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Márcia de Luca: Faça seu melhor

Márcia De Luca é especialista em ioga, meditação, ayurveda e uma das idealizadoras do movimento Yoga pela Paz. Também assina a coluna Coisas da Alma, da revista CLAUDIA.

Por Texto: Márcia de Luca
Atualizado em 14 dez 2016, 12h20 - Publicado em 18 nov 2013, 18h52
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Certo dia um discípulo foi até um templo budista e perguntou ao mestre quanto tempo levaria para atingir a iluminação se meditasse três horas por dia. “Talvez dez anos”, respondeu o sábio. Pensando, então, que poderia fazer mais e melhor o discípulo indagou quanto tempo levaria para se tornar um iluminado se meditasse não três, mas oito horas por dia. A resposta veio com sinceridade: “Talvez o dobro do tempo, 20 anos. Pois você não está aqui para se sacrificar, para prejudicar sua alegria de viver. Você veio ao mundo para viver, amar e ser feliz”. Don Miguel Ruiz, um mestre xamã mexicano da tradição tolteca, ensina o mesmo, numa frase lapidar. Devemos seguir preceitos universais de boa conduta e um deles é: “Faça sempre o seu melhor. Nem mais nem menos”. Fazer o nosso melhor é dedicar-se, sim, mas nunca a ponto de sacrificar saúde, humor ou até as relações. Pense no seguinte: quando nos excedemos na energia que entregamos, estamos sendo injustos com nosso corpo e mente porque isso representa um desgaste. Por outro lado, quando vamos aquém do que poderíamos, no fundo pode pairar a dúvida: se tivéssemos nos empenhado um pouco mais, não seria mais honesto?

Ao fazermos o nosso melhor, vivemos a vida da maneira mais plena, mais completa, somos produtivos na medida certa. Evitamos a culpa, o remorso. E nos tornamos livres… Existe ainda outro aspecto importante a ser considerado quando levamos a sério o ensinamento do “faça o seu melhor”. E ele está diretamente relacionado ao respeito aos nossos limites, nossas limitações. Porque, afinal, somos todos imperfeitos. E existe uma dualidade em cada ser humano que nunca pode ser desconsiderada: o divino e o diabólico; o santo e o profano; o bem e o mal; a luz e a sombra. Estamos aqui para evoluir e, garanto, não existe melhor maneira de se conquistar um estágio após o outro do que sendo coerente com o compromisso de dar o que podemos, aceitando as características inerentes ao nosso ser. Esse é um hábito maravilhoso a ser cultivado e posto em prática. Intenção, disciplina e tempo fazem parte desse processo. Conforme você faz o seu melhor, o risco de errar, de usar inadequadamente o poder da palavra e de pressupor coisas não verdadeiras diminuem e naturalmente nossa mente se acalma, minimizando ansiedades e angústias.

Estar ciente de que estamos dando o nosso melhor propicia ainda uma transformação interior e uma jornada em direção ao autoconhecimento. Não há mistério. Basta entender cada ação como um pequeno ritual no qual você coloca sua atenção para atingir uma assertividade maior. E lembre-se: água mole em pedra dura tanto bate até que fura. Para criarmos um hábito novo é preciso iniciar um ciclo forte e coeso de repetições a fim de que essa memória fique gravada em nossas células permanentemente. Se em vez de três horas de prática, você meditar por oito horas, provavelmente se cansará, desistirá e gerará um estresse desnecessário. Se aprender a fazer simplesmente o seu melhor, dentro dos seus limites, você ainda terá tempo de viver, amar e ser feliz.

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