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O significado dos anjos

Conheça um pouco mais esses pequenos seres que habitam nossa imaginação e fazem a ligação entre o céu e a Terra

Por Rami Shapiro
Atualizado em 20 dez 2016, 22h41 - Publicado em 10 Maio 2012, 13h26
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Por que os anjos têm asas?

 

Porque “asas” nos remetem ao voo, à fuga e à transcendência. Os anjos têm asas porque os imaginamos atravessando a distância entre o céu e a Terra, uma distância que também é imaginária. Enfim, os anjos têm asas porque você e eu precisamos que eles as tenham. Então, os anjos são meras invenções de nossa imaginação? Não existe nada de “mero” em relação à imaginação.

A imaginação é o modo como trabalhamos com mitos, metáforas, parábolas, poesia e charadas – a base da espiritualidade e da religião. A imaginação é o modo como fazemos arte, música e até amor.

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A Bíblia fala à imaginação na linguagem da imaginação: parábolas, poesia, sonhos e mitos. Os anjos são mensageiros místicos que habitam a imaginação, nos tiram da alienação, nos integram e depois nos devolvem à Terra para que possamos continuar esse trabalho de inclusão no mundo.

Os anjos da escada de Jacó

 

Para aprofundar essa questão, vamos analisar os dois célebres encontros de Jacó com anjos no “Livro do Gênesis”. No primeiro – a Escada de Jacó – ele está fugindo do irmão, Esaú, que planeja matá-lo. Jacó passa a noite ao ar livre e sonha com “uma escada posta na Terra, cujo topo chegava ao céu; e os anjos de Deus subiam e desciam por ela” (Gênesis 28:12).

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A Bíblia nos diz que nossa mente, por meio de nossa imaginação, consegue transcender os limites do eu alienado e obter a sabedoria infinita da alma libertada. É por isso que os anjos começam na Terra e sobem daqui para o céu, em vez de começarem no céu e, de lá, descerem para a Terra. Ou, conforme o entendimento do rabino Jacob Joseph, os anjos nascem em nossa própria mente e, então, sobem ao céu, elevando a alma do eu.

A essência da transformação

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A subida, porém, é só a metade da jornada: os anjos “sobem e descem”. O objetivo do caminho angelical – o caminho da imaginação espiritual – não é transcender o eu, e sim transformá-lo; não é fugir da Terra para habitar o céu, e sim subir ao céu para ser transformado e, então, voltar à Terra para continuar essa transformação numa escala planetária. O céu não é nosso destino final, mas um lugar de teshuvah, de mudança e transformação.

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Teshuvah, palavra hebraica normalmente traduzida como arrependimento, significa mudança: mudar da alienação para a integração, mudar do eu para a alma, mudar do mal para o bem (Salmo 34:14) e, de maneira mais profunda, mudar do medo para o amor.

O amor é a essência da transformação angelical: o amor a Deus (Deuteronômio 6:5), o amor ao próximo (Levítico 19:18) e o amor ao estrangeiro (Levítico 19:34). E, por ser o amor a mensagem que os anjos carregam, é sempre em direção à Terra que eles o fazem.

Não é a alma que precisa ouvir a mensagem de amor, e sim o eu. Não é o céu que precisa ser transformado pelo amor, e sim a Terra.

A luta de Jacó

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No primeiro encontro, é Esaú que tenta tirar a vida de Jacó, mas, no segundo, aparentemente, um anjo procura fazer o mesmo. O que aconteceu foi que Jacó amadureceu: a verdadeira batalha não é entre você e os outros, e sim entre você mesmo e sua alma, entre o medo e o amor. O anjo não derrota Jacó, mas o transforma. O amor não derrota o medo, mas o transforma em reverência.

O caminho angelical

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Todos somos Jacó, agarrados e amedrontados. Como Jacó, colocamos a culpa por nosso medo no Outro.

Não existe nenhum “Outro” a ser derrotado, apenas nós mesmos a ser transformados. Este é o caminho angelical: o caminho do acolhimento do Outro e da descoberta de Deus. Não é um caminho fácil e exige que tenhamos feridas terríveis. De fato, ele é um caminho de coragem e amor, que revela o eu e o outro como o Rosto de Deus.

Imaginamos que somos seres espirituais tendo uma experiência material, que nosso verdadeiro lar é em outro lugar, que viemos à Terra para aprender algo e que, uma vez que tenhamos aprendido esse algo, deixaremos para trás o mundo temporário da matéria e retornaremos ao nosso lar eterno. Ignoramos a parábola da Escada de Jacó e esquecemos que os anjos sobem apenas para descer. Insistimos em que os anjos sejam outra coisa que não a nossa capacidade de transformação e imaginamos que estamos aqui para fugir do mundo, não para aceitá-lo com coragem e, assim, transformá-lo com amor.

O caminho angelical sugere uma imagem bem diferente. Não viemos ao mundo chegando de fora dele: nós nascemos no mundo, somos de dentro dele. Não estamos aqui para aprender e partir, estamos aqui para despertar e ensinar. Os anjos não nos mostram o caminho para fugir, eles nos mostram que não há outro caminho que não seja o do amor.

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* O rabino Rami Shapiro é autor de 14 livros. Seu trabalho mais recente é “The Angelic Way: Angels through the Ages and Their Meaning for Us” (sem tradução em português).

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