Geroarquitetura: o que é e projetos com soluções de acessibilidade pensadas para 3ª idade
Com o crescimento da população idosa, é necessário pensar em soluções para 3ª idade. Veja o que é a geroarquitetura e projetos que aplicam o conceito.
A população brasileira está envelhecendo. Segundo o censo 2023, o número de idosos no Brasil cresceu 57,4% em 12 anos. Hoje, são mais de 22 milhões de pessoas com mais de 65 anos ou mais no país. Tendo isso mente, faz sentido que a arquitetura voltada para a 3ª idade vem ganhando força. A chamada Gero-arquitetura se propõe a pensar espaços adequados às necessidades dos idosos, sejam físicas, como rampas de cadeiras de rodas, ou emocionais como espaços de convivência para promover o bem-estar e a interação.
No artigo “Por uma gero-arquitetura: a inclusão dos idosos no processo projetual”, o professor de arquitetura da Universidade Federal do Paraná Antonio Castelnou, relaciona o tema ao Desenho Universal (DU), conceito criado na década de 1960 por Ronald Lawrence Mace cuja premissa são os projetos que possam ser utilizados por qualquer ocupante, independente de qualquer limitação, sejam idosos, crianças ou PCDs. Ele aponta algumas características que devem ser levadas em consideração ao se projetar de forma acessível como:
- considerar as dimensões necessárias para acomodação e passagem de cadeiras de rodas, muletas, bengalas ou andadores
- cuidado com barreiras tais como rampas, desníveis, muretas e aberturas
- revestimentos e superfícies de fácil limpeza e aderência para evitar quedas
- cuidado ao criar cantos e quinas para evitar acidentes
- inclusão de barras de apoio e assento em banheiros
- iluminação eficiente e controlada
“Nas propostas amigáveis aos idosos, a edificação deverá equilibrar suas limitações visuais, auditivas e motoras, além da redução de sua capacidade mental, por meio de adaptações específicas”, ele afirma no artigo.
Confira abaixo projetos que tiveram soluções pensadas para a acessibilidade:
Apartamento integrado com sofá de assento firme
A arquiteta Mari Milani utilizou a integração entre cômodos já pensando na circulação da moradora deste apartamento. “Um atributo que sempre prestamos atenção em projetos para moradores idosos diz respeito à largura das portas e passagens”, diz.
Durante o planejamento do projeto, a arquiteta ressaltou a importância de conhecer as preferências do morador para prestigiar suas atividades preferidas. “Pode ser desde o prazer de assistir TV, o hábito da leitura, costura, artes manuais ou a culinária”, destaca.
Além desses elementos, o apartamento também conta com móveis em formatos arredondados e também um sofá com densidade de assento mais firme, que facilita na hora de se levantar.
Apartamento com corredor iluminado
Para garantir a iluminação adequada no corredor que liga área social à área íntima, a arquiteta Larissa Albuquerque instalou balizadores ao longo da circulação. Ele conduzem o caminho e promovem uma locomoção mais segura.
Estúdio com cozinha equipada para cadeira de rodas
Neste estúdio de 88 m², o ADVP Arquitetura criou soluções de acessibilidade em todo o seu projeto para a CASACOR São Paulo. O banheiro conta com barras de apoio e um banco no box para que o ocupante possa se banhar com conforto e segurança.
Já a cozinha possui um espaço na bancada de trabalho que pode receber uma cadeira de rodas. O quarto dispõe de um closet aberto, o qual facilita o acesso às roupas.
Casa com passagens largas e poucos desníveis
O arquiteto Hélio Carneiro criou esta residência para seus pais. “O antigo sobrado da família se tornou inviável por causa de problemas de saúde do meu pai”, lembra o rapaz, que concebeu uma proposta sob medida para a atual fase de vida do casal.
Aqui, os cômodos mais utilizados se concentram no térreo, livre de degraus e desníveis; as passagens extrapolam a medida-padrão; e o piso antiderrapante previne escorregões.
Loft com iluminação automatizada
O Loft da Longevidade, de 120 m² assinado pelo Estúdio Criativo para a CASACOR Santa Catarina, inclui sala de estar, jantar e TV, além de cozinha, suíte e banheiro, tudo idealizado para um casal acima dos 50 anos. Iluminação e cortinas são automatizados e podem ser controlados via Alexa.
Sala de banho com barras de apoio
As arquitetas Amanda Saback e Luiza Veloso, do escritório Traama Arquitetura para a CASACOR Brasília, incorporaram barras de apoio de várias formas em seu projeto de banheiro. As barras verticais possuem cabides em sua estrutura, e as horizontais funcionam também como porta objetos e prateleiras.
Elegantes e versáteis elas unem a acessibilidade e segurança ao design a à beleza.
Apartamento com soluções para pessoas com deficiência visual
Este projeto do Infinity Spaces Arquitetura e Interiores foi concebido para um morador com deficiência visual e sua filha.
“Evitamos quinas e apostamos em um mobiliário com curvas e formas orgânicas, que além de atemporais, cooperam para atender as especificidades da vida autônoma que o Guilherme pode levar”, comenta Giseli, que ainda enfatiza a praticidade desses espaços tanto no que diz respeito à montagem, limpeza, manutenção e claro, ergonomia e muito conforto.
Dando acesso a cozinha, a porta de correr tornou a circulação com a sala melhor, ao mesmo tempo que propicia privacidade entre os dois cômodos. Pensada para uma pessoa com deficiência visual, ela não contém trilho no piso, evitando o risco de tropeços e acidentes cotidianos.
No interior do ambiente, não poderia faltar praticidade e funcionalidade evidentes por meio dos revestimentos práticos e fáceis de limpar. A marcenaria bem pensada auxilia na organização e faz com que o morador saiba exatamente onde cada coisa está guardada.
Apartamento com soluções para pessoas com deficiência auditiva
A arquiteta Angelina Bunselmeyer compartilha que o morador deste apartamento, portador de deficiência auditiva que iria morar sozinho pela primeira vez, tinha receios que incluíam medo de incêndio, assaltos e dificuldade de contato com a portaria, já que não havia sistemas de automação (como câmeras) disponíveis.
As soluções encontradas foram simples e eficientes, por exemplo uma arandela ligada à campainha da casa. Também foram instalados um sistema ligado à portaria que emite um sinal luminoso quando toca o interfone e um equipamento que vibra na cabeceira da cama e permite avisar em casos de emergências.