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Sobrado paulistano com jardim de ervas, orquídeas e respeito ao tempo

Na casa da estilista Helena Linhares, onde cada peça conta uma história e os ciclos da natureza são observados com atenção

Por Texto Cristina Dantas | Reportagem visual Tiago Cappi | Design Roberta Jordá | Fotos Eduardo Pozella
Atualizado em 21 nov 2022, 23h07 - Publicado em 20 set 2012, 13h13

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“Aceita um chá?”, pergunta Helena Linhares em sua aconchegante casa paulistana. Enquanto você espera que ela abra uma caixinha prosaica e puxe de lá um saquinho, o movimento que faz é outro: silhueta esguia, fala doce, Helena se encaminha até o jardim, recolhe algumas folhas de um tufo de erva-cidreira e entrega a você uma caneca que exala no vapor o perfume da planta.

Como é o dia-a-dia de Helena

Quem não sabe em que ramo profissional Helena atua pode achar que está diante de alguém que vive um cotidiano de baixo impacto. Puro engano. Há oito meses Helena criou o site O Look, que concilia o que parecia inconciliável: estilo e preços bons – realizando dois desejos que ela nutria havia algum tempo. “Eu queria voltar para a criação de moda e vender peças legais a preços bem acessíveis”, conta a ex-dona da Pelu, endereço paulistano que por oito anos reuniu moda, salão de beleza, bar e gente interessante. “Mas eu estava cada vez mais distante da moda”, lembra. “Além disso, os preços eram altos.”

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Mesmo que esteja com apenas 34 anos, a jornada até aqui foi longa. Formada em administração de empresas, estudou marketing de moda e estilismo em Nova York e em Paris. Trabalhou no ateliê de Emanuel Ungaro e colaborou na descoladíssima revista americana W. Mas decidiu: queria mesmo era voltar para o país e, principalmente, para a família. Tinha 24 anos quando desembarcou em terras brasileiras com seu já consistente currículo. Chegou, casou, descasou e foi morar na casa de uma rua paulistana onde os jardins são quase todos verdes e floridos. Em mais de um sentido, ela estava em casa.

Quem morava antes nesse sobrado

Quem habitou antes dela o charmoso sobrado foi a mãe, Mônica de Mattos Duarte, que faz alinhamento de ambientes. Com experiência em feng shui e em massagem ayurvédica, Mônica hoje realinha um cômodo, um escritório ou uma casa inteira de uma forma quase intuitiva. Tão à vontade entre as plantas quanto a filha, ela deixou uma horta pronta para que a nova moradora continuasse com os cuidados – e com o desfrute. Na parte de trás da casa, Helena cuida ainda de uma coleção de orquídeas dispostas nas duas folhas da portabalcão, formando um bonito mosaico. “Elas pedem dedicação, é preciso podar, colocar os nutrientes. Mas essa é a graça”, diz. O quintal exibe também um pessegueiro, uma oliveira e até uma camélia, que veio na forma de muda da casa da bisavó. Pai e mãe, hoje separados, são fazendeiros. Tiveram desde cedo o hábito de cuidar da casa, de mexer a terra: costumes transmitidos à nova geração.

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Detalhes da decoração

O apego às raízes é visível também nos móveis e objetos do sobrado onde ela vive há oito anos. A maior parte do que se vê veio do acervo familiar. O recamiê azul, por exemplo, era da bisavó. Há também os presentes, como o baú antigo que chegou palas mãos de uma das irmãs. É sobre o baú que fica Ganesha, no espaço da sala em que Helena pratica ioga e meditação. Quando chego do trabalho, desacelero”, conta. Por isso, a casa é seu oásis. E a cozinha, reduto importante neste lugar idílico, especialmente nos fins de semana, quando os amigos chegam para saborear os pratos preparados por ela: peixe, pato, cuscuz. Mesas de bar, dobráveis, são armadas no quintal, sob a sombra de uma vistosa cheflera, junto ao quarto de hóspedes. Viçosas, as plantas receberam cuidados extras no final do inverno, quando precisam de um reforço para chegar saudáveis à primavera. Vivendo em cidades tão frenéticas, quantas pessoas se dão a observar e a respeitar os ciclos da natureza – da Lua ou das plantas? Eis uma delas: “Eu respeito”, diz Helena, com a suavidade conferida pela convicção.

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