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“Ecodesign é uma questão econômica”

Fumi Masuda, professor da Tokyo Zokei University e diretor do Instituto Ecodesign, no Japão, defende que desenvolver um design mais ecológico transcende qualquer preocupação ambiental.

Por Redação
Atualizado em 20 dez 2016, 19h42 - Publicado em 19 mar 2007, 19h53

Para ele, trata-se de uma urgência da economia mundial. Durante visita ao Brasil, onde participa de um projeto de intercâmbio de conhecimento entre estudantes da FAU-USP, o designer industrial conversou com nossa reportagem e reforçou que é preciso repensar nossos hábitos de consumo

Abaixo, ouça 11 mantras entoados pela cantora Silvia Handroo.

 

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Professor Fumi Masuda durante aula com estudantes japoneses e brasileiros na ...

Casa.com.br – O que é ecodesign?

Fumi Masuda – Em poucas palavras, o conceito remete ao uso de tecnologia para reduzir os impactos ambientais gerados durante a produção de um determinado produto. Portanto, é uma questão de engenharia e também de design. Eu trabalho com ecodesign desde 1997 e posso afirmar que esse segmento do design se desenvolveu muito nos últimos 15 anos. Hoje, praticamente todo produto japonês passa por critérios de ecodesign.

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Você acredita que o ecodesign seja uma tendência no mundo?

É possível encarar como uma tendência, mas eu vejo como muito mais do que isso. Trata-se de um assunto que diz respeito à economia. Se você tem uma grande reserva de petróleo, é possível que você não se preocupe com isso. Mas no Japão, por exemplo, é diferente, já que 100% dos combustíveis, inclusive boa parte da matéria-prima industrial, vem de outros países. Lá, somos cautelosos com o consumo desses materiais, não por uma questão ambiental, mas sim por uma questão econômica. Não temos condições de consumir tanta matéria-prima e, por isso, é urgente aprimorar o modo como a utilizamos. Acredito que isso seja um desafio mundial.

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Como o senhor avalia o ecodesign no Brasil?

O Brasil tem um potencial enorme e, conseqüentemente, muita coisa para fazer. Eu estou aqui com meus alunos para aprender mais e trocar experiências. Visitamos algumas cooperativas de materiais recicláveis e a questão que levantamos a eles foi por que não utilizar esses materiais para fazer bons novos produtos, já que temos um mercado lucrativo, ao invés de apenas revendê-los?

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O ecodesign colabora para um consumo mais consciente?

Não necessariamente. No Japão, a moda dos carros “ecológicos” está impulsionando o mercado de veículos produzidos no país, porque as pessoas estão comprando mais por causa do combustível, mais econômico. Portanto, a entrada de mais tecnologia, ainda que dita ecológica, pode alavancar ainda mais o consumo. Quando eu penso nisso, concluo que é preciso mudar a mentalidade do consumo pelo consumo. O problema, no fim das contas, não é da tecnologia, mas sim do fato de não fazermos a pergunta fundamental: por que nós temos que consumir tanto?

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E qual seria a resposta para essa questão?

Na minha opinião, repensar o consumo requer uma tentativa de reaproximação da natureza. Precisamos abrir mais nossas janelas, passear mais ao ar livre, fazer piqueniques. Somente um relacionamento mais próximo da natureza pode nos fazer usar a energia e os recursos naturais de uma forma controlada.

 

Como o senhor aplica esses critérios no seu trabalho?

Procuro ser sempre muito cauteloso quanto ao uso dos materiais e tento fazer o melhor do melhor. Um bom desenho consegue reduzir a quantidade de materiais e energia necessários para sua produção, desde o projeto do produto. Muitas gente desenvolve projetos que não são bonitos ou encantadores, ou que ninguém vai usar porque são coisas bobas. Procuro pensar se aquele objeto realmente tem que estar aqui. Essa é a questão básica do ecodesign.

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