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Descubra o poder das fragâncias

O cheirinho bom desperta um mundo de sensações e traz conforto para a casa.

Por Texto Luciana Jardim | Fotos Evelyn Muller | Produção visual Michele Moulatlet
Atualizado em 14 dez 2016, 11h51 - Publicado em 18 out 2013, 20h39

É profundo o laço entre o olfato e o afeto. Quando inalado, o aroma atinge o sistema límbico, centro responsável pelas emoções no cérebro. Rapidamente somos levados a uma ocasião especial, a uma época distante. “O cérebro possui a habilidade de processar e recuperar mais de dez mil odores diferentes. Isso explica por que cada encontro aromático que temos transmite mensagens, evocando memórias com efeito de longo alcance sobre nossa consciência”, escreve Mary Beth Janssen no livro Pleasure Healings (New Harbinger). Em casa, o cheirinho bom também entra em cena para afagar os sentidos, seja num momento de recolhimento, seja numa celebração. Ao receber os amigos, por exemplo, montamos a mesa com esmero, colocamos a música em um volume suave. E o aroma agradável no ar anuncia a todos que são bem-vindos. “Quando perfumamos os ambientes inconscientemente invocamos o belo. A essência conecta o espaço e o anfitrião à alegria do encontro”, diz Neide Munhoz Albano, perfumista natural. Se as fragrâncias têm origem em óleos essenciais, tanto melhor. Extraídos da destilação de plantas, flores, ervas, cascas e raízes, eles são usados na aromaterapia para tratamento físico, mental e emocional, pois os princípios ativos das plantas têm poder curativo. Os produtos sintéticos – por não conter os princípios ativos naturais – não apresentam benefícios terapêuticos. Ainda assim mexem com a nossa memória, pois uma fragrância pode trazer lembranças e proporcionar prazer por ser agradável. “As moléculas que traduzem o cheiro característico de uma planta, embora copiadas nos laboratórios com base em substâncias químicas, podem até imitar um aroma, mas não possuem as propriedades curativas de uma planta”, explica a aromacologista Sylvia de Seganttini.

Resgate da delicadeza

Com a agenda repleta de compromissos, entramos no piloto automático e com frequência perdemos a conexão com os sentidos. Uma pausa se faz necessária para resgatar a delicadeza e preencher a rotina com momentos prazerosos. E o uso de essências dentro de casa cria uma atmosfera reconfortante. “É uma maneira de desfrutar das coisas simples e boas da vida, um gesto de carinho consigo e com o outro”, diz a aromaterapeuta Samia Maluf. “O cheiro que agrada ao olfato traduz o que o corpo e a alma precisam”, revela. Segundo Sylvia, as principais famílias aromáticas são divididas em frutos cítricos (laranja e limão), florais (rosa e lavanda), amadeirados (pinho e cedro), especiarias (canela, pimenta), herbais (hortelã e alecrim) e rizomas (gengibre). Como existe uma miríade de opções no universo olfativo, vale anotar as sensações despertadas para fazer a escolha, que é sempre muito pessoal. Costumamos sentir de maneira imediata o desconforto quando um aroma não agrada, causando enjoo e dor de cabeça. E, por isso, ele deve ser evitado. “Aromas doces como florais ou gourmands (baunilha, canela e chocolate) podem ser mais enjoativos do que os cítricos. Mas é uma questão de gosto”, conta Neide. De acordo com Renata Ashcar, autora do livro Brasilessência: A Cultura do Perfume (Best Seller), os florais são a família olfativa preferida das pessoas. Em locais onde se reúnem mais gente, como a sala de estar, indicam-se essências acolhedoras como florais ou amadeirados. Na cozinha, vão bem os energéticos cítricos, além de menta, cravo e canela. Uma opção para o quarto é o relaxante óleo essencial de lavanda, que induz ao sono. Já sândalo, jasmim e rosa inspiram o romantismo e a sensualidade. Os herbais, por sua vez, aumentam a concentraçãode quem trabalha em casa.

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Passado e presente

Nos tempos antigos, as receitas elaboradas com ingredientes naturais afastavam doenças e odores desagradáveis dentro dos lares. “O pomme d’ambre ou maçã de âmbar consistia em espetar cravos em uma maçã ou laranja e pendurar a fruta com um laço de cetim na cozinha a fim de perfumá-la”, conta Neide. As mulheres também jogavam pétalas de flores no chão. Ao pisar sobre as plantas, os odores se dissipavam pelos ambientes. Ainda nos encantamos em preparar fórmulas para deixar a casa cheirosa, porém cada vez mais surgem opções de produtos prontos que estimulam o olfato. Muitos apresentam formatos tão lindos que merecem ficar à vista e expostos como objetos decorativos. “Perfumar a casa é uma tendência que cresce no país. Dados do instituto de pesquisa Euromonitor mostram que em 2010 o mercado brasileiro era responsável por um faturamento de US$ 110 milhões”, diz Renata. Com tantas opções, é hora de escolher a fragrância preferida. Existem diversas maneiras de incorporá-la nos ambientes para criar uma experiência sensorial marcante. “Abra um pouco as janelas para arejar o espaço e trazer frescor antes de aromatizar. As moléculas das fragrâncias se fixam em madeiras e tecidos. Por isso, uma ou duas borrifadas bastam para perfumar o ambiente”, sugere Samia. Já as varetas de bambu ou madeira de difusores precisam ser invertidas de tempos em tempos para que absorvam a essência. No réchaud cerâmico, é uma pequena vela que esquenta o óleo essencial. E os difusores elétricos são práticos, pois basta conectálos em uma tomada. Colocados próximos a janelas, os aromatizadores espalham melhor os odores pelo espaço. Os cuidados ao usar esses produtos são mínimos, mas necessários, pois alguns apresentam substâncias, como álcool, que podem manchar móveis e tecidos. Há opções especiais para borrifar no enxoval e para passar roupa.

Também fique atento à chama das velas e às fórmulas que contêm álcool por questões de segurança. Levados esses pontos em consideração, é hora de relaxar e criar uma atmosfera perfumada. A casa onde emana uma fragrância gostosa é lugar que convida ao bem-estar. O cheirinho bom abraça os moradores e simboliza o conforto intangível, tão importante quanto o que pode ser tocado.

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