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Dona Canô, um exemplo de vida

Aos 103 anos de idade, a baiana Claudionor Viana Telles Velloso, a Dona Canô, mãe de Caetano Veloso e Maria Bethânia, continua festeira e animada

Por Simone Serpa
Atualizado em 14 set 2018, 11h51 - Publicado em 10 Maio 2012, 19h14
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Basta passar um dia na casa mais famosa de Santo Amaro da Purificação, cidade a 71 km de Salvador, para perceber que o movimento é grande. A começar pelos filhos Nicinha, Rodrigo e Clara Maria, que moram na residência branca de janelas azuis para cuidar da mãe bem de pertinho, e dos vizinhos e amigos que vêm e vão a todo instante. “Aqui é sempre assim, bem agitado”, diz Dona Canô. Se for dia 16, então, o entra e sai aumenta.

Todos os meses, nessa data, comemora- se mais um mês de vida da matriarca. O aniversário mesmo é 16 de setembro, mas ela faz questão da celebração mensal, hábito que começou no ano do centenário. No mês seguinte à festa, ela perguntou ao filho Rodrigo: “E agora, não vamos comemorar mais? Por quê?”. “É claro que vamos!”, foi a resposta, e a organização começou de imediato.

Os que vão lá durante o dia da festa dar nela um beijo de aniversário, ela convida, ou melhor, intima a voltar à noite. Os filhos, netos e bisnetos que moram em Salvador chegam, quando podem, antes da hora do almoço e a celebração começa cedo, regada a gostosuras preparadas por Isaura, que cozinha para a família há mais de 40 anos. “Fui eu que ensinei tudo a ela”, afirma Dona Canô, lembrando a época em que ela própria era cozinheira de mão-cheia.

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A animação com certeza é um dos segredos dessa senhora de sorriso fácil e bondoso. Outra provável razão para a longevidade é sua própria vida, que, como ela mesma gosta de dizer, “foi muito bem vivida. Tive um marido maravilhoso e filhos que não me deram trabalho e me trouxeram muita alegria”.

Sempre bem acompanhada

 

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O fato é que a matriarca adora reunir o clã e os amigos simplesmente para celebrar a vida. “Gosto de gente, nunca fico só, minha porta não se fecha”, diz. Não mesmo: está sempre aberta até aos desconhecidos, como é o caso dos turistas que vêm de vários lugares do Brasil e do exterior para conhecer essa que se tornou nobre figura do país não se sabe bem por quê.

Ela garante que foram os filhos Bethânia e Caetano, que apesar de toda a fama jamais se esqueceram de onde vieram, nem da mãe que têm. Pode ser, mas certamente sua generosidade, a eterna disposição para fazer o bem e o dom de receber e ouvir quem quer que seja também contribuíram muito. “As pessoas vêm aqui, pedem conselho, se emocionam, choram até”, conta a sua filha Clara.

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A vida é uma festa

 

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Para a centenária, a festa mais marcante realizada no sobrado da família foi a de suas bodas de ouro com o marido José Telles Velloso, o Zeca, companheiro por 53 anos, que faleceu em 1983.

“Todo mundo veio, amanheceu o dia e ele não queria que parasse”, relembra. Olhando as paredes da casa, é possível ver lembranças dessa data tão querida. Na época, a gravadora dos filhos famosos mandou um “disco de ouro” para felicitar o casal.

Dona Canô é de origem humilde, mas cresceu com a ajuda de uma família abastada, que apresentou à menina curiosa a música, a poesia e a matriculou em escola particular, onde ela aprendeu a falar francês e a tocar piano. Não é de se admirar que dois dos filhos tenham-se consagrado como artistas da música.

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Sábia na arte de criar os filhos, de dar e receber amor, Dona Canô é reverenciada por amigos, desconhecidos, admiradores. Qualquer um que chegue a sua casa pede a benção e se curva à mulher de corpo franzino, mas de alma forte. Os mais íntimos conhecem bem seu bom humor e fazem sempre uma brincadeira com ela, como o rapaz, amigo da família, que entrou cantarolando o verso “Dona Canô chamou, eu vou / Dona Canô chamou, eu já me vou Dona Canô”, da música Dona Canô, composta por Caetano Veloso. Às provocações carinhosas, ela responde rápida e prontamente e ainda dá boas risadas.

Monotonia não existe na vida da centenária mais conhecida do Brasil, mas serenidade é um de seus pontos fortes, característica cultivada ao longo da vida que se uniu a outras sabedorias: “Nunca fui de ficar muito preocupada, sou paciente e me dou com todo mundo”, diz. Quem quiser que aprenda.

 

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