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Bloco de terra fica mais resistente com sacos reciclados de cimento

Pesquisador da UnB cria blocos de terra mais resistentes substituindo parte do cimento por papel kraft.

Por Por Nilbberth Silva
Atualizado em 21 dez 2016, 00h03 - Publicado em 30 jul 2013, 21h24
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Em 2012, a indústria de cimento brasileira despachou cerca de 920 milhões de sacos de cimento. Enquanto o conteúdo se transformou em paredes, pisos e pilares, a maior parte dos sacos de papel foi jogada fora sem reciclagem. O arquiteto Márcio Buson descobriu uma maneira de incorporar as fibras dessas embalagens na construção civil. Misturado com terra e cimento, o papel se transforma em krafterra, um material que pode ser usada para formar blocos de terra. 

Buson criou o material durante seu doutorado na Universidade de Brasília (UnB), onde também é professor. Ele extraiu as fibras dos sacos de cimento para criar blocos semelhantes a um material de construção já existente: os blocos de terra compactada (BTC), mais conhecidos como tijolos ecológicos. BTCs são produzidos misturando uma parte de cimento para oito partes de terra em água. Depois, os construtores compactam a mistura numa prensa e deixam o bloco secando ao sol. Já os BTCs de krafterra substituem metade do cimento pela fibra do papel kraft. Nessa fórmula, cada tijolo (25 x 12,5 x 6,25 cm) usa um saco grande de cimento.  

 

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Material forte 

O papel kraft substitui o cimento por ter fibras de madeira e bambu, que são longas e, por isso, mais resistentes. “O tamanho também permite incorporar as fibras ao solo natural e criar um compósito mais resistente”. Por isso, Buson aposta que o papel possa ser usado em outras técnicas de arquitetura com terra: blocos de adobe, taipa, pau-a-pique.

O professor também acredita que blocos de krafterra misturado a cimento poderão substituir os tijolos ecológicos em um dos seus usos mais comuns: a construção de casas populares. Uma casa com 52 m² – dois quartos, sala, cozinha e área de serviço externa – usaria 15 mil sacos de papel kraft multifoliado. Material não falta: o Brasil produziu mais de 390 mil toneladas de paperl kraft em 2009. A maior parte do papel virou lixo. Isso porque reciclar as embalagens exige livrá-la da de produtos como o cimento, adubos e rações – preço que as recicladoras não se dispõem a pagar.

 

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Blocos de terra mais resistentes

Os blocos de krafterra são 11 % mais resistente que o BTC tradicional. Enquanto os tijolos com fibras de papel suportaram sem quebrar uma pressão vertical de 60,4 kg por cm², o tijolo ecológico não aguentou mais do que 54,3 kg/cm². O bloco de krafterra também levou a melhor nos testes de calor. Nessa avaliação, o arquiteto colocou paredes de krafterra na boca de um forno que chegava a 1050 °C. Depois de duas horas, ele media o quanto aumentou a temperatura da face externa da parede. A parede com BTCs esquentou 50 °C; já as paredes com blocos de krafterra esquentaram 50 °C. “O krafterra diminui o ganho ou perda de calor, o que é bom para as construções”, explica Buson. “Agora, pode ser considerado até um material corta-fogo”, acrescenta. No entanto, os blocos de krafterra absorviam mais água do que o tijolo ecológico. Essa desvantagem foi fácil de contornar. Bastou adicionar à mistura um pouco de seiva de babosa. As pesquisas com o material foram feitos na UnB e Universidade de Aveiro, em Portugal.

O próximo passo da pesquisa é analisar como o material se comporta em uma casa real. Por isso os pesquisadores vão construir e analisar uma casa de 50 m² na UnB com o material. “Recomendo que as pessoas usem o krafterra, mas sempre lembro que eu ainda não consegui fazer testes com um protótipo de uma construção em escala real, deixada ao sol”, explica o arquiteto. Enquanto a verba e o espaço para fazer novos testes não saem, Buson comemora um reconhecimento: o tijolo recebeu menção honrosa na Bienal Ibero-Americana de Design de Curitiba, em 2012.

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