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Cabala: coincidências podem ser uma mensagem sagrada para a sua vida

Segundo Edward Hoffman, professor de psicologia em Nova York, existe um plano divino para cada um de nós e as coincidências nos ajudam a ver tal plano em ação

Por Por Edward Hoffman | Tradução Lislaine Oliveira
Atualizado em 29 ago 2018, 11h47 - Publicado em 28 ago 2012, 17h08
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Você já passou por alguma situação de excepcional coincidência?

Já conheceu alguém por acaso – ou encontrou-se em uma situação inesperada – que a fez pensar sobre a existência de um Poder Supremo? A maioria das pessoas já passou por esse tipo de vivência alguma vez, e para algumas delas esses episódios são verdadeiramente transformadores. Eles podem nos trazer um novo romance, uma amizade ou ainda criar uma oportunidade inesperada para o sucesso pessoal. Vários filmes de Hollywood já celebraram o poder das coincidências. Escrito nas Estrelas, com John Cusack, e Os Agentes do Destino, estrelado por Matt Damon e Emily Blunt, estão entre eles.

 

Mas será que o Universo tem, de fato, alguma influência sobre esses acontecimentos?

 

A cabala enfaticamente afirma que sim. De acordo com esses antigos ensinamentos, existe um plano divino para cada um de nós e as coincidências nos ajudam a ver tal plano em ação. As mensagens de vida advindas desses episódios são destinadas a nos guiar – exemplo do que os cabalistas chamam de Divina Providência. Esses eventos são misteriosos, surpreendentes ou espantosamente coincidentes. Quanto mais receptivos estivermos, maiores as possibilidades de crescimento espiritual.

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No século 18, o cabalista italiano Moses Chaim Luzzatto inspiradamente escreveu sobre esse tópico e afirmou que existem diversas razões para o que acontece conosco neste mundo. A “Suprema Sabedoria”, declarou o rabino Luzzatto, “percebe e sabe o que é melhor para retificar toda a criação”. Em seu famoso livro O Caminho de Deus, ele dá alguns exemplos, como o da vaca que cai e quebra a pata e, em função do acidente, leva seu dono a encontrar um tesouro que ali havia sido enterrado. Ele também cita o exemplo – familiar a muitos de nós – de uma pessoa que deseja viajar e, repentinamente, se atrasa em função de mau tempo ou perda de conexão “apenas” para descobrir que aquela viagem terminaria em desastre. “Eventos como esses podem ser destinados a afetar o próprio indivíduo ou influenciar outras pessoas”, explica o rabino Luzzatto. “Portanto, algo que acontece a uma pessoa pode trazer o bem ou o mal a outra pessoa.”

 

Os antigos chassídicos também compartilhavam a mesma ideia. Eles atribuíam significativa importância às estranhas consequências de certos eventos, dando margem a interpretações em vários níveis. Em uma história chassídica bem conhecida, um discípulo do rabino Koretzer viu-se perdido em uma ilha deserta quando estava a caminho de realizar um ato sagrado para seu mentor. O discípulo manteve-se vivo alimentando-se de frutas e bagas silvestres. Tempos depois, foi resgatado por um navio de passagem. O discípulo sentiu-se envergonhado por aparentemente ter falhado em sua missão, mas foi advertido por rebbe Koretzer: “Havia faíscas de santidade naquela ilha que precisavam retornar à fonte suprema. Não lamente a oportunidade que teve, pois você serviu bem a Deus”.

 

Em outra história, Baal Shem Tov (fundador do chassidismo) e um discípulo estavam caminhando em uma estrada quente e poeirenta. Não havia água potável por vários quilômetros. O discípulo amargamente reclamou de sede. “Você acredita em Divina Providência?”, questionou repentinamente Baal Shem Tov. “Sim”, respondeu o intrigado discípulo.  Naquele momento, um estranho apareceu carregando um balde de água e ofereceu aos andarilhos um pouco para beber. Baal Shem Tov perguntou ao estranho o que fazia em um lugar tão remoto, transportando água a longas distâncias. O homem respondeu: “Meu patrão acabou de desmaiar não muito longe daqui, e fui obrigado a encontrar uma fonte e trazer-lhe água”.

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Baal Shem Tov virou-se para o discípulo e disse triunfantemente: “Como você pode ver, não existem coincidências no Universo!”

 

Você já ouviu o termo sincronicidade? Ele foi criado pelo psiquiatra suíço Carl Jung para explicar o fenômeno das “coincidências significativas”. Assim como os cabalistas, Jung acreditava que o Cosmo é permeado por uma harmonia divina e que eventos como esses revelam que tudo está conectado. Como terapeuta, ele descobriu que as pessoas começam a vivenciar momentos mais repletos de coincidências quando estão em um período de transformação e crescimento pessoal. Jung estudou a cabala e pode ter sido influenciado pelos ensinamentos desse fenômeno.

 

Portanto, na próxima vez que você tiver uma coincidência surpreendente, preste atenção. Essa pode muito bem ser uma mensagem sagrada para guiar sua vida em uma direção nova e benéfica.

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O dr. Edward Hoffman é professor de psicologia na Yeshiva University, em Nova York, Estados Unidos. É autor do livro A Sabedoria de Carl Jung (Editora Palas Athena), bem como de outros livros traduzidos para o português. Ele viaja com frequência ao Brasil, onde profere palestras e workshops. E-mail: elhoffma@yu.edu.

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