Morar em apartamento
Segurança, lazer e outros atrativos têm levado cada vez mais pessoas a morar em apartamentos. Mas existe a parte difícil dessa empreitada: viver em condomínio.
Bem-vindo ao seu apê. Você ajustou o orçamento aqui e ali, deu uma boa repaginada nos ambientes do imóvel e só pensa agora em curtir o dia-a-dia no maior sossego. Até ser acordado, um dia, pelos latidos do cão do apartamento acima do seu, desesperado pela ausência do dono. Ou ser obrigado a aturar um vizinho que vive às turras com os demais porque o jornal dele é surrupiado aos domingos. Já imaginou situações assim? Elas podem ocorrer em qualquer condomínio. “Há pessoas que focam as vantagens desse tipo de empreendimento e esquecem que envolve dificuldades e requer aceitação de regras”, diz a socióloga Ana Mércia Silva Roberts, que defendeu tese de doutorado na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) sobre vida em condomínios fechados. Para quem está na fase da escolha do imóvel, os primeiros passos para evitar enroscos são ficar a par da administração dos recursos e investigar se o perfil dos moradores e a rotina do local combinam com seu estilo de vida. Peça para verificar a ata das assembléias, onde consta a rotina do prédio. Ela pode dar sinal verde ou vermelho para o negócio.
A arte de compartilhar
Cada condomínio tem suas particularidades. A administradora de empresas Zélia Lacerda, de São Paulo, procurou um local onde houvesse bastante criança para fazer companhia à sua filha, Vitória, de 8 anos. “Um casal idoso não acharia a menor graça na barulheira da molecada”, reconhece. E, como morou mais de uma década numa casa, Zélia estranha a falta de privacidade do novo endereço. “Todo mundo f ica sabendo de qualquer coisa que acontece”, comenta. Segundo a socióloga Ana Mércia, conf litos na convivência surgem justamente da contradição entre a tendência de as pessoas se agruparem, especialmente nas grandes cidades, pautadas pela verticalização, e a ânsia por privacidade. “Hoje vivemos tempos mais individualistas. Não é fácil tolerar o que é diferente da gente”, argumenta Mércia. Para evitar confusão e estabelecer direitos e deveres, além de organizar a gestão dos negócios, os condomínios elaboram uma convenção, que funciona como uma constituição. “Um condomínio é democrático desde que exista a participação dos moradores”, diz Hubert Gebara, vice-presidente de administração imobiliária e condomínios do Sindicato da Habitação de São Paulo (Secovi-SP). Faça valer as leis.
No ranking das atribulações, figura também a taxa de condomínio. Ok, freqüentar assembléias não é dos programas mais agradáveis. “Mas é a melhor maneira de avaliar se existe controle austero do dinheiro”, diz Rosely Schwartz, professora de administração de condomínios nas Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU), em São Paulo. O que pode turbinar as despesas, contudo, é a inadimplência. “Na cidade de São Paulo, calcula-se que a taxa seja de 6 a 8%”, afirma Hubert. O calote é um dos motivos de preocupação do chef de cozinha Demian Figueiredo, habitante de um prédio na capital paulista onde moram apenas 12 famílias. “Como rateamos as despesas entre poucos apartamentos, se alguém deixa de pagar, pesa para os demais”, diz. A multa em caso de atraso é de 2% ao mês. Um valor maior precisa ser aprovado em assembléia com três quartos dos condôminos. “Primeiro, tenta-se negociar com quem está devendo; se não der resultado, cobra-se em juízo”, explica Frederico da Costa Carvalho Neto, professor de direito da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Em geral, aguardam-se pelo menos três meses. “A regra mais importante para a convivência pacífica é o bom senso. Ele evita arbitrariedades”, completa Rosely.
Gentilezas fazem a diferença
Os vizinhos olham torto para você? Atenção às dicas de comportamento.
Elevador.
“Valem regras à moda antiga – por exemplo, os mais velhos entram primeiro. Também não custa manter a porta aberta para aguardar um morador que esteja se aproximando”, diz a jornalista Márcia Zoladz, de São Paulo.
Garagem.
Não estacione nem sequer um “minutinho” na vaga de outro. O dono aparece quando a gente menos espera.
Crianças.
“Evite autorizar brincadeiras que perturbem o vizinho de baixo. Convém até instalar um piso que absorva ruídos”, aconselha a consultora de etiqueta paulista Glória Kalil.
Animais.
Escolha raças dóceis como lhasa apso e maltês, e que se adaptem à ausência do dono. Não deixe o cão sozinho em casa latindo sem parar.