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Escola Germinare: saiba como funciona essa escola gratuita

Percorra uma escola que inovou na metodologia de ensino e acolheu jovens ávidos por novas formas de aprendizado.

Por Texto Patricia Bernal | Direção de arte Camilla Sola |Design Luciana Giammarino | Fotos Alexandre Rezende
Atualizado em 20 dez 2016, 19h50 - Publicado em 1 set 2012, 18h36

Recentemente a avó de Letícia Fornaciari Fernandes, 12 anos, montou uma loja de roupas em São Paulo. Para ajudá-la nos negócios, a neta mostrou-lhe seu caderno escolar a pedido do pai. “Comecei a falar como funcionava uma empresa, expliquei sobre a importância de ter o capital necessário e de fazer uma boa propaganda. Mas ela não deu muita bola”, conta a jovem, que está no 7º ano do ensino fundamental. Muito nova para entender do assunto? Nem tanto. Letícia estuda na escola Germinare, que oferece, entre outras disciplinas, a de empreendedorismo. Localizada em São Paulo, a instituição de ensino é gratuita e foi criada em 2009 pelo Grupo JBS, especializado em carnes e laticínios, que decidiu investir em um projeto social próprio. “A ideia era desenvolver um espaço educacional que, além de ensinar as disciplinas tradicionais, trouxesse uma qualificação profissional dinâmica, criativa e inovadora”, fala a administradora de empresas Daniela Loureiro, presidente do Instituto Germinare, braço social da holding, de São Paulo.

Atualmente, de um total de 360 alunos, cerca de 70% vêm das escolas públicas (o restante de particulares – porém de baixo custo e, geralmente, com pouca excelência no ensino). “Nosso objetivo é dar oportunidade às crianças de desenvolverem todo seu potencial e assim chegarem mais perto de um futuro promissor – entrar numa boa faculdade e ter um bom emprego”, diz Maria Odete Perrone Lopes, coordenadora pedagógica da Germinare. Segundo ela, todos os alunos (que não tiveram chances de um aprendizado qualificado no passado, mas possuam algum potencial de aprendizado) podem desenvolver habilidades pessoais e intelectuais que ajudarão a encarar os desafios profissionais e coletivos. Basta que lhes sejam oferecidas as ferramentas corretas. “A informação, infinita nessa era digital, vem pronta; já o conhecimento não. Portanto, é preciso estimular as crianças a pensar sobre cada assunto discutido para que elas não se tornem parte de uma geração superficial e sem valores”, afirma a diretora.

Como funciona a Germinare

 

Nesse caminho comprometido com um ensino conectado às mudanças contemporâneas, tecnologia não falta. Os alunos tiram partido do computador em muitas tarefas, como trabalhos e pesquisas, além de aprenderem a usar softwares e aplicativos. “Algumas aulas utilizam lousa digital, onde professor e aluno interagem por meio de toques”, fala Maria Odete. Como o período é integral, de manhã são ensinadas disciplinas do currículo tradicional, como português, história e matemática, que interagem com os aparatos tecnológicos.

 

 

A aula de geografia, por exemplo, pautada somente na memorização em muitas escolas públicas, sem apontar para raciocínios mais elaborados, ganhou dinamismo e atrativos. “Não usamos apenas livros, giz e lousa. Jogos interativos educativos e a internet nos ajudam a criar contextos virtuais que simulam a realidade, a pesquisar de forma rápida e crítica, além de colaborar para o desenvolvimento de trabalhos que usam imagens, vídeos, fotos e gráficos”, diz a professora Francine Thomaz, formada em geografia na Unesp e doutoranda em educação na USP. Isso faz com que os alunos se sintam motivados e encarem cada atividade como um desafio. “Mostramos como ir atrás da informação e o porquê de entendêla”, completa. Com os obstáculos impostos e as ferramentas na mão, dificilmente os alunos desistem da ideia. “Aqui acredito que estão investindo em mim. Bem diferente da escola de onde vim, onde me sentia mais um”, expressa Guilherme de Nascimento Cassemiro, 14 anos, aluno do 9º ano.

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Já no período da tarde, há aulas de reforço, interpretação de texto e “lição de casa” – todas feitas com o auxílio do professor. Mas o que chama a atenção mesmo são as disciplinas profissionalizantes, geralmente ensinadas em escolas técnicas. Tome como exemplo a matéria de empreendedorismo, na qual os estudantes aprendem sobre juros, marketing, logística, gestão de negócios, e por aí afora. Já em robótica e programação, eles entram em contato com conceitos de eletrônica e computação. “Essas disciplinas ensinam o trabalho em grupo, estimulam o aluno a encarar desafios, solucionar problemas e ter raciocínio lógico. O barato é que eles não se intimidam se a dificuldade aumenta. São rápidos e querem mais e mais”, conta o professor Sérgio Costa, técnico em eletrônica pela Escola Técnica Liceu de Artes e Ofícios, de São Paulo. Ele e os alunos estão criando um robô com material reciclado que circulará pela escola falando e andando.

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Idiomas como espanhol e inglês complementam o currículo. São quatro aulas semanais de inglês e duas de espanhol. “Devido ao alto nível do curso de língua inglesa, os alunos prestarão o exame simulado de Cambridge e os que passarem farão a prova oficial e poderão ganhar certificado oficial do idioma”, relata a professora Daniela Loureiro. Como ninguém é de ferro, a tensão é descarregada em aulas de basquete, corrida, natação, que ocorrem duas vezes por semana. A instituição também abre espaço para a formação de equipes esportivas para quem quiser se dedicar mais. Resultado da maratona: 45 aulas semanais, de 50 minutos cada uma. Mas o esforço vale a pena. “Eu gosto bastante daqui, temos um tempo maior para o estudo e nunca fico com dúvida. Estou aprendendo de verdade e acabo ensinando também”, diz Letícia Fornaciari Fernandes, a jovem empreendedora do início da reportagem.

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Como se inscrever

 

Para os pais que se interessaram pela escola, as inscrições ficarão abertas de 10 de setembro até o final do mês, e valem para crianças que estejam a caminho do 6º ano do ensino fundamental. São cerca de 90 vagas para 2013. Para ter uma ideia da concorrência, ano passado houve 1 500 inscritos. O processo de admissão dura três dias e é dividido em duas etapas. Na primeira é aplicada uma prova de português e matemática, e depois um teste psicológico chamado Raven, por meio do qual se avalia o potencial cognitivo, ou seja, a capacidade de aprendizado da criança. Dentre todos, são aprovados aproximadamente 180 jovens. Na segunda fase, o aluno deverá fazer um minicurrículo dizendo quem é ele, do que gosta e não gosta, os ídolos, sonhos etc. Nesse mesmo dia, grupos com até 17 estudantes se reúnem para uma roda de conversa com psicólogos e pedagogos, que irão avaliar o comportamento (como atitude, respeito, participação) dos alunos em grupo. No último dia, os jovens participam de jogos de tabuleiro e atividades físicas e de pensamento coletivas, por meio dos quais são observados aspectos como liderança, disciplina, criatividade, entre outras características comportamentais. Após a reunião de todos os resultados, os alunos que se encaixam na proposta são chamados. Mais informações pelo site.

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