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Significados e ritos da quaresma, um período de mergulho espiritual

Da quarta-feira de cinzas à Páscoa: confira o que é a quaresma e as celebrações realizadas em cada dia da Semana Santa.

Por Por Marcel Verrumo
Atualizado em 14 dez 2016, 12h56 - Publicado em 1 fev 2013, 17h49
fogueira

A quaresma, período de 40 dias e 40 noites que se inicia na quarta-feira de cinzas e é encerrado no domingo de Páscoa, é um tempo de um mergulho espiritual para muitos cristãos. Mas quais os significados bíblicos envolvendo essa data? “Na Bíblia, Jesus fica 40 dias no deserto, sendo provado. Esse período remete a esses quarenta dias. As celebrações da Quaresma, como conhecidas hoje, foram instituídas apenas no século 4, para que os fieis se recolhessem, refletissem sobre sua vida espiritual e se preparassem para a celebração da morte e ressurreição de Cristo”, afirma o Padre Valeriano dos Santos Costa, Diretor da Faculdade de Teologia da PUC/SP. No entanto, os significados que rodeiam o número 40 não param por aí. “40 anos também era o tempo médio de vida de uma pessoa antigamente. Portanto, é o tempo utilizado por historiadores para se referir a uma geração”, completa Jung Mo Sung, Diretor da Faculdade de Humanidade e Direito da Universidade Metodista de São Paulo e professor de Ciência da Religião.

A Quaresma é uma celebração cristã-católica, mas outras religiões também têm seus períodos de reflexão. Entre os Muçulmanos, por exemplo, o Ramadã é um período em que os fieis ficam em jejum durante o dia. O povo judeu jejua na véspera do Yom Kippur, o dia do perdão. “Os protestantes até tem um período de reflexão semelhante à quaresma, mas não o celebram com rituais”, defende Mo Sung. Para os católicos, a quaresma também é um momento de reflexão sobre o tempo, o espírito e a mortalidade. “Vivemos como se nunca fôssemos morrer e acabamos não vivendo o momento. Nossa cultura valoriza viver o presente, desprezando uma perspectiva histórica, na qual se estabelecem relacionamentos mais profundos. Esse é um período de olharmos para nós e nossos relacionamentos”, defende Jung Mo Sung.

Da cinza viemos e às cinzas voltaremos

O início da quaresma é celebrado na quarta-feira de cinzas, data que coincide com o dia seguinte à terça-feira de Carnaval. A quarta-feira recebe este nome, porque nela é celebrada a tradicional missa de cinzas, nas quais são misturadas à água benta as cinzas dos ramos abençoados no Domingo de Ramos do ano anterior. “Na Bíblia, todo o povo se cobria de cinzas para se purificar”, relembra o Padre Valeriano. Para iniciar um momento de reflexão espiritual, o dia também serve para lembrar, segundo Jung Mo Sung, que “do pó viemos e ao pó voltaremos”.

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Costumes deturpados

“Muitas das crenças envolvendo a Quaresma, que ditam o comportamento dos cristãos não estão de acordo com a Bíblia, que prega apenas um recolhimento espiritual e um jejum total na Quarta-feira de Cinzas e na Sexta-feira Santa”, defende o Padre Valeriano, que cita, por exemplo, que muitos cristãos, nesse período, costumavam não tomar banho para permanecerem com as cinzas no corpo. Jung Mo Sung, da Metodista, também lembra que muitos fieis costumavam embrulhar crucifixos em panos roxos. Há até aqueles que acreditavam que, durante o período, Jesus estava em todos os cantos e, levando isso ao pé da letra, não varriam os cantos das casas. “Muitos costumes bíblicos foram deturpados por populações locais. Uma das maiores deturpações é em relação ao jejum na Sexta-feira Santa. A Bíblia prega que deve ser feito um jejum total, mas comunidades cristãs começaram a interpretar que apenas não se pode comer carne vermelha, sendo permitida a branca”, informa o Padre Valeriano.

Dia a dia da Semana Santa

“A Semana Santa é um tempo de se dedicar ainda mais à reflexão, um período em que a Igreja Católica realiza uma série de celebrações nos dias que antecedem a Ressurreição de Jesus Cristo, o domingo de Páscoa”, afirma o Padre Valeriano. Tudo se inicia uma semana antes da Páscoa, no Domingo de Ramos, quando se celebra uma missa comemorando a chegada de Cristo a Jerusalém, momento em que ele é aclamado pela população da cidade na época. Na quinta-feira, é realizada a celebração da Santa Ceia, também conhecida como Missa de Lava Pés. “Durante a celebração, padres ajoelham-se e lavam os pés de alguns fieis. É um momento que representa a última ceia de Jesus com discípulos, na qual o líder religioso se ajoelha e lavo os pés desses”, afirma o Padre Valeriano. O ato representa o amor, a humildade. No tempo de Cristo, quem se ajoelhava para limpar os pés dos senhores que chegavam do deserto eram os escravos. “Jesus ajoelhou-se para mostrar-se um servo do outro”, completa o padre. No dia posterior, a Sexta-feira da Paixão, é realizada a procissão do Senhor Morto, momento que marca a Crucificação de Jesus. No sábado de Aleluia, é celebrada a Vigília Pascal, ou Missa do Fogo Novo, quando é aceso o Círio Pascal — que representa a luz de Cristo. É um símbolo de renovação, de início de um novo ciclo. Toda a tradição se encerra no domingo, quando é celebrada a Missa de Páscoa para comemorar a ressurreição de Cristo.

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círio

As lições da Quaresma

“A quaresma é um período em que nós poderíamos aproveitar para procurar um sentido mais profundo para a vida. Um momento de buscarmos uma realização maior que a profissional ou experiências rasas que caracterizam o cotidiano. É um momento de perceber que a vida tem uma dimensão mais profunda”, defende Jung Mo Sung. Para o padre Valeriano, uma das lições ensinadas pela quaresma é uma reflexão sobre o Eu, sobre os erros e acertos: “precisamos vê-la como um tempo de prática de caridade, de penitência, de reflexão e de mudança de valores. Um momento de, mais do que nunca, voltar-se para Deus e para pensar sobre como construir um mundo melhor”. 

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