu marido de outro, e assim por diante.” Ou seja, nesses momentos de isolamento temos a rica oportunidade de conhecer aspectos internos que podem não emergir na presença do outro. E ainda darmos vazão a nossos desejos mais íntimos. Mesmo que isso signifique passar o domingo inteiro de pijama, na frente da televisão.

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Um estado de espírito

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Muita gente se equivoca ao pensar que a solidão está relacionada à quantidade de gente por perto. Muitas vezes, quem armazena 150 nomes em sua agenda de celular sente-se mais solitário do que quem só tem meia dúzia. “Podemos estar sozinhas fisicamente e nos sentirmos plenamente acompanhadas internamente”, afirma a psiquiatra Sonia Eva Tucherman, da Sociedade Brasileira de Psicanálise. “As pessoas queridas, com quem estabelecemos boas relações de amor e confiança, permanecem presentes dentro de nós.”

Vale a pena lembrar que até mesmo aqueles apaixonados pela própria companhia têm seus momentos menos satisfatórios. Em geral, eles estão relacionados a fases de transição. Isso acontece, por exemplo, quando a executiva solteira muda de cidade, na separação de um casal, quando o filho sai de casa ou ainda quando se perde alguém querido. Pode ser bastante doloroso, mas passa.

Seja para os mais inseguros ou para os amantes do isolamento, a solidão começa a representar um problema quando fica crônica. “Até queremos ficar perto de outras pessoas, mas não temos certeza em quem podemos confiar ou acreditar”, diz o psicólogo social John Cacioppo, da Universidade de Chicago, em Illinois, Estados Unidos.

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Um forte sinal de que se está ultrapassando o limite do saudável é quando começamos a atribuir características humanas a animais e a objetos. Quem não se lembra do filme O Náufrago? Preso sozinho em uma ilha, Chuck Noland (interpretado por Tom Hanks) adota uma bola de vôlei como seu melhor amigo e passa horas conversando com o inerte objeto redondo. Isso acontece não apenas em situações extremas, como comprovou uma pesquisa realizada por Cacciopo em 2008. Por meio de testes psicológicos ele comprovou que, quando falta alguém para interagir, o indivíduo tende a “antropomorfizar” o que está a sua volta, desde um carro até um gato. E também aumenta a tendência a acreditar em Deus e até em poderes sobrenaturais.

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Saia da toca!

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Um dos maiores especialistas do mundo em solidão é o psicólogo John Cacioppo, da Universidade de Chicago, em Illinois, Estados Unidos. Veja a seguir algumas dicas do especialista para diminuir o isolamento que incomoda.

· Dê a você mesma algumas doses de sensações positivas. O sentimento de solidão muitas vezes vem acompanhado da impressão de estar ameaçada. Então, em um ambiente em que se sinta segura, tente algumas ousadias. Não precisa mergulhar de cabeça, basta colocar o dedo na água. Sorrir para alguém pode ser um bom começo.

· Tente um trabalho voluntário. Não espere aumentar sua roda de relacionamentos de um dia para o outro, mas aproveite a sensação gostosa que isso vai desencadear.

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· Não vá atrás de quantidade, só de qualidade. A solidão costuma tornar as pessoas mais perceptivas aos sinais sociais. Tire vantagem disso para avaliar quem será receptivo a uma nova amizade, ou mesmo a uma boa conversa.

· Não se iluda com o “na saúde ou na doença, na alegria ou na tristeza”. Alguns relacionamentos – sejam eles amorosos ou não – acabam mesmo. Nem tudo é para sempre. Eles vão e vêm e o final de uma relação não significa uma sentença à solitária.

· Procure por pássaros com penas iguais às suas. Isso significa que, para começar a travar novos contatos você deve buscar aquelas pessoas com as quais tem afinidade. Se você gosta de passar horas lendo provavelmente não conseguirá uma amizade duradoura com quem prefere sair todas as noites para dançar.

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