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Quando recomeçar vale a pena

Temos de decidir se oferecemos um voto de confiança ao que ficou para trás ou apostamos as fichas em novas histórias

Por Raphaela de Campos Mello
Atualizado em 20 dez 2016, 23h32 - Publicado em 20 abr 2012, 16h12
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Lúcia se abriu para um novo amor após o divórcio. Vera entrou na faculdade assim que as filhas adultas agarraram seus diplomas. Mara voltou a dirigir após uma temporada longe do volante. Tatiana reatou uma antiga amizade graças a uma conversa regada a lágrimas e abraços. Os nomes das personagens são fictícios, mas suas histórias, reais. Mas, afinal, o que colhemos quando recomeçamos uma história do zero?

“Ganhamos a possibilidade de resgatar um sonho significativo”, afirma Lidia Aratangy, terapeuta de casais e família, autora de O Anel que Tu me Deste (ed. Artemeios). Já a psicóloga Celina Figueiredo, especialista em psicologia do budismo, vê em cada nova investida um exercício libertador. “Quando damos uma segunda chance a alguém ou a uma situação, passamos a olhar o outro e a nós mesmas de forma diferente”, diz a estudiosa.

Essa lógica compreende a essência do budismo. “Os seguidores de Buda buscam a liberdade interna, ou seja, não deixam que a mente se prenda a padrões condicionados”, comenta Celina. Logo, mudar de ideia, redirecionar o ângulo de visão, desbravar horizontes inexplorados, enfim, começar a acreditar no potencial de regeneração da vida é uma forma de escrever nossa história com mais fluidez.

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A hora do jogo

Persistir, se reinventar, se refazer e sonhar são habilidades que dominamos como nenhum outro ser na face da Terra. E é a esperança que nos mantém ali, soprando em nossos ouvidos que seremos vencedores. Mas, como qualquer jogador sensato, precisamos reconhecer o momento exato de abandonar o páreo. “Enquanto a pessoa enxergar possibilidades, deve insistir”, opina o filósofo e professor Mario Sergio Cortella, autor de Não Nascemos Prontos! Provocações Filosóficas (ed. Vozes).

A terapeuta Lidia Aratangy prefere traduzir ao pé da letra a expressão segunda chance. “Para ser de fato uma segunda cartada, ela precisa apresentar uma condição nova, porque, se for igualzinha à da última vez, vai dar no mesmo lugar”, alerta. Isso quer dizer que, se você decidiu voltar a estudar ou retomar um relacionamento, essa vontade deve vir acompanhada de uma disposição bem diferente daquela que a fez aposentar os livros ou se afastar do parceiro. “Do contrário, a desistência vai se repetir”, ela avisa.

Repetir o mesmo padrão de comportamento, além de cansativo, enfraquece a forma de nos posicionarmos no mundo. “Quando ficamos presos a uma ideia, nos enrijecemos e nossa energia é rapidamente consumida por esse estado mental”, esclarece Celina.

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