Contêiner: saiba como essa estrutura se transforma em casa
Além de ser uma alternativa sustentável, esse método construtivo reduz o tempo de obra e permite todo tipo de personalização
Usar os contêineres descartados pelo comércio marítimo para fazer casas, hospedagens ou estabelecimentos comerciais é uma tendência na arquitetura e no design de interiores que veio para ficar. Além de criar um visual estiloso, esse método construtivo é mais sustentável e muito mais prático, do ponto de vista da execução da obra. “A construção com contêineres diminui a produção de entulho e, com isso, temos menos descarte de materiais. Também é preciso menos mão de obra e, com uma boa programação, é possível ter a data certa de finalização, o que impacta nos custos finais do projeto”, explica Marcos Bueno, arquiteto CEO da Expo Construção Offsite.
Apesar de ainda ocupar uma faixa pequena do mercado da construção civil no país, esse método tem crescido e atraído o interesse de quem vai construir. “O modelo já existe lá fora há algumas décadas. Mas, aqui no Brasil, por enquanto, é primitivo e, talvez, o mercado nacional demore um pouco para assimilar essa ideia. Apesar disso, tenho certeza de que, assim que notarem que o uso dos contêineres na construção é amplamente vantajoso — em termos de produtividade, prazo de execução, custo e sustentabilidade —, entraremos em um caminho sem volta. E para melhor!”, afirma Pedro Carvalhal, sócio-fundador da Bangalou, empresa especializada na construção com contêineres.
Exemplo de como essa tendência está se tornando cada vez mais presente na arquitetura brasileira é o projeto Janelas CASACOR, que se espalha por diversas cidades brasileiras com propostas de um novo jeito de morar — a edição de Brasília já está acontecendo e a de São Paulo vai ser inaugurada no dia 8 de novembro. São projetos criativos de arquitetos e designers de interiores pensados para ocupar o espaço de um contêiner ou um módulo habitável — outro método de construção pré-fabricada, que ganhou força atualmente.
Mas, se você leu esta reportagem até aqui e está se perguntando se é trabalhoso transformar um contêiner em um lugar habitável e se a experiência de viver nele é interessante, saiba que vamos esclarecer essas e outras dúvidas logo abaixo. Confira!
Tipos de contêineres
Há uma grande variedade e contêineres no mercado, mas, segundo Pedro, os modelos Dry e Reefer são os mais usados para a construção civil. Fabricado com aço corten, com uma liga de aço mais resistente que o convencional, ele resiste bem às variações de clima. Como ele é todo fechado, com apenas duas portas traseiras, funciona bem para personalização dos projetos. Já o Reefer é usado originalmente para estocagem de produtos perecíveis e tem estrutura externa de alumínio ou aço corten.
Há também os contêineres marítimos, que tem vida útil de até 10 anos para serem usados no transporte de cargas. Depois disso, são colocados no marcado e, quando comprados, podem ser personalizados por arquitetos para se tornarem casas, lojas, hotéis e outros estabelecimentos. “Essa transformação é feita em uma fábrica e o contêiner chega ao terreno onde vai ficar pronto, com instalação elétrica, hidráulica e revestimentos”, explica Marcos.
No caso dos módulos habitáveis, eles também são construídos em uma fábrica e chegam quase prontos ao local, onde será preciso fazer apenas conexões de hidráulica, elétrica e alguns acabamentos.
Processo de preparação
Os contêineres são originalmente usados para o transporte e armazenamento de cargas. Por isso, o primeiro passo para transformá-lo em uma casa ou um estabelecimento comercial é elaborar um laudo de habitabilidade. “Com esse documento podemos ter a certeza de que a estrutura não transportou nenhum material tóxico ao longo dos anos e que pode ser usado por humanos sem prejuízo à saúde”, explica Pedro.
Em seguida, ele vai para o tratamento da superfície interna e externa para remover, por exemplo, a ferrugem na lataria. “Na sequência, fazemos a proteção do aço para evitar futuros desgastes por intempéries”, diz Pedro.
Com todo o preparo da estrutura feito, o próximo passo é a reforma, que vai levar em conta as instruções do projeto arquitetônico para executar os acabamentos e outras especificações, como o corte de janelas e portas. “Vale destacar a recomendação de que a execução de todos esses processos deve ser realizada por empresas especializadas”, alerta Pedro.
Conforto e segurança
Quando se fala em construção com contêiner, é comum questionar se há desconforto térmico e acústico e também a segurança. “O contêiner cru, ou seja, sem tratamento nenhum, potencializa os efeitos de som e temperatura externos. Em dias muito quentes, a temperatura interna tende a ficar elevada. Portanto, todas as construções em contêineres devem prever um isolamento termoacústico adequado a fim de garantir o conforto para quem for usá-lo”, explica Pedro.
Quanto à segurança, Marcos explica que o contêiner funciona pelo mesmo princípio da Gaiola de Faraday, por isso, não há o problema de atrair raios durante uma tempestade. O que acontece é que um condutor, quando carregado, tende a espalhar suas cargas por toda a superfície. Se esse condutor for uma esfera oca, por exemplo, os efeitos do campo elétrico acabam se anulado. Por isso, o contêiner funciona com o mesmo princípio de aviões e carros.
Sobre a questão estrutural, a maioria dos clientes e arquitetos opta por criar janelas, portas ou paredes de vidro em sua casa container. “Para isso, é preciso abrir vãos nas faces e isso interfere diretamente na resistência da estrutura. A qualidade do projeto — desenvolvido em conjunto por um arquiteto e um calculista —, portanto, é fundamental”, acrescenta Pedro.