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Como sobreviver em um escritório sem paredes?

Falta de paredes cria a sensação de que todos estão disponíveis o tempo todo.

Por Claudia Gasparini, de EXAME.com
Atualizado em 20 dez 2016, 18h31 - Publicado em 20 mar 2015, 16h49
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São Paulo – Risadas, conversas em voz alta e interrupções frequentes são parte da rotina de quem trabalha em escritórios abertos.De fora, o ambiente parece leve e descontraído, mas a agitação cobra um preço alto quando o assunto é produtividade.Segundo a revista Scientific American, a exposição ao ruído atrapalha a concentração e diminui a memória. O barulho também aumenta a incidência de estresse e de problemas relacionados a ele, como enxaqueca, úlceras e até pressão alta.

Mas quando – e, principalmente, por quê – começamos a trabalhar em escritórios abertos? De acordo com Rubens Pimentel, sócio da Ynner Treinamentos, a ideia de remover as paredes dos escritórios surgiu entre os anos 1970 e 1980, com o intuito de promover o trabalho colaborativo. Na época, a novidade trouxe ganhos importantes. A queda das barreiras físicas permitiu que colegas conversassem e tomassem decisões de forma menos burocrática. Resultado: menos reuniões, mais agilidade.

A situação mudou de figura com a popularização da internet e das tecnologias de comunicação. “Passamos a ser invadidos por e-mails, mensagens e notificações, e transferimos essa cultura da interrupção para o nosso comportamento”, diz Rubens. Em termos práticos, isso significa que um colega de trabalho ansioso não vai pensar duas vezes antes de ir até a sua mesa para tirar uma dúvida – mesmo se você estiver profundamente concentrado na sua tarefa. O desperdício de tempo não é pequeno. Após uma ruptura de atenção, demoramos cerca de 23 minutos para voltar à nossa tarefa original, segundo Gloria Mark, especialista em distração digital ouvida pelo The Wall Street Journal.

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Mar de olhos e ouvidos

Em parte, o problema das interrupções nos escritórios abertos decorre da sensação de que todos estão disponíveis o tempo todo. Mas há um lado bom nessa arquitetura: a proximidade física também se torna simbólica.Isso porque a ausência de barreira transmite uma ideia de hierarquia suavizada. “As pessoas se sentem mais à vontade para falar com seus superiores se não há paredes entre eles” diz a coach Silvana Mello, da consultoria LHH|DBM.

Por outro lado, o mesmo design que aproxima as pessoas também pode sufocá-las. “Como todos veem e escutam todos, muitas pessoas se sentem observadas, invadidas, sem privacidade para falar ao telefone, por exemplo”, diz ela.Não é paranoia: a sensação de monitoramento prejudica a satisfação com o trabalho e até o desempenho profissional, de acordo com um artigo publicado no periódico Academy of Management Journal.

O que fazer? 

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Driblar os problemas da vida em espaço aberto não é fácil. Existem soluções imediatas, como ouvir música com fones de ouvido ou “fugir” para espaços mais silenciosos, como salas de reunião vazias.Rubens também menciona algumas saídas “radicais” que podem ajudar os mais desesperados.A primeira delas é trabalhar de casa. “É uma opção muito boa, se houver essa abertura por parte do empregador”, diz ele.

O problema é que, por razões culturais, o home office ainda é adotado por poucas empresas no Brasil.Também é possível ir ao escritório em horários alternativos. “Vejo cada vez mais executivos trabalhando à noite, porque não conseguem se concentrar nas horas comerciais”, comenta Rubens. “É uma solução bastante frequente, mas não acho saudável sacrificar esse tempo”.

O ideal, segundo Silvana, é que as providências venham do próprio empregador. Para ela, a empresa deveria determinar um código de convívio, em que deixe claro o comportamento esperado no ambiente de trabalho.E se não há uma regra formalmente estabelecida? Só resta negociar. “Vale conversar com a pessoa que está atrapalhando você, sempre de forma calma e assertiva, para evitar conflitos”, afirma Rubens.De qualquer forma, a resposta definitiva ao problema cabe à empresa. “Algumas atividades profissionais têm ganhos com ambientes abertos”, diz o especialista. “Os gestores precisam avaliar, caso a caso, se há benefício real na configuração”.No caso das áreas que funcionam melhor em espaços fechados, a única solução possível é também a mais óbvia: devolver as sagradas paredes a elas.

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