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Resiliência: a arte de superar as adversidades

Ao longo da vida, caímos, levantamos e sofremos ferimentos profundos. Nesses momentos, o importante é saber lidar com a dor e acreditar que tudo vai melhorar.

Por Raphaela de Campos Mello
Atualizado em 20 dez 2016, 23h54 - Publicado em 24 Maio 2012, 13h57
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O termo resiliência migrou do mundo da Física para o comportamental. Originalmente, traduz a capacidade de um corpo de se deformar por obra de agentes externos e, depois, recuperar a forma natural.

Nos momentos adversos, vemos desabrochar em algumas pessoas um impulso vital que permite a elas sobreviver a todo tipo de dor: luto, abandono, negligência, violência. Essa força, chamada de resiliência, faz com que não desistamos da luta, até o milagroso momento em que somos transformados por ela.

“O papel da resiliência é desenvolver a capacidade humana de enfrentar, vencer e sair fortalecido de situações adversas”, atesta a psicóloga norteamericana Edith Henderson Grotberg (1918-2008), pioneira nos estudos sobre o tema e autora de Resilience for Today: Gaining Strenght from Adversity.

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Débora Dalbosco Dell’Aglio, coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Adolescência da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (NEPA/UFRGS) e coautora do livro Resiliência e Psicologia Positiva: Interfaces do Risco à Proteção (ed. Casa do Psicólogo), diz: “É como um barco atingido pela tempestade em alto-mar, mas que continua navegando, apesar das velas rasgadas e do casco deteriorado”.

Ser resiliente é unir forças

Mais do que uma capacidade individual, a resiliência é um processo que se ativa dentro de nós de acordo com as necessidades impostas pela vida. Todos dispõem dessa ferramenta. No entanto, ela costuma ser favorecida ou não pelas características pessoais e ambientais de cada um.

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“Se o indivíduo possui tendência a ser otimista, boa autoestima e conta com uma rede de apoio, o processo de recuperação será mais fácil. Já para os mais fechados e desprovidos de amigos e familiares, a caminhada será mais penosa”, ela destaca.

Segundo Daniel H. Rodriguez, psiquiatra e psicanalista argentino, colaborador da mesma obra, “É importante reservar um espaço para a criatividade e a surpresa”. Ele se refere àquela chama interior que nos surpreende com soluções e respostas nunca antes cogitadas.

Todas essas influências irão determinar o ângulo através do qual enxergamos uma situação ruim, bem como o tipo de reação esboçada após o choque. “Muitos daqueles que perderam suas casas em enchentes conseguiram, apesar de tudo, se sensibilizar com os desdobramentos positivos da desgraça, como, por exemplo, a manifestação da solidariedade alheia, a formação de novos amigos”, revela Débora. De fato, sem afeto, ninguém chega longe.

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Dê adeus aos traumas

Cercar-se de ombros amigos ajuda e muito a aliviar a dor. Da mesma forma, falar sobre o que passou e, de preferência, para um terapeuta, é crucial se quisermos elaborar o ocorrido e seguir adiante.

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Por mais difícil que seja, temos de acionar a coragem e recontar em detalhes a história que tanto nos machucou. “O objetivo da terapia é, inicialmente, ajudá-lo a estruturar sua narrativa”, explica Julio Peres, psicólogo clínico e doutor em neurociências e comportamento pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), autor do livro Trauma e Superação (ed. Roca).

Com as ideias em ordem, o paciente racionaliza o episódio doloroso e consegue se reencontrar. Eventualmente, há uma colheita de aspectos proveitosos de uma situação inicialmente negativa.

Um dado surpreendente. Não só os acontecimentos avassaladores são capazes de nos lançar numa fase sombria. De acordo com Julio, ocorrências menos graves, porém, igualmente destrutivas, também são consideradas traumáticas. Por isso, são chamadas de microtraumas.

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“Esses eventos deixam resíduos que vão se acumulando com o passar do tempo, prejudicando a qualidade de vida”, afirma o especialista. Portanto, cuidado ao minimizar o potencial desastroso de certos hábitos e padrões de comportamento, tais como ansiedade fora de controle, sensação de solidão, compulsão por comida, compras ou jogo.

Renascendo das cinzas

Uma maneira de se fortalecer é resgatar a memória de autoeficácia. “Quando alguém está fragilizado, tende a desprezar uma série de eventos do passado em que venceu adversidades. Ao lembrar-se dessas vitórias, passa a acreditar que também será capaz de superar o que o aflige hoje”, atesta Julio.

Acionar as antenas e captar influências benéficas de pais, familiares, professores, mestres espirituais, amigos, livros e filmes também ajuda a impulsionar a virada. Portanto, da próxima vez que se sentir desarmada diante de um baque inesperado, lembre-se de que o fortalecimento interior é um aprendizado constante.

Viva de peito aberto. De preferência, sem jamais perder de vista o horizonte à nossa frente.

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