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Otimismo marcou o IV Fórum Nacional de Sustentabilidade da Construção

Luciano Coutinho, presidente do BNDES, apontou a queda da taxa Libor como um sinal claro de melhora do mercado. Também convidado, Eduardo Gianetti diz que, avaliada em retrospecto, a crise parecerá menos grave.

Por Daniela Osvald Ramos
Atualizado em 15 fev 2024, 09h58 - Publicado em 21 out 2008, 12h50
Luciano Coutinho, presidente do BNDES, e o publisher Ângelo Derenze

Apesar das nuvens que pairam há semanas sobre a economia mundial, a realização do IV Fórum Nacional de Sustentabilidade da Construção, em São Paulo, organizado pela revista Arquitetura & Construção, acabou com salto positivo, em um dia (20/10/2008) que a Bovespa fechou em alta de 8,36% e que as bolsas de Nova York também subiram. Com o tema Boom imobiliário – o que vem depois, a constatação geral dos participantes – entre eles Luciano Coutinho, presidente do BNDES, e do economista Eduardo Gianetti – foi de que o depois não é necessariamente uma recessão, mas uma desaceleração previsível do crescimento econômico. Isso não implicará em menos investimento de empresas de construção e incorporadoras em seus empreendimentos imobiliários.

O crédito de financiamento para aquisição de imóveis para pessoas físicas será garantido pela manutenção das taxas, afirmaram Bernadete Maria Pinheiro Coury, Superintendente Nacional da Habitação da Caixa Econômica Federal , e José Manoel Lopes, Superintendente de Crédito Imobiliário do Banco Santander. Bernadete, que representou Jorge Hereda, Vice-Presidente da Caixa, foi categórica: a Caixa manterá as condições de financiamento para pessoas físicas e jurídicas, e dará crédito de 100 a 80% do valor do imóvel para pessoas de alta renda. Mas as quotas de 100% e prazos de até 30 anos para pagamento não ocorrerão juntos.

Lopes, do Grupo Santander (que inclui o Banco Real) explicou que a vocação de crédito imobiliário está “no DNA do Santander”. “O banco continuará sendo um promotor deste mercado”. Segundo ele, “o Banco Santander está aqui para longo prazo, não para curto e médio. E nossa perspectiva é dar crédito”. O Grupo não alterou as taxas para pessoa física e pretende oferecer o processo de financiamento mais simples e rápido do mercado. “Queremos crescer junto com os nossos clientes, e se os outros bancos não quiserem, azar o deles”.

Luciano Coutinho, presidente do BNDES, foi o último a falar e reiterou a importância do setor. Disse ainda que “o governo pretende oferecer uma linha especial às empresas e manter incentivos do crédito para pessoas físicas”. “O ideal é trazer a taxa de câmbio a R$ 1,90, e já estamos tendo respostas”. No dia da realização do Fórum Nacional de Sustentabilidade da Construção, 20 de outubro, o dólar fechou em R$ 2,11 e a taxa Libor (Taxa Interbancária do Mercado de Londres) continuou caindo, o que foi interpretado por ele como índice de contínua melhora da crise. Coutinho disse não querer vaticinar nada, mas já que os juros estão altos arriscou comentar que “haverá espaço para a baixa”.

Ernani Teixeira Torres Filho, da área de pesquisa econômica do BNDES foi quem abriu a palestra sobre as perspectivas para a construção civil brasileira, enquanto Coutinho ainda não havia chegado da reunião com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, depois da qual o governo anunciou a liberação de R$ 5,5 bilhões para a construção civil e setor agrícola. Torres afirmou que “o setor imobiliário tem reconhecida importância sócio-econômica em termos de renda, emprego e distribuição da riqueza” e que “o papel dos bancos públicos é compensar a retração de crédito dos bancos privados”. Ele prevê recessão na economia européia e desaceleração na economia de países emergentes.

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Os debates de perspectivas para a habitação de alto padrão e do segmento econômico apontaram para uma seletividade de projetos e investimento, e maior controle de fluxo de caixa. Ubirajara Spessotto, Diretor Geral da Cyrela Brazil Realty acredita que o “mercado vai continuar crescendo em bases sólidas”. “Estávamos caminhando para uma perda de seletividade, e agora não haverá espaço para empreendimentos malucos. Do ponto de vista empresarial, é preciso se preparar para diminuir a produção”, avaliou. Daniel J. McQouid, Vice-Presidente da JHSF Participações, declarou que a incorporadora tem mesmo o nível de interesse de investimento que antes da crise, e que o Horto Bela Vista, empreendimento recém lançado em Salvador com foco na classe média alta, foi 50% comercializado na primeira semana.

No segmento econômico, a expansão parece continuar sustentável. Lívia Pedreira, diretora da revista ARQUITETURA & CONSTRUÇÃO, comentou o otimismo, pois não há revisão drástica de planos, o que foi prontamente confirmado por Eduardo Gorayeb, Diretor Presidente da Rodobens Negócios Imobiliários e Mônica Simão, Diretora de Relações com Investidores da MRV Engenharia. Eles concordaram que o segmento de habitação para famílias com renda de quatro a cinco salários mínimos tem demanda, pois foi reprimido nos últimos 28 anos.

Para a Rodobens, os planos de 2009 continuam com projeções normais. “Não estamos sentindo no mercado nada que demonstre um grande problema. O que fizemos foi mudar alguns conceitos no tocante à manutenção do caixa”. “A demanda está aí e o crédito é imprescindível para este mercado”, disse a representante da MRV Engenharia. “Ainda não sentimos impacto nas nossas vendas, mas estamos observando o que está acontecendo”.

O publisher do núcleo Casa, da Editora Abril, Ângelo Derenze, destacou a importância de unir todos os elos da cadeia produtiva do segmento na discussão do momento econômico.

Uma aula com Eduardo Gianetti

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“Crise parecerá menos grave quando for avaliada em retrospecto”, analisa o economista Eduardo Gianetti . O boom da construção e a economia: novos cenários foi a reflexão analítica da tarde do economista Eduardo Gianetti da Fonseca, que falou das perspectivas da economia brasileira à luz da crise financeira mundial. “É preciso diferenciar o que é vertigem e o que serão as seqüelas e efeitos duradouros para a economia real nos próximos dois anos. O papel do analista é conter tanto a euforia quanto o pânico”. E Gianetti cumpriu seu papel ao explicar didaticamente o conjunto de fatores que desembocaram na atual crise no sistema financeiro que, segundo ele, chegou a uma hipertrofia, pois cresceu exageradamente nos últimos anos, e agora está retrocedendo. “Em 1980 o lucro dos bancos representava 10% da economia americana e no final de 2007, 40%”, exemplificou. “É a crise do desalavancar”.

Assim, a ação dos governos de recapitalização dos bancos seria a rede de proteção que aparentemente segurou a queda, e isso nos leva à retração de crédito. “Não há novidade na dinâmica da crise”, explicou o economista. “O que é novo é a interdependência global, o volume da liquidez, a rapidez com que as coisas acontecem, a complexidade do sistema e a criatividade do mundo das finanças. O mercado vai lutar furiosamente pela rentabilidade em oposição à regulamentação”. Dentro de três possibilidades, o V (a economia cai, mas se recupera rapidamente), o L (crise com graves seqüelas) ou o U, Gianetti aposta no último cenário: uma crise financeira de enormes proporções, mas que parecerá menos grave em retrospecto e que diminuirá durante dois anos o crescimento do PIB.

“O fundamental é separar os efeitos de curto prazo”, insistiu, “estancar a parada súbita do crédito e do financiamento e evitar o quebra-quebra na cadeia produtiva no setor da construção”. “O grande risco é o efeito de contaminação e uma crise geral de confiança no setor, mas isso não deve acontecer”. Outra possibilidade que Eduardo não vê como cenário futuro é o retorno da inflação. Em médio prazo, de 2009 a 2010, o crescimento deve arrefecer, o crédito ficar mais caro e mais restrito, e a longo prazo deve haver um reposicionamento do setor num período de pouco crescimento. A armadilha é a da arrecadação tributária, pois “no momento que o PIB se retrair, vamos ver uma queda desproporcional da arrecadação, e o governo já se comprometeu a gastar esse dinheiro”. “Vão inventar novos tributos, novas maneiras de financiar o gasto público, e aí a sociedade brasileira vai ter de mostrar que aprendeu a se mobilizar”. Redução temporária de carga tributária no setor “é desejável, mas não vai acontecer”, finalizou.

Assista às entrevistas com os participantes no vídeo de cobertura do Fórum.

Lívia Pedreira, diretora da revista Arquitetura & Construção, e Eduardo Go... Kaíke Nanni, diretor de núcleo da Editora Abril, e Ernani Teixeira Torres F... Eduardo Gorayeb, Diretor Presidente da Rodobens Negócios Imobiliários Luciano Coutinho, presidente do BNDES, e o publisher Ângelo Derenze Ernani Teixeira Torres Filho e Luciano Coutinho, do BNDES, e o publisher Âng... Um título para uma foto sem titulo Um título para uma foto sem titulo Um título para uma foto sem titulo Mônica Simão, Diretora de Relações com Investidores da MRV Engenharia Lívia Pedreira, da revista Arquitetura & Construção, e Nádia Simonelli, e... Jefferson Rubbo, gerente de projetos do site www.casa.com.br e a jornalista D...

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